Projeto parte da linguagem científica para o aprendizado em sala de aula

Projeto parte da linguagem científica para o aprendizado em sala de aula

Reflexão sobre a mais adequada maneira de garantir a aprendizagem de sua Ciência, tanto no Ensino Superior quanto Médio, passa pela linguagem

Há muitos anos o professor Henrique Cesar Estevan Ballestero (Departamento de Física) tem pensado sobre a mais adequada maneira de garantir a aprendizagem de sua Ciência, tanto no Ensino Superior quanto Médio. Esta reflexão passa pela Linguagem, e acabou se transformando num projeto de pesquisa, em execução há mais de um ano, intitulado “Aprendizado de Linguagens Científicas”.

Com toda sua formação superior na UEL, da graduação em Licenciatura Plena a dois pós-doutorados, e atuação em várias instituições, Henrique tem uma trajetória delineada em torno desta temática. O projeto, especificamente, começou a nascer após seu Doutorado, quando defendeu a Tese “Aprendizagem significativa da linguagem física em um curso de Introdução à Mecânica Clássica no Ensino Superior”.

Henrique recorreu a filósofos como os alemães Rudolf Carnap (1891-1970) e Thomas Khun (1922-1996), além do linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) para fundamentar seus estudos. Também encontrou em Lev Vigotsky (1896-1934) e Jean Piaget (1896-1980) ferramentas para tratar da construção do conhecimento de Física pelos estudantes.

A convergência dos pensamentos destes e outros autores levou Henrique a aplicar conceitos como o de “ostensão” (Khun). Em termos de Linguística, designa uma inferência, algo que aponta para uma ideia, um significado. No caso do professor de Física, refere-se a uma estratégia de ensino a partir do todo, em que as partes são entendidas em função dele, não em si. Assim, uma fórmula, por exemplo, é aprendida em seu todo, não cada componente. Desta forma, quando qualquer de suas partes se modificar (porque são vetores, ou seja, variáveis), a compreensão permanece, porque tudo é reconhecido na totalidade, ou seja, numa perspectiva holística.

Um exemplo pode ser visto na simples fórmula F = m.a (Força é igual a massa vezes aceleração). Não se trata se decorar cada elemento, mas entender que, na realidade concreta, modificações em um ou outro alteram esta realidade. Compreender que, sendo constante a aceleração, é preciso aplicar mais força para afetar mais massa – para deslocar um objeto, por exemplo.

Este modelo implica ainda em estabelecer um diálogo entre quem domina melhor a linguagem com aqueles que dominam menos. Mas, lembra Henrique, não necessariamente esta relação é sempre entre professor e alunos. Não raro, um estudante colabora com o outro numa interação que leva ao aprendizado, e dali à resolução de problemas propostos nas disciplinas.

Physiquelic

Conforme relata o professor Henrique, já existia o ELIC – Grupo de Estudos de Linguagem Científica. Desde 2022, passou a contar também o Physiquelic, específico da Física, atuando no Programa de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF). A UEL oferece esta formação avaliada com nota 5 pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

O fruto de todas estas ações, na avaliação do coordenador do projeto, é constatar uma sala de aula cheia de alunos, atentos, interessados, participantes e interagindo com seus pares. Considerando as preocupantes taxas de evasão ou falta de interesse |(em vestibulares) em cursos como o de Física (ou Geografia, História, Letras, Química e Matemática), é uma boa notícia.

Além de Henrique, o projeto conta com a participação de outros três docentes do Departamento de Fisica e três mestrandos, com bolsas da CAPES ou da Fundação Araucária. Também se enquadra no ODS 4 (Educação de Qualidade).

Quanto ao professor Henrique, ele caminha para o seu terceiro pós-doutorado, e prepara a publicação de resultados do mais recente, sobre Metacognição (compreensão e acompanhamento da capacidade de aprender) e a chamada Actor Network Theory (ANT). Com viés construtivista, a Teoria Ator-Rede defende que o “ator” é definido a partir o papel que representa e no efeito que assim causa em função das conexões que estabelece com tudo à sua volta (pessoas, coisas, instituições, etc.).

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