Da confeitaria à inteligência artificial: UEL e Unipar levam conhecimento prático a Barra do Jacaré e Quatiguá
Da confeitaria à inteligência artificial: UEL e Unipar levam conhecimento prático a Barra do Jacaré e Quatiguá
Instituições prepararam atividades voltadas ao fortalecimento da saúde e ao empreendedorismo.Barra do Jacaré é uma pequena cidade ao Norte Pioneiro do Paraná, com 1.720 habitantes (IBGE/2022), em sua maioria idosos e crianças. O município enfrenta um isolamento geográfico, distante de centros de capacitação. A agricultura de subsistência e o artesanato compõem as principais fontes de renda da cidade. Tendo em vista este panorama, a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Universidade Paranaense (Unipar), somaram forças para levar oficinas ao município por meio da Operação Rondon.
Com equipes multidisciplinares, envolvendo estudantes de Psicologia, Odontologia, Sistema de Dados, Educação Física, Farmácia, Enfermagem, Biologia e Direito, as instituições prepararam atividades voltadas ao fortalecimento da saúde e ao empreendedorismo.
Segundo Bárbara Brunini, professora e coordenadora de equipe, o grupo tem a percepção sobre a importância do trabalho em rede e, a partir de sua estadia, levantará dados e fará proposições ao poder público local.
“Temos a consciência e o direcionamento, de não apenas acolher e ouvir, mas também traduzir esses dados para a questão de análise. E não só apenas para a coleta das nossas informações, mas também para levantamento, tanto epidemiológico, como também na área de saúde, para a rede. A escuta é feita, mas daqui a uma semana nós vamos embora, o que será feito dessa escuta, então? Esses dados estão sendo tabulados e trazidos para a Secretaria da saúde, e eles então, estão transportando isso para os estabelecimentos que são de responsabilidade, Secretaria de Educação, Assistência Social e Conselho Tutelar.”

Empreendedorismo feminino
A oficina de Confeitaria é um dos diferenciais trazidos pelas universidades à Barra do Jacaré. O design de sobrancelhas e a confecção de bonecas abayomi também se somam à programação no sentido de fortalecer a autonomia de mães, donas de casa e jovens.
Gleice Elen Penga é estudante de Direito e confeiteira. Trouxe à Operação a oficina de confeitaria. Para ela, os momentos na cozinha são a ponte para descarregar emoções. Dentre a programação, Gleice trará receitas que vendem, como comercializá-las, como tirar fotos e fazer embalagens que chamam atenção. O foco é o público jovem e as mulheres mães, donas de casas ou mulheres que trabalham fora e querem estar dentro de casa e abrir o próprio negócio.

Na concepção da oficina, Gleice também considerou as mulheres que sofrem violência doméstica. “Uma das violências que mais acontecem é a violência patrimonial. “Você não vai trabalhar. Você não precisa trabalhar”, e nisso, a mulher fica dependente. Como sair desse relacionamento abusivo quando não se tem um trabalho? Então, é uma forma de driblar”, afirma. Muitos cônjuges não deixam a mulher trabalhar fora, mas elas podem começar a trabalhar em casa. E com a renda, podem começar a refletir sobre o fim deste ciclo de violências.
Diálogo com a comunidade
Maria de Lourdes Porto é zeladora aposentada. Já atuou na prefeitura, na delegacia e em escolas. Passou por uma infância dura, ao lado de 13 irmãos. O pai sofria com o alcoolismo. Aos 67 anos, teve a trajetória marcada por muitos problemas de saúde e o luto por quem morreu de covid. Maria de Lourdes frequenta e muito a saúde local, mas encontrou na Operação Rondon, em um momento de escalda pés, a escuta atenta à sua história de vida e às suas questões existenciais.
“Eu quero que vocês venham sempre, porque eu gostei muito. Eu quero que todos gostem. Todos. Fiz um escalda pés, com sal grosso, porque elas disseram que é bom ter o sal, porque combate o feitiço”, relatou bem-humorada.

A barrense deixou um recado aos rondonistas: “Meus parabéns, continuem sempre O que vocês fizerem de bom, vocês estão ganhando. Vocês não estão perdendo nada. Não escolhe ninguém não. Seja qual for a pessoa, até a mais sujinha assim. Atendam com boa vontade, nem que suje a roupa de vocês. Porque nós viemos do pó e vamos para o pó”, finaliza.
Em meio à entrevista, comentando sobre os seus lutos, Maria de Lourdes relatou que “prefere receber flores em vida”. As rondonistas presentes se mobilizaram em um gesto: colheram e entregaram flores à aposentada.
Divulgação comunitária
Para realizar as ações com êxito e alcançar o máximo possível de público, as instituições têm contado com o apoio da divulgação local. Carro de som, panfletagem, informações boca a boca e mensagens em grupos de WhatsApp.
“A população da área rural também está acolhendo. Então hoje, a Operação Rondon, não seria nada sem o auxílio da comunidade. São eles que estão sendo os nossos chamarizes, o nosso bate porta, aquela voz que leva a nossa presença para Barra do Jacaré”, comenta Brunini.
Arte, cultura e saúde em Quatiguá
Quatiguá, outra cidade atendida pela UEL e Unipar, está a quase 70 km de Barra do Jacaré. O município possui 8.099 habitantes (IBGE/2022) e a equipe rondonista, em sua maioria, é composta por estudantes que cursam graduação na área da saúde. Alunos de Direito e Arquitetura se somam à equipe.
Quatiguá solicitou oficinas direcionadas a idosos, como por exemplo, sobre a automedicação segura, bem como atividades relacionadas à saúde de gestantes, da mulher e trabalhos com a população vulnerável do Projeto Piá.
A coordenadora Fernanda Ferreira destaca a prevenção de zoonoses, que são doenças infecciosas, a exemplo da sarna. “Nós ficamos sabendo que existem muitos casos de escabiose, que é uma zoonose transmitida por cão”, informa.
Trazendo um panorama geral, a programação incorpora desde a “segurança dos alimentos à parte cultural: teremos teatros, pintura, vamos ter uma parte artística bem incrementada, faremos a implementação de uma horta, vamos trabalhar com as mulheres”, explica Ferreira. Oficinas de sabonete, massa fresca, rodas de conversa sobre violência e ISTs integram a proposta dos rondonistas para o município.
Apoio do poder público
Jacarezinho e Santo Antônio da Platina são as referências mais próximas de Quatiguá quando se fala em ensino superior. A vinda da extensão universitária é uma novidade, segundo o vice-prefeito Chrystian Reis Galvão Coser. “A Operação Rondon, para nós, é uma grata surpresa. Traz benefícios para o município, movimenta a cidade. A gente vê todos os focos que o município tem. Pessoas em situação de vulnerabilidade, também aqueles que precisam de informações. Então, vem contribuir com o município em vários sentidos, na saúde, na educação”, afirma Coser.
O Secretário de Cultura quatiguaense, Valter Luiz Chiusoli, pensa que: “vai ser uma divisão de conhecimentos, e eu friso muito bem isso. Para a gente, os rondonistas vão deixar saudades. E vão levar o currículo com eles, né?”, afirma.

O vice-prefeito contou à reportagem acerca do apoio proferido pela prefeita Izilda: “ela determinou que todos participassem, principalmente os secretariados, os cargos em comissão”. As atividades têm sido divulgadas nas redes sociais da parlamentar.
Operação Rondon Paraná 2025
A Operação Rondon Paraná 2025 acontece no Norte Pioneiro entre 10 e 22 de julho e é um programa de ações multidisciplinares de ensino, pesquisa e extensão, realizadas de forma interinstitucional em municípios paranaenses que apresentem desafios. O evento é financiado pelo Governo do Estado e coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti-PR).
Ao todo, quatorze cidades serão atendidas com oficinas e trabalhos de formação nas áreas de cultura, educação, saúde, meio ambiente, tecnologia e trabalho: Cornélio Procópio, Leópolis, Barra do Jacaré, Quatiguá, Nova Fátima, Nova América da Colina, Nova Santa Bárbara, Congonhinhas, Santa Amélia, São Sebastião da Amoreira, Rancho Alegre, Joaquim Távora, Guapirama e Itambaracá.
As oficinas do Projeto Rondon 2025 vão ficar a cargo de professores e alunos de sete universidades estaduais: Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universidade Estadual de Maringá (UEM); Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste); Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro); Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP); e Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Junto a elas no trabalho, estarão as universidades parceiras: Universidade Paranaense (Unipar); Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), câmpus Francisco Beltrão e Ponta Grossa; Centro Universitário de Cascavel (Univel); Centro Universitário Ingá (Uningá), de Maringá; Instituto Superior do Litoral do Paraná (Insulpar); Faculdade de Apucarana (FAP).
(*Bolsista na Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade, integrante da equipe de Comunicação Projeto Rondon 2025).