É só o conteúdo das redes sociais ou o nosso foco também está ficando curto?

É só o conteúdo das redes sociais ou o nosso foco também está ficando curto?

O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Neurociências Motoras da UEL, sob a orientação de Victor Okazaki

Quando foi a última vez que você assistiu a um vídeo com mais de dois minutos de duração, ou conseguiu fazer qualquer tarefa sem sentir vontade de abrir aplicativos como Instagram ou Tik Tok? Ao investigar como o consumo desse tipo de vídeo afeta a atividade cerebral, o Laboratório de Neurociências Motoras da UEL (NEMO) vem desenvolvendo trabalhos que buscam encontrar as respostas. Com a crescente popularidade desse formato e o aumento do consumo de vídeos curtos, como os do TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts, surgem preocupações sobre os efeitos que a hiperestimulação visual possui no cérebro humano e sua possível associação com problemas de atenção e foco.

Segundo a Demand Sage, cerca de 200 bilhões de Reels são visualizados diariamente ao redor do mundo (incluindo Facebook e Instagram), número que é aproximadamente 24,7 vezes maior do que toda a população do planeta, enquanto o YouTube Shorts atingiu cerca de 2 bilhões de usuários mensais em 2025. Já o Tik Tok possui cerca de 1,5 bilhão de usuários ativos e tem no Brasil seu terceiro maior público, que corresponde a 92 milhões de usuários, segundo levantamento feito pela Search Logistics.

A equipe, sob a orientação do professor Victor Okazaki (Departamento de Estudo do Movimento Humano/CEFE), é composta por Daniel Zemuner da St. James International School, Emillayne Passos do Instituto Federal do Paraná e Felipe Furtado (alunos de Iniciação Científica Júnior), Moisés Savela que é bolsista CNPq, José Cardoso que é bolsista pela Fundação Araucária (alunos de Iniciação Científica) e pelo mestrando Matheus Gamberini, do Programa de Pós-Graduação em Educação Física UEM/UEL. A participação de alunos de IC e IC jr no trabalho, acontece através de um projeto de extensão, coordenado por Okazaki, voltado a alunos do Ensino Médio.

Efeitos no Cérebro

O estudo utilizou eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade cerebral de participantes enquanto eles realizavam diferentes tarefas: assistir a vídeos curtos, ler, escrever e traduzir um texto codificado. Os resultados revelaram um padrão neural específico ao assistir aos vídeos curtos: uma ativação significativamente maior da onda cerebral Beta 1 na região occipital esquerda do cérebro. Esta região é responsável por processar e interpretar o conteúdo visto pelos olhos e as ondas cerebrais beta variam entre 12 e 30 Hz e estão relacionadas à atenção, foco e pensamento.

Essa ativação revelada na EEG é interpretada como um sinal de hiperestimulação visual, diferente do que ocorre em tarefas cognitivas tradicionais que exigem processamento mais lento e integrado. A pesquisa sugere que o consumo desse tipo de conteúdo promove padrões de ativação cerebral ligados a uma atenção dispersa e ao consumo passivo, o que pode possuir efeitos prejudiciais à capacidade de manter o foco em tarefas que exigem concentração prolongada.

Fórum Científico

Felipe Furtado, aluno de Iniciação Científica Jr. e membro do grupo de trabalho, foi quem apresentou, no London International Youth Science Forum (LIYSF) a pesquisa do grupo, intitulada “Effects of Short-Form Content on the Human Brain”, que pode ser traduzido como “Efeitos do Conteúdo Curto no Cérebro Humano”.

A participação de Furtado no evento reforça o compromisso da UEL e de seus projetos de extensão em formar e incentivar a próxima geração de cientistas, já a partir do Ensino Médio. “Quero continuar pesquisando e mostrando que a Ciência pode transformar vidas”, finaliza o pesquisador.

Com o aumento do consumo de mídias rápidas, especialmente entre jovens, entender seus efeitos no cérebro é crucial. Os resultados do NEMO reforçam a necessidade de um uso consciente dessas plataformas, evitando possíveis impactos negativos na atenção e no aprendizado. “Levar essa discussão para um fórum internacional mostra que o Brasil está produzindo Ciência de qualidade, mesmo com recursos limitados. É um orgulho para a UEL e para a educação pública”, destaca Victor Okazaki, orientador do projeto.

(*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.)

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