Estudo da UEL vai monitorar animais da Mata Atlântica
Estudo da UEL vai monitorar animais da Mata Atlântica
Imagens colhidas pelas câmeras servirão para desenvolver softwares que vão auxiliar o trabalho dos pesquisadoresA Mata Atlântica possui hoje apenas 11% da sua extensão original e a fragmentação da floresta diminui a presença de animais causando impactos no ecossistema, como a desregulação da dispersão de sementes, além de ser responsável pela perda de até 80% de mamíferos de grande e médio porte. Um projeto da Universidade Estadual de Londrina (UEL) propõe fazer uma avaliação da conservação da biodiversidade e acompanhar o processo de restauração (reflorestamento) ecológica nos sítios de restauração, além de contribuir para melhorar as técnicas e logísticas desse tipo de pesquisa, com ações como o desenvolvimento de softwares específicos para a catalogação de mamíferos nessas matas.
Trata-se do projeto “Avaliação de comunidade de mamíferos em fragmentos florestais e sítios de reflorestamento da Mata Atlântica”, coordenado pelo professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL, Marcos Robalinho Lima, que focará no registro dos mamíferos em fragmentos florestais (restos originais de determinado tipo de floresta) e sítios de restauração (mata plantada artificialmente) da Mata Atlântica, mais especificamente no Sítio PELD-MANP (Pesquisa Ecológica de Longa Duração – Mata Atlântica do Norte do Paraná), que abriga vários fragmentos florestais no Norte do Estado.
Os registros dos mamíferos serão feitos por 45 armadilhas fotográficas (câmeras) empregadas para produzir vídeos nos locais de estudo. As máquinas ficarão operantes 24 horas por dia e serão instaladas em trilhas das matas, nas quais permanecerão por cerca de quatro meses. Os registros servirão para avaliar diferenças de riqueza e diversidade de mamíferos e a composição da fauna para determinar as similaridades e diferenças entre os dois tipos de habitat: fragmento florestal e sítios de restauração.
Com essas informações, será possível avaliar se a evolução dos reflorestamentos está sendo bem-sucedida, se ela está reproduzindo a mesma composição e riqueza de espécies mamíferas nos fragmentos florestais. As análises serão úteis também para determinar se os reflorestamentos estão cumprindo o papel de aumentar o habitat disponível para as espécies e identificar quais têm utilizado os reflorestamentos com frequência, além de distinguir quais mamíferos são mais adaptados aos fragmentos florestais e quais usam mais os sítios de reflorestamento.

As informações colhidas pelas câmeras demandarão um extenso trabalho para catalogá-las, ou seja, para identificar quais animais aparecem nos vídeos, em que dias e horários, bem como a frequência com que aparecem e em quais locais. Esta dificuldade de catalogação nesse tipo de estudo é comum e, para tentar amenizá-la, o projeto prevê o desenvolvimento de um conjunto de softwares para detectar automaticamente a presença ou não de mamíferos em cada vídeo captado, o que economizaria o tempo dos pesquisadores, que atualmente executam esse trabalho manualmente.
Através da metodologia do aprendizado de máquinas, utilizando o treinamento de algoritmos com base nas informações obtidas nos vídeos, serão possíveis análises e predições, o que facilitará o desenvolvimento de futuras pesquisas. Isso é importante porque esse tipo de monitoramento leva muitos anos para obter resultados cientificamente relevantes, o que torna necessário o desenvolvimento de tecnologias que facilitam as pesquisas. “A gente espera que o programa não só fale quais vídeos têm mamíferos, mas também que nos dê outros dados numa tabela pronta, com data, hora e localização”, afirma o professor.

Outras iniciativas do estudo poderão contribuir para facilitar futuras pesquisas na área. Uma delas prevê o monitoramento de javalis na Mata dos Godoy. Nos últimos anos, esta espécie invasora tem ocupado o parque, trazendo incômodos e, por um tempo, o local ficou restrito para o trabalho de pesquisadores por conta disso. Com o acompanhamento feito pelas câmeras, será possível identificar os pontos em que os javalis mais frequentam, possibilitando elaborar um protocolo de segurança para determinar os locais e horários com a menor chance de encontrá-los, o que facilitará as atividades de pesquisa.
Outro objetivo é avaliar e monitorar mudanças na diversidade funcional de mamíferos de médio e grande porte em ambientes de fragmentos florestais. Segundo Marcos Robalinho, esse tipo de avaliação é importante para predizer o que pode acontecer no ecossistema a partir de determinados comportamentos dos animais. “Se eu consigo mostrar que a anta está usando essas áreas de reflorestamento, muito provavelmente ela pode estar também dispersando sementes de algumas plantas numa área de reflorestamento, o que poderia aumentar ou acelerar o processo de restauração”, explica o professor.
Segundo Marcos Robalinho, a importância do projeto tem uma dimensão de mudança de perspectiva sobre a abordagem dos problemas ambientais. “Quando se pensa em mudanças climáticas, e se fala que se reflorestarmos, vamos tirar carbono da atmosfera, por exemplo. Mas não seria melhor se estivéssemos próximos dos fragmentos, pensando em plantas que atraem, em animais dispersores de sementes, será que isso aceleraria o processo de restauração, do que simplesmente plantar e ir embora?”, questiona o professor, e complementa: “E ao mesmo tempo, ao monitorarmos as funções dos mamíferos, nós conseguiríamos perceber se estamos melhorando, se a restauração está evoluindo ou não, se estamos conseguindo manter as funções, porque elas podem ser perdidas mesmo tendo esses sítios de restauração refeitos”, alerta.

O projeto foi recentemente contemplado no Programa Bolsas de Produtividade em Pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Conta com a parceria da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), através do professor Diego Bertolini Goncalves, que será responsável por desenvolver a metodologia de aprendizagem de máquinas a ser aplicada aos vídeos obtidos pelas câmeras.