Estudo avalia dietas alternativas e melhoria da água na produção de tilápias
Estudo avalia dietas alternativas e melhoria da água na produção de tilápias
O uso de farinhas alternativas na alimentação e de microrganismos na limpeza da água podem aumentar a produção na pisciculturaO Brasil é um dos maiores produtores de tilápia do mundo e o Paraná é o maior produtor do país. Um dos desafios na piscicultura é aumentar a produtividade ao mesmo tempo em que se promova uma atividade ambientalmente sustentável. Para equalizar essa questão, o projeto “Impacto do Uso de Farinhas Alternativas e Biorremediadores Inovadores na Tilapicultura: Caminhos Sustentáveis para o Desenvolvimento Produtivo e Ambiental”, coordenado pelo professor do Departamento de Zootecnia da UEL, Nelson Maurício Lopera Barrero, tem soluções inovadoras.
Embora muitas vezes seja vista como uma atividade simples, a piscicultura exige planejamento e manejo cuidadoso. Não se trata apenas de colocar alevinos em um viveiro ou tanque e aguardar o crescimento para comercialização. É uma atividade que demanda atenção constante, especialmente quanto à alimentação dos peixes e à gestão da qualidade da água. O manejo adequado dos efluentes é essencial para evitar desequilíbrios no ambiente de cultivo e nas áreas próximas. Além disso, o setor requer o uso de grandes volumes de água e insumos de alto custo, como a ração, o que torna a produção um investimento que precisa ser bem administrado para garantir bons resultados.
O projeto visa debelar esses obstáculos focando na qualidade da alimentação dos peixes e da água dos tanques de criação. A alimentação pode chegar a até 80% do total dos custos da atividade, portanto é fundamental usar proteínas baratas, além de digestíveis e sustentáveis. O projeto aposta numa solução com uso de farinhas alternativas, a de insetos e a de carne proveniente do curtimento de couros.
As farinhas serão usadas em experimentos separados, avaliando os impactos de cada uma dessas fontes proteicas, não só nas características de desempenho da tilápia-do-Nilo, mas em outros parâmetros, como hematológicos, bioquímicos e imunológicos, índice hepatossomático, composição corporal, histologia, atividade das enzimas digestivas e microbiota intestinal. Esse rol multidisciplinar de análises por si só já diferencia o projeto de outras pesquisas do gênero que avaliam o efeito da inserção dessas farinhas apenas ao nível de desempenho dos peixes. “Vamos fazer como se fosse um check-up médico, uma avaliação global do peixe. E vamos ver se o peixe cresce e se teve uma melhor conversão alimentar, ou seja, se ele transformou com melhor eficiência o alimento consumido em maior ganho de peso e rendimento”, comenta Nelson Lopera.
“Criamos água”
Já para a qualidade da água, o projeto utiliza uma estratégia que pode maximizar o desempenho dos peixes, além de preservar o meio ambiente. Trata-se do uso dos biorremediadores, produtos constituídos de microrganismos, como bactérias, que têm a propriedade de degradar substâncias poluentes no meio ambiente. Os biorremediadores podem melhorar a qualidade da água degradando matéria orgânica, reduzindo compostos tóxicos como amônia e nitrito, contribuindo para o equilíbrio microbiológico, sustentabilidade ambiental e a manutenção de condições ideais para a criação da tilápia-do-Nilo.
Uma melhor qualidade da água produzida pelos biorremediadores terá impacto também nos peixes, por isso os mesmos parâmetros de avaliação empregados no uso das farinhas serão mensurados nos experimentos com os biorremediadores, além de uma aferição específica na água, que envolve análise de sólidos suspensos, demanda química de oxigênio e a quantidade total de fósforo. “Uma frase que muitos de nós pesquisadores da área de aquicultura falamos é que nós não criamos peixe, nós criamos água. Porque sem a água de boa qualidade e boa quantidade, é impossível criar o peixe”, ilustra o professor.

Algumas espécies de bactérias usadas em biorremediadores, como por exemplo as nitrificantes, desempenham um papel crucial na piscicultura ao degradar e transformar compostos nitrogenados tóxicos, como a amônia e o nitrito, em formas menos prejudiciais, como o nitrato, garantindo a qualidade da água e a saúde dos peixes. No projeto, diversos tipos de bactérias serão utilizadas, como as que conseguem degradar matéria orgânica, as que melhoram a qualidade do pH da água, entre outras, fazendo com que o biorremediador se comporte como um agente ambiental multifuncional, atuando na qualidade da água em várias frentes.
Com esses três experimentos (uso das duas farinhas e dos biorremediadores) espera-se obter resultados que recomendem práticas alimentares e de manejo que maximizem o desempenho dos peixes (ganho de peso, taxa de crescimento, sobrevivência etc.) e minimizem os impactos ambientais da piscicultura, já que essas farinhas são altamente digestíveis e sustentáveis.
Além disso, espera-se que o uso das farinhas alternativas traga um benefício econômico na tilapicultura, já que normalmente nessa atividade se utiliza farinha de peixe, cada vez mais menos disponível e mais onerosa. A composição exata dos microrganismos que integrarão os biorremediadores está sob sigilo, mas o que se pode adiantar é que o produto fará uma melhora dos parâmetros da água de forma mais acelerada, o que também diminui os custos de produção. “Os biorremediadores servem para acelerar esse processo. O objetivo é que aquela água que vai escoar na fonte fluvial seja a mais limpa possível. O intuito da piscicultura é que a água que sai do processo de criação seja da mesma qualidade da água que entra. Isso é o ideal”, explica Nelson Lopera.
O projeto, que conta com bolsistas de iniciação científica, de Mestrado e Doutorado, foi contemplado no Programa Bolsas de Produtividade em Pesquisa pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto vai ao encontro do item 12 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Consumo e Produção Responsáveis – da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), já que contribui para a economia circular, reforçando a responsabilidade socioambiental desse importante setor produtivo do país.
