Pesquisa usa quercetina como aliada ao tratamento da doença de Crohn
Pesquisa usa quercetina como aliada ao tratamento da doença de Crohn
Fatores ambientais, como tabagismo, baixa ingestão de fibra alimentar e alta ingestão de gordura podem contribuir para o acometimento e progressão da doençaA doença de Crohn afeta o trato gastrointestinal do portador, principalmente, a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon). Ela é progressiva, não curável por tratamento clínico ou cirúrgico e leva à diarréia, cólica abdominal e até sangramento retal, com possível perda de peso e apetite.
Fatores ambientais, como tabagismo, baixa ingestão de fibra alimentar e alta ingestão de gordura podem contribuir sinergicamente para o acometimento e progressão da doença, porém, a causa não está totalmente esclarecida.
Visto que a condição se caracteriza como uma doença crônica inflamatória e com a presença de vários distúrbios que afetam o estado nutricional, a utilização da quercetina pode funcionar como estratégia na melhora da inflamação e do estresse oxidativo nos pacientes e, possivelmente, melhorar sua qualidade de vida.
A ideia é estudada com afinco desde 2022 pela Profa Dra Danielle Venturini, do Departamento de Patologia, Análises Clínicas e Toxicológicas (PAC) do Centro de Ciências da Saúde (CCS). A pesquisadora atua no programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Laboratorial da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Benefícios da quercetina
A pesquisa é intitulada “Avaliação da suplementação da quercetina na melhora dos parâmetros antropométricos, inflamatórios, metabólicos e do estado redox em pacientes com doença de Crohn”.
A quercetina é um componente bioativo pertencente ao grupo dos flavonoides naturais. É encontrada em várias fontes alimentares, incluindo couves, cebolas, frutas vermelhas, maçãs, uvas vermelhas, brócolis, cerejas, sementes, nozes e em chás e vinho tinto.
Possui muitas propriedades biológicas, como atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antibacterianas, antivirais, gastroprotetoras e imunomoduladoras, bem como a capacidade de estimular biogênese mitocondrial e inibir peroxidação lipídica, agregação plaquetária e permeabilidade capilar, explicou a pesquisadora.
Parâmetros e estado redox
Doenças inflamatórias crônicas cursam com o aumento do estresse oxidativo, estado na qual substâncias oxidantes estão aumentadas e as defesas antioxidantes diminuídas, causando um desequilíbrio no estado redox. “Para avaliar a condição, temos padronizado no nosso laboratório diversas técnicas que utilizamos com bastante frequência nas nossas pesquisas científicas”, indicou Venturini.
Os recursos incluem a formação de lipoperóxidos e capacidade antioxidante total plasmática, além da determinação dos produtos avançados de oxidação proteica, de metabólitos de óxido nítrico, da superóxido dismutase, da catalase e de grupamento sulfidrila.
Ao longo dos últimos três anos, já foi realizado o desenvolvimento das cápsulas com quercetina, a convocação de pacientes com doença de Crohn, coleta de material biológico e análises bioquímicas e de estresse oxidativo no material coletado. Dos 53 portadores participantes, 27 receberam cápsulas com quercetina e 26 as receberam com placebo. No momento, os resultados estão sendo analisados e avaliados estatisticamente.

Finalidade e próximos passos
O projeto objetiva mostrar que a quercetina, devido ao seu potencial antioxidante e anti-inflamatório comprovado, possa ser um adjuvante farmacológico no tratamento de pacientes com doença de Crohn.
“Espera-se que a suplementação com quercetina seja capaz de melhorar a inflamação e o desequilíbrio redox nesses pacientes, além de promover melhora nos marcadores metabólicos e antropométricos. Espera-se também que o estudo possa contribuir para a geração de novos estudos acerca da doença de Crohn e seu tratamento com flavonoides”, informou Venturini..
A pesquisadora pontuou que, após a comprovação dos benefícios esperados com o uso do componente, “nossa ação será orientar os pacientes a continuarem a fazer uso da quercetina, seja como um nutracêutico (cápsulas), seja fazendo uso de alimentos ricos em quercetina”. A previsão de finalização do estudo é janeiro de 2026.
Reconhecimento
O projeto foi um dos 15 estudos da UEL contemplados com o “Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico”, promovido pela Fundação Araucária.
O incentivo foi concedido a pesquisadores com comprovada excelência na produção dos projetos que desenvolvem. Trata-se de um importante reconhecimento da qualidade das pesquisas produzidas na instituição.
*Bolsista na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
