UEL é centro de referência em toxoplasmose no Brasil

UEL é centro de referência em toxoplasmose no Brasil

Estudos e ações são desenvolvidos junto à Secretaria de Saúde de Londrina, Secretaria Estadual da Saúde e Ministério da Saúde.

Quando um surto de toxoplasmose foi identificado no antigo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) em Londrina, em 2015, um grupo de pesquisadores da UEL investigou o caso. Inicialmente, a suspeita era a contaminação da água, mas com a aplicação de questionários junto aos funcionários e análise de amostras a origem do surto foi detectada: verduras contaminadas. Este é apenas um caso em que o Centro de Referência em Toxoplasmose Humana e Animal da UEL atuou diretamente.

Já são mais de 40 anos de pesquisa com zoonoses e atuação na área pública, junto à Secretaria de Saúde de Londrina, Secretaria Estadual da Saúde e Ministério da Saúde. Os estudos se iniciaram com o professor Odilon Vidotto, depois prosseguiram com o professor Italmar Teodorico Navarro, do Departamento de Medicina Veterinária e Preventiva (DMVP) – Centro de Ciências Agrárias (CCA) – e deram sequência com estudantes de iniciação científica e pós-graduação, e demais professores e pesquisadores, entre eles, Regina Mitsuka Breganó, diretora do Hospital Veterinário (HV), Roberta Lemos Freire e João Luis Garcia, também professores do DMVP.

Integrantes do Centro de Referência em Toxoplasmose Humana e Animal da UEL (da esquerda para a direita): Diretora do HV, professora Regina Breganó, professor Italmar Nascimento, professor João Luís Garcia e o professor aposentado Odilon Vidotto.

Durante este período, o grupo interdisciplinar formado por professores do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva do CCA e do Centro de Ciências da Saúde (CCS), e a parceria com outras instituições, desenvolveu, por exemplo, o Programa de Vigilância da toxoplasmose em gestantes e crianças, implantado em 2006, primeiro no município de Londrina e depois em mais sete municípios do Paraná.

O êxito neste programa foi reconhecido pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Saúde do Paraná, tornando-se referência para estes órgãos. No primeiro ano de implantação, os números já foram significativos. “Tivemos diminuição de mais de 60% dos casos”, afirma Regina Breganó, que ainda completa: “Toda essa experiência fez com que nos tornássemos referência. Tudo o que estudamos tem reflexo para a população”.

Outros dois trabalhos de grande relevância realizados junto ao Ministério da Saúde foram a elaboração do “Protocolo de notificação e investigação: Toxoplasmose gestacional e congênita”, em 2018, e Protocolos para investigação de Toxoplasma gondii em amostras ambientais e alimentares”, concluído em 2020.

Gato não transmite

Regina Breganó fala em saúde única – one health – uma tríade que avalia humanos, animais e ambiente. Por isso, reitera que o gato não pode ser o único fator a ser avaliado para a doença.  Ela cita o caso de uma gestante que foi orientada a doar o próprio animal pelo risco de toxoplasmose. A professora afirma que, por morar em apartamento e só comer ração, o felino tinha pouca chance de ser infectado. Como nesse ambiente, a limpeza da caixinha de areia com as fezes é constante, as condições para o desenvolvimento do protozoário eram pequenas, daí a importância de conhecer a cadeia de transmissão do parasita, para poder passar informações seguras e confiáveis.

A professora afirma que, atualmente, 50% da população têm a infecção, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, porém a maioria são casos crônicos sem sintomatologia. Ela cita a diferença entre as cepas brasileiras e as da Europa e América do Norte, onde três genótipos são os mais comuns. No Brasil, essa diversidade é muito maior, com as cepas mais agressivas e ainda requer estudos.

Transmissão

Tanto humanos quanto animais podem contrair esse protozoário das seguintes formas: via oral, com ingestão alimentos contaminados, como frutas, verduras e água, e pela ingestão de carnes de animais contaminados. Ou via uterina, pela transmissão através da placenta da mãe ao bebê causando a toxoplasmose congênita, que causa alterações na visão, audição, retardo mental e até o óbito.

Outro grupo suscetível às infecções graves são os pacientes imunodeprimidos, aqueles que estão com o sistema imunológico baixo. Nesses casos, há agravamento para um processo de infecção crônica, causando um quadro grave de neurotoxoplasmose. O Centro de Referência da UEL também é responsável pelo diagnóstico molecular, por PCR, de amostras desses pacientes.

Recursos para projetos

Recentemente, foram liberados R$ 400 mil pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (PRONEX), da Fundação Araucária, para as pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Referência da UEL, cadastrado atualmente como Centro Avançado de Pesquisa em Toxoplasmose Humana e Animal.

Outros dois projetos são financiados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um deles, coordenado pelo professor Italmar Navarro, juntamente com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), recebeu R$ 160 mil para o projeto de pesquisa “Desenvolvimento e validação de imunoensaios aplicados ao diagnóstico da toxoplasmose aguda na gestante e congênita”.

Outro projeto é o “Curso de Treinamento para Profissionais da Saúde em Toxoplasmose na modalidade de ensino a distância”, que recebeu R$ 100 mil. Ele é coordenado por Regina Breganó e tem participação da Rede Brasileira de Pesquisa em Toxoplasmose, formada por especialistas de todo o país.

A equipe multiprofissional é formada pelos professores:  Roberta Lemos Freire, João Luis Garcia, Eloiza Teles Caldart e Fernanda Pinto Ferreira, do CCA; Jaqueline Dario Capobiango, Marcelo Casella, Inácio Teruo Inoue, Zuleica Naomi Tano, Edna Edna Maria Vissoci Reiche, do CCS. As instituições parceiras são: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Paranaense (UNIPAR), Universidade de Maringá (UEM), entre outras.

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