Uma mãozinha para a Natureza
Uma mãozinha para a Natureza
Ações extensionistas oferecem apoio técnico para restauração e manejo de vegetação nativa em propriedades rurais e reservas indígenas da região.Os antigos diziam que a melhor maneira de preservar a Natureza é não mexer com ela. Até certo ponto, ela tem capacidade de curar a si mesma. Quando a ação antrópica (humana) é forte demais para isso, entram iniciativas como o projeto de extensão “Restauração ecológica e adequação ambiental na zona rural”, coordenado pelo professor José Marcelo Domingues Torezan, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (CCB).
Iniciado em 2021, o projeto sucede e unifica outros, com os mesmos objetivos, e faz parte do Labre (Laboratório de Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas), que existe há quase um quarto de século e desenvolve pesquisa, extensão e capacitação para formação de recursos humanos que atuam diretamente com a restauração ecológica. Para tanto, o Laboratório busca entender como as mudanças no clima e nas paisagens afetam os ecossistemas (tanto remanescentes de Mata Atlântica quanto sítios de restauração), e como a pesquisa em Ecologia pode contribuir para melhores práticas de conservação e reflorestamento. O projeto atua tanto sob demanda da comunidade quanto por iniciativas próprias.
O professor José Marcelo explica que, desde 2010, houve queda expressiva na demanda, mais ainda a partir da vigência do novo Código Florestal (Lei 12.651, de 25 de maio de 2012), que alterou certas exigências para conservação dos recursos naturais. Por outro lado, criou o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Trata-se de um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório a todos os imóveis rurais, para integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais referentes às Áreas de Preservação Permanente (APP), de uso restrito, de Reserva Legal, de remanescentes de florestas e demais formas de vegetação nativa. O objetivo é compor uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Ainda assim, a falta de fiscalização efetiva e mesmo o desconhecimento da lei e de técnicas podem levar ao descumprimento da legislação. “Não houve tanta adesão”, resume o professor. A boa notícia, segundo ele, é que tem havido ações de recuperação na zona rural, em parte por causa do maior acesso a recursos financeiros que garantem investimentos neste sentido.
José Marcelo destaca também projetos como o Cuia (Comissão Universidade para os Indígenas), que existe há mais de 15 anos. É um exemplo de esforço multidisciplinar (que reúne, por exemplo, Serviço Social e Biologia) que atua na prática. Uma das iniciativas bem sucedidas foi visando a preservação de uma nascente na reserva Apucaraninha, que tem indígenas estudando na UEL. Plantio de árvores e outras técnicas foram propostas e adotadas, além de orientações, como aquela antiga de deixar a Natureza agir.
O projeto realiza um diagnóstico formal das condições locais onde vai atuar, o que inclui uma descrição geral (ecológica, econômica etc.): existem espécies invasoras? Que atividades econômicas são ou planejam ser desenvolvidas? Que animais existem por lá (gado, silvestres)? A partir daí são pensadas ações, mas tudo após orientações e reflexões. Por exemplo, o coordenador informou que no momento a comunidade indígena discute e decide que rumos tomar. “O componente social é autônomo e o projeto trabalha conforme as necessidades e decisões da comunidade”, afirma José Marcelo.
Outras iniciativas, em assentamentos rurais, dizem respeito aos processos de certificação de produtos orgânicos. Entre as exigências para ela (além das dimensões agrícola e trabalhista), é preciso demonstrar uma regularidade ambiental. Da mesma forma, o projeto orienta e apoia os cuidados para o cumprimento das regras referentes às áreas de proteção e de reserva legal. Mas há problemas neste último caso, salienta o professor. É que a área exigida depende do bioma, o que gera alguma discussão.
Oficinas e cursos
Outras ações do projeto são as oficinas e cursos para as comunidades atendidas. Em todos, um foco é sempre enfatizado: olhar para a Natureza. Também materiais de apoio, como folhetos de orientação, têm sido produzidos, mas o professor José Marcelo diz que um material específico para a comunidade, mais acessível, está sendo elaborado. Ainda para os estudantes participantes, é oferecida uma disciplina especial de restauração ecológica. O projeto conta também com mestrandos e doutorandos, bolsistas da Capes. Quanto à curricularização da extensão, o professor lembra que o curso de Biologia acabou de aprovar o novo currículo e ele tem participado formalmente da discussão do assunto no Centro de Ciências Biológicas.