Foco na formação política e pedagógica

Foco na formação política e pedagógica

Projeto busca experiências formativas para construir uma visão de mundo crítica e perspectivas emancipadoras, tanto para estudantes quanto para a comunidade.

Entusiasta da educação libertadora e com toda sua trajetória acadêmica neste caminho, a professora Adriana Medeiros Farias (Departamento de Educação) aproveitou a confluência de experiências anteriores em pesquisa e extensão para criar o projeto “Núcleo Práxis Educativas Populares”, em execução há pouco mais de um ano. Mestre e doutora em Educação pela Universidade de Campinas (Unicamp) e pós-doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ela integra o Fórum Paranaense de Educação de Jovens e Adultos e lidera o Grupo de Pesquisa em Educação, Estado Ampliado e Hegemonias (GPEH).

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é Jornal-Noticia-1024x265.jpg
Edição número 1424
de outubro de 2023
Confira a edição completa

O projeto parte da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, a fim de construir experiências educativas que criem uma aproximação e um diálogo entre os estudantes de Pedagogia e a comunidade, particularmente as escolas e os movimentos sociais e populares, assim como em assentamentos e acampamentos.
Como a professora explicou, tais iniciativas têm sido desenvolvidas há muito tempo. Num projeto de extensão anterior, que durou de 2013 a 2017, foi feito um trabalho com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), envolvendo não apenas a Pedagogia, mas a Comunicação, Medicina, Geociências, Biologia, História e Serviço Social. Entre outros produtos, o projeto anterior gerou um livro: “Diálogos formativos com o campo” (2019).

Já o Núcleo representa uma confluência das ações do Fórum de EJA, GPEH e ainda o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do Ministério da Educação. Como conta a professora, trata-se de fazer extensão com a comunidade, usando experiências formativas num trabalho coletivo e num diálogo entre Universidade e comunidade, propiciando assim uma formação crítica dos estudantes.

Para isso, o projeto adota uma perspectiva histórico-dialética e a pedagogia socialista. A primeira garante uma visão histórica das contradições da sociedade humana subjacentes às injustiças sociais. A segunda vê a escola e a educação como um espaço tanto de formação quanto de prática social, da realidade concreta, e não ideais burgueses. O suporte teórico vem de pensadores russos como Anton Makarenko, ou o italiano Antonio Gramsci, ou ainda os latino-americanos Oscar Jara (peruano radicado na Costa Rica), José Carlos Mariátegui (Peru), Rosa María Torres (equatoriana radicada na Argentina), e os brasileiros Paulo Freire (1921-1997) e Conceição Paludo (UFRGS), que morreu em maio deste ano.

“Uma formação política significa um posicionamento no mundo, uma concepção de mundo, de Humanidade e de educação. Conhecer práticas sociais é ter contato com um posicionamento claro das comunidades”, avalia a professora Adriana.

Práxis

Na prática, que ações educativas o projeto desenvolve nas comunidades? Quase tudo: cursos, oficinas, produção de materiais, debates, palestras, lives, formações variadas. E o que ainda não foi feito já foi iniciado ou está nos planos, como criar conteúdos para redes sociais. A professora Adriana lembra da participação de outros cursos no projeto anterior, e já pensa neste, em que Veterinária, Agronomia e Comunicação, entre outros, podem atuar. Ela destaca a realização de formações para educadores, que já envolveu a APP/Sindicato e o CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos). Outro destaque da coordenadora é o necessário debate sobre a chamada “empresariação” da escola pública, ou seja, a imposição – ideológica, gerencial, etc. – da lógica empresarial no ensino público.

Para a professora, um debate como este alcança a própria noção de extensão. “A extensão não está nas comunidades”. Com esta afirmação, ela contesta o modelo extensionista que na verdade não passa de assistencialismo. Para ela, a extensão tem sido “secundarizada” (relegada a segundo plano), ao passo que deveria ser pesado fator na formação profissional, mas com outro olhar. Não tem sido fácil, mas ela diz que o Fórum tem conseguido realizar algumas discussões, inclusive com o Ministério Público. “O Fórum de pró-reitores de extensão tem conseguido avançar e ir além da visão ‘rondonista’, inclusive emplacando e fortalecendo políticas públicas, como o Proext”, comenta. O Proext é um Programa de Extensão Universitária do MEC que apoia, com bolsas, o desenvolvimento de ações extensionistas. Com os cortes do governo federal em anos passados, a UEL perdeu em infraestrutura (transporte) e política de permanência (bolsas).

Visão de Mundo

“Foco na formação política e pedagógica” não é só o título da matéria, mas uma ideia central do projeto, afirma Adriana. “Uma formação política significa um posicionamento no mundo, uma concepção de mundo, de Humanidade e de educação. Conhecer práticas sociais é ter contato com um posicionamento claro das comunidades”, avalia. É uma questão de os alunos se verem como pedagogos (ou outros profissionais que eventualmente participam), fazerem uma leitura crítica e uma análise autônoma da realidade e das demandas sociais, terem consciência de classe e praticarem uma atuação “militante”, que busca a emancipação.

Atualmente, a professora Adriana conta com quatro alunas de graduação de Pedagogia, dos quais duas são bolsistas de Iniciação Científica (Capes) e uma é do PIBID. Outras duas são da pós-graduação, uma com bolsa da Capes.

Divulgação.
Leia também