Projeto de Formação Complementar sobre violência intrafamiliar completa 14 anos
Projeto de Formação Complementar sobre violência intrafamiliar completa 14 anos
Estudos renderam teses, dissertações, artigos e formaram dezenas de profissionais para lidar com questões, que afetam gerações de famílias brasileiras.O projeto de Pesquisa e Ensino “Violência intrafamiliar: caracterização e intervenção” completa 14 anos de atividades ininterruptas, contabilizando dezenas de estudos que resultam no mapeamento desse fenômeno brutal que assola famílias brasileiras. Além de artigos, teses, dissertações e capítulos de livros, nestes anos dezenas de estudantes tiveram acesso a informações complementares e se tornaram profissionais inseridos na área clínica com olhar diferenciado para entender essas questões, bem como no sistema judiciário, levando melhor compreensão sobre temas recorrentes que passam pela violência contra a mulher, contra as minorias, adolescentes em conflito com a lei, só para citar casos comuns do universo da criminalidade.
Informações publicadas no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023, dão dimensão sobre o contorno do prejuízo social e econômico da violência durante 2022. O documento aponta quase um milhão de roubos de celulares; 200 mil registros de fraude eletrônica; e 47.508 assassinatos, 76,5% com ao menos uma arma de fogo. Em 2022, o Brasil registrou o equivalente a metade das vítimas da Guerra entre Ucrânia e Rússia, o que também se reflete num prejuízo claro para a Previdência Social, com pensões, indenizações, auxílio-reclusão e custo de assistência médica e psicológica dos sobreviventes e seus descendentes.
O coordenador do projeto, professor Alex Gallo, do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento (CCB), afirma que a iniciativa mantém desde 2010 o foco na formação complementar de estudantes de psicologia e de áreas afins. O objetivo, nesse caso, é gerar profissionais com competência para analisar as demandas provenientes do fenômeno da violência.
Segundo o professor, a temática relacionada à família se justifica porque todas as ramificações do comportamento agressivo têm origem e retornam ao contexto familiar.
“Muito da agressividade é aprendida dentro da família, em que também se absorve as estratégias de resolução de conflitos, de direitos humanos, respeito, diversidade. Para pensar em uma intervenção é preciso, antes, considerar o contexto familiar, em que é possível fazer essa prevenção”.
Professor Alex Gallo, coordenador do Projeto de Formação Continuada.
Para o professor, a repreensão não traz resultados. Ele assegura que construir presídios para encarcerar indivíduos envolvidos com crime não provoca a redução do fenômeno. A prevenção, pontua ele, está na ação concreta de propiciar condições adequadas à vida. “É necessário pensar em resolver o problema antes que ele aconteça. Criar condições para não ter de lidar com o homem agressivo para a esposa, para que a criança não seja abusada. Trabalhando com a família para evitar o produto final lá na ponta”, destaca.
Confira parte da entrevista com o professor abaixo:
Questão geracional
De acordo com o professor, além de considerar a importância da família, o combate e a prevenção da violência social estão relacionados diretamente com o restabelecimento dos direitos de cidadãos. Ele cita um estudo clássico, longitudinal, feito pelo pesquisador inglês Patrick Farrington, que acompanhou durante anos casos de adultos encarcerados, avaliando posteriormente os filhos dessas pessoas. O pesquisador constatou uma probabilidade de 98% de ter uma segunda geração presa, repetindo o fenômeno da violência como um ciclo. Para o professor Alex Gallo, a reversão do problema só é possível acompanhando e assistindo aos filhos no sentido de impedir novos casos de violência, para que esses meninos não percorram o mesmo caminho.
De acordo com o professor, um dos pilares antiviolência é a educação. Países como Canadá e Finlândia tem grande volume de estudos publicados que demonstram experiências significativas de redução de crimes a partir do investimento em educação. Sobre o grave problema envolvendo tráfico e consumo de drogas, que assola grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, o caminho, aponta ele, é o desenvolvimento da conhecida Política de Redução de Danos.
Experiências do gênero foram colocadas em prática na Inglaterra e Alemanha, nos anos 1980, com bons resultados. “Impedir o consumo não vai adiantar. Mesmo encaminhando um dependente a uma comunidade terapêutica, muito certamente ele retornará ao uso”, destaca o professor.