Projeto da História estuda repercussões do Tratado da Aliança na Bacia Platina
Projeto da História estuda repercussões do Tratado da Aliança na Bacia Platina
Coordenado pelo professor José Miguel Arias Neto, a pesquisa desvenda eventos que mudaram as fronteiras da América Latina nos últimos séculos.Há quase 160 anos, o Império Brasileiro, em conjunto com a República Oriental do Uruguai, e a Confederação Argentina, assinavam em segredo uma aliança que transformaria desde as fronteiras às relações internacionais dos países da América Latina. O Tratado da Tríplice Aliança, assinado em maio de 1865, aliava as três nações contra o Paraguai. O documento veio a ser o ponto de convergência de conflitos e desdobramentos na região da Bacia Platina que mudaram os rumos das nações em formação.
O coordenador do projeto de pesquisa, professor José Miguel Arias Neto, do Departamento de História (CLCH), busca compreender as dinâmicas e percursos da Guerra do Prata, o Tratado da Tríplice Aliança e seus respingos na história que se sucedeu. O projeto de pesquisa ‘O Tratado da Tríplice Aliança: Diplomacia e Guerra no Prata’, iniciado ano passado, pretende desvendar o “olho do furacão” de uma maneira distinta da historiografia.
Entre história e relações internacionais
Arias conta que a iniciativa de estudar o tratado e seu desenrolar surgiu na época de seu doutorado. Recentemente, quando recebeu um convite para participar do livro “O Legado de Marte: olhares múltiplos sobre a Guerra do Paraguai”, decidiu se aprofundar no assunto.
Segundo o pesquisador, uma das grandes discussões sobre o período tem relação com as cláusulas que estabeleciam as fronteiras dos Estados no pós-guerra. “Esse tratado é muito interessante na medida em que o Brasil promete para a Argentina no pós-guerra uma fatia imensa do território paraguaio, de modo que a Argentina ainda faria fronteira com o Brasil no estado do Mato Grosso (hoje Mato Grosso do Sul)”.
Depois da guerra, no entanto, o Brasil voltou atrás, iniciando um período de tensões com a Argentina que se arrastaria até 1870. Mesmo assim, as questões fronteiriças entre Brasil, Argentina e Paraguai só tiveram seu fim no século XX. “A recorrência sempre era o Tratado da Aliança e suas estipulações”, explica Arias.
No projeto, o Tratado é, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada: ele resulta de um intrincado conjunto de relações na Bacia Platina e germina uma cadeia de desdobramentos na região. “Temos muita tensão com o que era o Brasil, a República Oriental do Uruguai e as Províncias Unidas do Rio da Prata (Confederação Argentina). Por conta disso é que eu acabei me interessando em estudar esse processo”, conta.
Contra uma questão maniqueísta
Arias se atém ao estudo tanto da constituição do Tratado quanto dos desdobramentos que envolvem a discussão de fronteiras. “É o objeto da pesquisa, mas ela vai tratar de como as relações internacionais e a definição das fronteiras se colocam na América do Sul”. Ao retratar os conflitos na Bacia Platina, a historiografia contribuiu para a difusão do ideário de que o Brasil cumpriu suas promessas e manteve a integridade territorial. Para o professor, “a história não foi bem assim”.
Com a pesquisa, Arias busca quebrar a “visão maniqueísta” que a historiografia solidificou através do anos. “O projeto demanda que eu faça muitas viagens; para o Rio de Janeiro, para trabalhar com a documentação do Itamaraty; Assunção, para trabalhar com a documentação do Paraguai, justamente para evitar essa questão maniqueísta. Ideias como a de que o Brasil fez uma missão civilizatória, ou que o Paraguai era uma barbárie são visões maniqueístas da guerra”.
Estudar esse recorte da história interessa ao pesquisador por ser uma oportunidade de “mostrar a guerra, o Tratado e as relações como um processo de formação dos Estados, e portanto, processos políticos”.
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.