Alunos da UEL criam materiais e espaço de memória no Assentamento Eli Vive

Alunos da UEL criam materiais e espaço de memória no Assentamento Eli Vive

Ações foram desenvolvidas por envolvidos no projeto Práxis Itinerante, do CLCH.

Por definição, o conjunto de memórias construídas por populações e fatos que vieram a se tornar históricos pode ser definido pelo termo “Memórias Históricas”. Neste conceito, a oralidade é ferramenta indissociável do trabalho desenvolvido por qualquer agente que assume o papel de investigador social. Foi com o intuito de resgatar as memórias históricas do maior assentamento localizado em uma região metropolitana do País, o Assentamento Eli Vive, que um grupo de estudantes da UEL deixou suas pegadas sob o solo onde toneladas de hortaliças, grãos, café e leite rendem sustento e dignidade para 500 famílias. As ações foram coordenadas pelo projeto de extensão Práxis Itinerante, desenvolvido no Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH) da UEL. 

Egresso do curso de Ciências Sociais João Guilherme Aldegueri, 23, esteve envolvido no trabalho de pesquisa e produção dos materiais – acervo fotográfico, quadros e um mural, desde o início do projeto, em 2023. O objetivo inicial, conta, foi criar um espaço que resgatasse as memórias da antiga escola do assentamento utilizando, também, materiais da própria infraestrutura.

“Eles pediram para trabalharmos com fotos da comunidade e para fazermos um mural na escola nova que eles estão construindo, para preservar a questão da memória histórica e oral também porque tem algumas pessoas mais velhas que a memória vai se perdendo”, conta. 

A partir da seleção e digitalização de fotos antigas cedidas pelos moradores, ele e o estudante de Ciências Sociais da UEL e designer Alexsander Barbosa, 23, iniciaram o desenvolvimento do espaço de memória. Os materiais ficarão expostos na escola que está sendo construída no assentamento Eli Vive e que irá se chamar “Trabalho Saber”.  

Fruto importante deste trabalho, o mural no formato de banner com mais de três metros de comprimento apresenta os principais fatos históricos, tendo como fio condutor a luta encampada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) desde a sua fundação, em 1984, em Cascavel. Dentre os principais acontecimentos estão a morte do líder sem-terra Eli Dallemole, referência para o nome do assentamento, e a inauguração da Escola Itinerante Maria Aparecida Rosignol Franciosi, em 2009, ano da ocupação nas áreas das fazendas Guairacá e Pininga, que totalizam 7,3 mil hectares. Contendo datas comemorativas, o mural não deixa de registrar da visita do então candidato à presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022. 

Alexsander Barbosa, Maria Fernanda Gonçalves, Tiago Daniel Ramos, Ana Lima, Maíra Mascarenhas, Ana Beatriz da Silva e João Guilherme Aldegueri e a linha do tempo (Fotos: Agência UEL).

Voluntário no projeto Práxis Itinerante, o estudante Alexsander Barbosa foi responsável pela elaboração do projeto gráfico deste e de outros materiais que ainda serão desenvolvidos. “No ponto de vista pessoal, creio que o trabalho do designer é muito importante até para a questão social. Vemos muitos trabalhos para empresas e organizações em vários sentidos, então fazer um trabalho para o MST, que é um dos maiores movimentos da América Latina, se não o maior, pra mim foi sensacional”, define. 

No mesmo sentido, o egresso da UEL João Guilherme Aldegueri avalia que a oportunidade foi muito importante para a sua trajetória acadêmica. Isso porque pretende continuar os estudos na área de Antropologia Social e Cultural no mestrado e no doutorado. Dentre os seus maiores objetivos está o de se tornar docente e atuar na formação de recursos humanos. “Na graduação, mesmo no estágio obrigatório, até temos a oportunidade de lidar com comunidades periféricas, mas não tão distantes como nesse caso. Com o MST, na graduação, só teríamos a oportunidade se fosse por meio de algum projeto, então eu acho que foi uma experiência muito rica neste sentido”, conclui.     

Alexsander Barbosa e João Guilherme Aldegueri atuaram na elaboração dos materiais juntos aos moradores do Assentamento Eli Vive.
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