Encontro sela projeto de redes digitais e cultura indígena, no Cesa
Encontro sela projeto de redes digitais e cultura indígena, no Cesa
Programação reuniu caciques e lideranças indígenas das terras do Apucaraninha, Barão de Antonina, Laranjinha, Pinhalzinho e Posto Velho, em evento nos dias 3 e 4 de setembro.O projeto de Extensão “Redes digitais e a memória dos sábios e sábias indígenas” foi concluído na última semana, após dois dias de evento no Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa). A iniciativa teve como objetivo registrar e documentar o conhecimento ancestral de lideranças indígenas por meio de produções audiovisuais, proporcionando material pedagógico e formas de empoderamento para as comunidades através das redes sociais digitais.
A programação reuniu caciques e lideranças das terras indígenas do Apucaraninha, Barão de Antonina, Laranjinha, Pinhalzinho e Posto Velho. Eles acompanharam a apresentação dos documentários produzidos com os sábios de suas comunidades e participaram de debates e rodas de conversa sobre os desafios e conquistas desse processo de documentação.
Na terça-feira (3), as atividades começaram com uma retrospectiva das oficinas audiovisuais realizadas em cada um dos territórios. No período da tarde, foram exibidos os vídeos com as entrevistas dos sábios indicados por suas respectivas comunidades.
Alexandro da Silva, guarani, diretor da escola indígena do Posto Velho, destacou a relevância da integração entre o conhecimento acadêmico e indígena, citando o poema de Márcia Kambeba: “A construção do conhecimento é uma teia, que liga a tua cidade com minha aldeia”. Para ele, esse processo é fundamental, pois permite que a universidade reconheça a diversidade dos saberes indígenas, ressaltando que “nosso conhecimento é científico também, nos manteve resistentes até hoje”.
O segundo dia do evento, quarta-feira (4), foi marcado por discussões sobre a
continuidade do projeto, seu impacto nas comunidades e o valor das mídias
digitais para difundir o conhecimento indígena.
Ariany Sales, kaingang, estudante de direito pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), relembrou os desafios enfrentados pelas gerações anteriores na preservação de sua cultura. Ela contou como sua avó falava o idioma indígena apenas dentro de casa, mas se recusava a fazê-lo na presença de não-indígenas, por temer que “o que ela falava ali, ele ia ensinar para o não-indígena, e o não-indígena não podia ter a nossa voz, porque senão nossos direitos e nossos costumes iam se perder”.
Impacto e futuro do projeto
Micael Eliabe, comunicador Guarani, destacou que o projeto ajuda a mostrar aos jovens e às crianças indígenas como se proteger e se defender ao saírem de seus territórios, cultivando sua cultura. Ele também falou sobre seu coletivo @djagwa_etxa cujo foco é desenvolver projetos nos territórios indígenas. “Nosso maior compromisso é trazer projetos para dentro dos territórios, não só o meu, mas também os dos outros integrantes, crescendo e estruturando os territórios indígenas”.
O projeto foi coordenado pelo professor Wagner Amaral, do Departamento de Serviço Social (Cesa), que desde 2013 desenvolve projetos com povos indígenas do Norte do Paraná. Também contou com a co-coordenação da professora Mônica Kaseker, do Departamento de Comunicação (Ceca), e da professora Flávia Carvalhaes, do Departamento de Psicologia Social e Institucional (CCB).
Segundo Amaral, “a importância desse projeto que se encerra é ter pautado de forma sólida e reconhecida, para as escolas indígenas aqui do Norte do Paraná, a relevância dos saberes dos anciãos e anciãs”. Ele acrescentou: “O encerramento sinalizou caminhos para que as comunidades possam seguir produzindo materiais audiovisuais, escutando e registrando os saberes dos mais velhos e qualificando o trabalho da escola, fortalecendo o trabalho educativo em cada comunidade.”
Apoio e integração acadêmica
O evento também contou com a participação da Articulação dos Estudantes Indígenas da UEL (Artein), que possibilita a discussão das dificuldades e dos avanços da permanência acadêmica dos indígenas na instituição. Criado em 2019, o coletivo promove ações voltadas a ampliar a presença indígena nos bancos da Universidade.
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.