Pesquisadores desenvolvem materiais biodegradáveis a partir de resíduos agroindustriais

Pesquisadores desenvolvem materiais biodegradáveis a partir de resíduos agroindustriais

Cascas de cana-de-açúcar e farelo de mandioca são alguns dos materiais transformados pela ação de microrganismos e reaproveitados para diferentes finalidades

O professor André Luiz Martinez de Oliveira (Departamento de Bioquímica e Biotecnologia) está à frente de um grupo de pesquisadores que produzem materiais biodegradáveis, para diversos usos, a partir de resíduos da agroindústria transformados pela ação de microrganismos. São resíduos como cascas e farelo que, submetidos a processos físicos e químicos, tornam-se – entre outros exemplos – fertilizantes menos agressivos, evitando o uso de produtos químicos como pesticidas, que podem contaminar o meio ambiente e causar doenças em animais e seres humanos.

Tudo começou em 2016, quando o professor se aproximou de outro grupo de pesquisadores de seu Departamento, que trabalha com polímeros, por exemplo para substituir o plástico e o isopor e reduzir danos ambientais. Deste contato surgiram ideias e possibilidades. Já naquele ano, as pesquisas resultaram em um registro de patente de um produto gerado a partir de cascas de cana e amido de mandioca que, sob a ação de microrganismos selecionados, interagem com o meio ambiente de maneira mais saudável e auxiliam no desenvolvimento de plantas, que criam mais raízes e absorvem mais água e nutrientes do solo. O produto é poroso e se assemelha a uma ração de cachorros ou gatos. O ganho para a atividade agrícola é evidente.

Contemplado mais uma vez com Bolsa Produtividade do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o projeto tem trabalhado com a produção de hidrogéis superabsorventes (de água) e os chamados “plásticos injetáveis” que biodegradam mais rapidamente. O nome vem do processo de injetar microrganismos na produção do material. Duas patentes já foram registradas.

Além disso, os pesquisadores investigam micomateriais para diversos aproveitamentos. O uso de fungos não chega a ser novidade: a indústria da moda vem testando um para criar uma espécie de “couro ecológico”. Também têm sido usados em embalagens e peças de mobília. O fungo escolhido pelos pesquisadores da UEL para as experiências é comum na região, praticamente não é usado como alimento (com exceção de alguns povos originários) e nunca foi testado. De acordo com o professor, até aqui, este fungo está se mostrando melhor que outros já encontrados na literatura, ou seja, em pesquisas anteriores, pois tem maior capacidade de armazenamento de água. Ele informa que um Trabalho de Conclusão de Curso e de Iniciação Científica estão focados neste objeto de estudo. E um pedido de patente deve ser feito em breve.

Alterações climáticas

O fato de o professor mencionar produtos que otimizam a absorção de água pelas plantas não é acaso. O regime de chuvas tem sido visivelmente impactado pelas alterações climáticas, ora causando grande volume de precipitação em pouco tempo, causando enchentes, ora – e mais preocupante para a agricultura – provocando períodos mais longos de estiagem ou redução de chuvas, em intensidade e frequência. Naturalmente, os produtos não são desenvolvidos apenas pensando nestas alterações. “É possível fazer uma aplicação preventiva”, diz o pesquisador, por exemplo, em regiões reconhecidamente mais áridas, como regiões do Nordeste ou Centro-Oeste.

O projeto tem ainda uma novidade nesta fase atual. Em parceria com o Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL (BAV) e Universidade Federal do ABC (SP), novas pesquisas estudam a utilização de nanotecnologia (compostos metálicos) combinados a microrganismos para produzir determinados efeitos positivos nas plantas. Mais que isso, os pesquisadores desejam acompanhar o que acontece com tais compostos depois de assimilados pelas plantas: como eles voltam à Natureza? A ideia é rastreá-los e, como observa o professor André, “juntar as peças”, ou seja, expandir o conhecimento.

Professor André: o fungo escolhido pelos pesquisadores da UEL para as experiências é comum na região, praticamente não é usado como alimento e nunca foi testado.

Recursos e disseminação

Além da Bolsa do CNPq, o projeto conta com recursos da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná, e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Dias atrás, via edital, a Finep liberou 16 milhões de reais.

Atualmente coordenador do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da UEL, o professor conta, no projeto, com um pós-doutorando, um doutorando, um mestrando e um estudante de Iniciação Científica (graduação), todos bolsistas. Além das três patentes, o projeto já publicou trabalhos e tem outros em fase de publicação. Por fim, vale destacar que o projeto está alinhado a quatro Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS/ONU): o 2 (Erradicação da Fome), o 9 (Inovação e Infraestrutura), o 12 (Consumo Responsável) e o 13 (Combate às Mudanças Climáticas).

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