Pesquisa analisa efeitos psicológicos em pessoas que passaram pelo sistema de justiça na infância e adolescência

Pesquisa analisa efeitos psicológicos em pessoas que passaram pelo sistema de justiça na infância e adolescência

Em parceria com o Tribunal de Justiça do Paraná, a pesquisa entrevistou adultos que passaram pelo judiciário e pelo procedimento de “depoimento especial”

A pesquisa de mestrado “Você quer saber desde o começo? Analisando histórias sobre o depoimento especial”, foi defendida em março deste ano, no Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina (UEL). De autoria da psicóloga jurídica Virginia Maria Bernardino, mestre pela UEL, a pesquisas teve como principal objetivo entender os efeitos psicológicos em indivíduos que passaram pelo sistema de justiça em sua infância e adolescência e que tiveram seus depoimentos coletados através do depoimento especial.

Virgínia é psicóloga judiciária desde 2014 e conta como foi o processo de escolha para o tema de sua pesquisa. De acordo com ela, este questionamento sempre esteve presente em sua rotina de trabalho e foi isso que impulsionou a pesquisa. “Desde o início do trabalho isso foi algo que me provocou. Essa atuação, essa prática, sempre me questionei de que maneira isso afetava as pessoas que estavam lá, de que maneira as pessoas experimentam isso, porque não é uma prerrogativa que a gente acesse isso depois” relata.

A pesquisa foi realizada com cinco jovens entre 18 e 22 anos e orientada pela professora Sonia Regina Vargas Mansano, doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Os entrevistados compartilharam detalhadamente as experiências vividas, suas relações com o sistema de justiça e como essas experiências perduram em suas vidas atualmente.

A orientadora explica como é realizado o procedimento do depoimento especial: “a criança ou adolescente é recebido no Judiciário de modo diferencial, em uma sala separada da sala de audiência e na companhia de profissionais aptos para realização da oitiva judicial. Nela, juntamente com a pessoa que conduzirá a entrevista, em geral profissionais da psicologia, a criança ou adolescente é convidada a relatar sobre a violência vivida, enquanto os profissionais do direito acompanham a entrevista por meio de um computador, sem precisar interagir com a vítima ou testemunha”, esclarece Sônia.

Em seus resultados, Virginia aponta que foi possível analisar que todos os indivíduos compartilham de uma complexidade em suas relações com o sistema de justiça e dos serviços que participam do que ela chama de judicialização da vida.

“O que alcançamos nessas entrevistas foi que a relação com o Judiciário tem essa complexidade. Falamos com pessoas que tinham feito o depoimento com quatro anos e se recordam com muita riqueza de detalhes. Então, pensar que fazia muito tempo que algumas dessas pessoas tinham passado por essa experiência e ainda hoje têm essa memória vívida nessa magnitude, nos leva a analisar o quanto esse momento é importante na vida de uma pessoa, dessas pessoas pelo menos. E essa importância tem a ver com muitas coisas. Tem a ver com a expectativa do que vai acontecer depois do que ela falar, tem a ver com a finalização ou não do processo, a condenação ou não, porque muitas dessas pessoas sequer sabiam o que tinha acontecido com o processo”, explica Virgínia.

Pesquisa analisa efeitos em crianças que passaram pelo judiciário
Virginia Maria Bernardino é psicóloga judiciária desde 2014 e defendeu a pesquisa de mestrado “Você quer saber desde o começo? Analisando histórias sobre o depoimento especial”, no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UEL.
Foto: Acervo pessoal

Além disso, Virgínia ressalta que a pesquisa pode engendrar novos estudos sobre o tema, a fim de buscar novas perspectivas para a garantia de direitos e serviços de qualidade a essa população.

(*Estagiária de Jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social).

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