Pesquisa aponta dados sobre inserção profissional de egressos de Mestrados em Saúde Coletiva no Brasil
Pesquisa aponta dados sobre inserção profissional de egressos de Mestrados em Saúde Coletiva no Brasil
Os programas de Mestrado em Saúde Coletiva são fundamentais para a formação de recursos humanos que atuarão na docência, na pesquisa ou diretamente no SUSDos egressos dos programas de Mestrado em Saúde Coletiva no Brasil, 73,2% são mulheres, 72,5% são brancos e cerca de 35% atuaram em algum cargo de gestão após o curso. Esses são alguns dados preliminares levantados pelo estudo “Inserção Profissional de Egressos dos Programas Acadêmicos de Mestrado em Saúde Coletiva do Brasil”, projeto coordenado pelo professor do Departamento de Educação Física da UEL, Mathias Roberto Loch.
Os programas de Mestrado em Saúde Coletiva são fundamentais para a formação de recursos humanos que atuarão na docência, na pesquisa ou diretamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Daí a importância de estudos que apontem informações sobre as trajetórias acadêmicas de estudantes que vivenciaram esses programas para subsidiar ações, não só para o aprimoramento e a evolução dos cursos, mas também da trajetória dos profissionais da área de saúde. Para isso, o levantamento se baseou em 25 programas de todo o país, dois deles do Paraná, um sediado na UEL e outro na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Questionários foram enviados aos egressos que finalizaram seus cursos entre os anos de 2010 e 2024. Um total de 786 responderam à pesquisa.
O estudo não só levantou dados relacionados ao Mestrado e à vida profissional pós-mestrado, mas ainda informações sobre a graduação do público-alvo. Por exemplo: 35% dos entrevistados responderam que em suas graduações aspectos relativos à atuação profissional no SUS foram bem abordados, 26% relataram que esse conteúdo foi razoavelmente abordado, 24,3% disseram que foi pouco abordado e 14,5% responderam que esse assunto não foi abordado. Este dado é importante porque, diferentemente de outros programas acadêmicos de Mestrado, os de Saúde Coletiva possuem uma dupla função: preparar para o mundo acadêmico, voltando-se para a formação de docentes e pesquisadores, e qualificar profissionais para atuar na área da saúde, seja em cargos de gestão, operacionais, ou com atendimento mais direto com os usuários.
“Os programas de Saúde Coletiva recebem muita gente que já atua nos serviços de saúde, então o perfil destes programas é de pessoas que já trabalham no sistema. São secretários de saúde, sujeitos de coordenação de unidades básicas, enfermeiros, médicos, nutricionistas, farmacêuticos etc., que vêm procurar uma qualificação no Mestrado”, exemplifica o professor Mathias Roberto Loch, atualmente vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UEL (PPGSC), iniciado em 1990 e pioneiro na Região Sul do Brasil, numa época em que só havia oito cursos de pós-graduação stricto sensu na área no país. É pertinente mencionar que o projeto está em consonância com item 3 do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Saúde e Bem-Estar – da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como objetivo geral “Garantir o acesso à Saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”.
Áreas de origem
Outro dado relativo às graduações dos egressos de Mestrado em Saúde Coletiva apurado na pesquisa foi a identificação das áreas de origem que mais demandam esse tipo de formação. Em primeiro lugar, aparece a graduação em Enfermagem com cerca de 23% dos respondentes. Graduados dos cursos de Psicologia e de Nutrição marcaram 11%, seguidos pelo de Medicina com 9% dos entrevistados. Posteriormente, análises estratificadas segundo esta formação inicial (graduação) dos egressos serão realizadas, o que permitirá um maior conhecimento sobre o tema. Por exemplo, sobre o dado já mencionado de 35% dos profissionais terem manifestado que em suas graduações aspectos da atuação profissional no SUS foram bem abordados, se a estratificação fosse apenas para o curso de Enfermagem – que é uma área de formação cuja inserção é mais orgânica no SUS – essa porcentagem será maior, se comparada à de outras áreas de formação inicial, como, por exemplo, Educação Física, cuja inserção de conteúdos relacionadas ao SUS é ainda relativamente recente e tímida.
De todos os programas investigados, contabilizou-se um total de 39 diferentes áreas de formação inicial. Informação relevante também colhida pelo estudo diz respeito à atuação do egresso como professor universitário após o mestrado. Quase metade (48,3%) atuou anteriormente ou atuava no momento da pesquisa como professor universitário.
O campo da Saúde Coletiva é uma área fundamental e estruturante do sistema de saúde do Brasil. O movimento da Reforma Sanitária, iniciado na década de 70 e que culminou na criação do SUS teve forte ligação com a organização da Saúde Coletiva. Os conteúdos dos programas de Mestrado nessa área são mais humanísticos, baseados no tripé Epidemiologia, Ciências Humanas e Sociais, e Política e Planejamento. “Esses conteúdos dos programas ajudam na organização do serviço de saúde. Um secretário de saúde que tem uma boa base em Epidemiologia, Ciências Humanas e Sociais e Planejamento de Gestão Pública provavelmente será um gestor melhor. E a nível operacional, uma pessoa que atua diretamente com o atendimento ao usuário do SUS, se tiver uma formação nessas áreas, provavelmente vai prestar um atendimento melhor”, explica o professor Mathias Loch.
O projeto também investigou em que momento da formação houve a inserção dos egressos no Sistema Único de Saúde. Segundo dados da pesquisa, cerca de 60% declararam ter atuado no SUS entre o término da graduação e o Mestrado, desconsiderando o período de residência. E após o Mestrado, verificou-se que cerca de 35% atuaram na assistência direta a usuários do SUS no setor da Atenção Primária à Saúde. “Essa área se concentra nas unidades básicas de saúde, nas quais há equipes multiprofissionais, por exemplo, no caso de Londrina, há profissionais de diversas áreas, entre as quais – além das mais tradicionais como Medicina, Enfermagem e Odontologia –, Educação Física, Farmácia, Psicologia, Fisioterapia e Nutrição. Então, os programas de mestrado em Saúde Coletiva formam essas pessoas que vão atuar de maneira interprofissional no sistema”, explica o professor.
Já sobre a estratificação da inserção profissional em relação a tipos e instâncias referentes aos cargos ocupados, em relação aos cargos de gestão, cerca de 35% dos egressos disseram ter atuado em algum deles após o Mestrado, desconsiderando a gestão de atividades acadêmicas. No recorte sobre atuação em algum cargo de gestão em alguma entidade privada, filantrópica ou fundação pública e/ou privada ligada à área da saúde, o estudo apurou que cerca de 10% atuaram.
Ajustes e correções
Segundo Mathias Loch, os resultados do projeto servirão para que os programas de mestrado possam fazer ajustes, correções, aprimoramentos. Isso porque, uma das etapas da pesquisa prevê o envio dos dados aos programas, disponibilizando uma comparação entre seus dados e os dados nacionais. Dessa forma, reavaliações poderão ser feitas, como explica o professor: “Imagine se um coordenador de um programa percebesse, a partir dessa comparação dos dados da importância do conteúdo do SUS na formação, que houve uma prevalência muito alta de respondentes que acharam que não foi importante para a sua atuação atual. O coordenador poderia concluir que seria necessário algum ajuste no programa, ou que muitos egressos estão trabalhando em áreas muito distintas daquelas que se espera de um Mestre em Saúde Coletiva”.
Outro dado que pode ser considerado é o perfil de formação inicial dos egressos de cada programa, conforme explica o professor: “Imagina o seguinte: o coordenador do programa percebe nessa comparação que no programa dele os oriundos da graduação só vinham de apenas quatro áreas de formação inicial das 39 que o estudo apurou. Aí ele poderia questionar por que no Mestrado que coordena não tem, por exemplo, gente da Nutricão, da Educação Física, da Farmácia, da Fisioterapia etc., e poderia cogitar se não seria importante uma divulgação melhor do programa”.
Segundo o professor, outra relevância do projeto reside no fato de estudos sobre a trajetória profissional de egressos de programas de Saúde Coletiva serem raros, não chegando a uma dezena de artigos publicados no país. É importante frisar que, como o projeto ainda está em andamento, os dados colhidos até aqui são preliminares, embora, segundo Mathias Loch, a etapa de depuração não trará grandes modificações nas informações levantadas. “Embora preliminares, esses dados em geral reforçam que os programas em Saúde Coletiva têm cumprido seu papel de formar, não só docentes, como mão de obra especializada para a área”, afirma.

As próximas etapas do projeto – que conta com a participação de bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação Araucária –, além dessa fase de depuração dos dados, serão a produção de artigos científicos e o envio a cada programa dos relatórios individualizados com a comparação dos dados nacionais.
Mathias Roberto Loch é doutor em Saúde Coletiva pela UEL, tendo realizado estágio de doutoramento no Departamento de Medicina Preventiva y Salud Pública da Universidad Autónoma de Madrid. É sócio fundador da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde e da Associação Brasileira de Ensino da Educação Física para a Saúde (Abenefs). Atuou por mais de 10 anos como tutor da Residência Multiprofissional em Saúde da Família da UEL. É editor Associado da “Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Plos One e Ciência e Saúde Coletiva” e faz parte do comitê científico da revista “Educación Fisica y Deporte” (Colômbia).