Projeto do Nefel estuda a força do esporte e da Educação Física na História de Londrina

Projeto do Nefel estuda a força do esporte e da Educação Física na História de Londrina

O projeto “Garimpando Memórias” investiga os fatores que influenciaram a consolidação das práticas esportivas entre 1940 e 1960

Entender a realidade do esporte e da Educação Física ao longo da História de Londrina é o objetivo do projeto “Garimpando Memórias”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos sobre Educação Física, Esporte e Lazer (NEFEL), do Departamento de Estudo do Movimento Humano (EMH) do Centro de Educação Física e Esporte (CEFE) da UEL. A proposta é investigar o contexto histórico do recorte temporal de 1940 a 1960, época em que a cidade passava por um intenso processo de transformação e modernização.

O projeto é coordenado pelo professor Antônio Geraldo Magalhães Gomes Pires, também coordenador do Grupo de Estudos sobre Representação Social, Imaginário, Memória e Intervenção Profissional (GERIS), e do NEFEL, em colaboração com os professores Anísio Calciolari Junior, do Departamento de Educação Física (DEF) e Morgana Claudia da Silva (DEF e EMH), ambos doutores em Educação Física pela UEL. Ele partiu de outro projeto anterior que investigava a memória do Curso de Educação Física na UEL, que em 2022 completou 50 anos.

O professor Anísio Calciolari Jr. explica que a escolha desse período histórico se deu devido às movimentações políticas e econômicas de uma cidade que era relativamente nova. Todavia, segundo ele, apesar da pouca idade, Londrina já era uma peça fundamental no desenvolvimento econômico do Paraná – fortemente influenciado pela cafeicultura local – e possuía uma presença no esporte muito perceptível. “Nós percebemos que esse é um dos grandes elementos históricos. A gente sempre viu na área que o esporte foi um forte elemento de modernização das cidades. E aí nós vimos como que isso começou a acontecer em Londrina”, expõe Calciolari Jr.

Essa percepção de que o esporte teve um início forte em Londrina se deu através de registros da participação de atletas em competições interestaduais; criações de clubes esportivos; e até a presença de espaços voltados à prática de lazer e atividade física em uma cidade relativamente nova. “Uma cidade que tinha menos de 10 anos de existência, a organização de clubes, de associações, o surgimento de toda uma estrutura esportiva para uma cidade tão nova era um indício muito forte de alguns aspectos de modernização”, complementa Calciolari Jr.

VGD, Oscar Pimpão e Reynaldo Ramon

Ao verificar o ensino escolar da época, os professores perceberam que houve uma inversão do que geralmente ocorre em outros lugares, onde a Educação Física influencia fortemente no esporte. “Aqui em Londrina o esporte já surge com um aspecto muito forte de organização, tanto da classe média, como também das organizações populares, ligas esportivas. E foi isso que a gente pensou em olhar para esse projeto. Por que o esporte tinha tanta força? Como que o esporte foi um elemento culminante da própria organização da Educação Física no município?”, indagou Calciolari Jr.

Um dos motivos dessa presença de peso no esporte é a influência de três pessoas muito importantes para o segmento na cidade: O atleta de basquetebol Vitorino Gonçalves Dias,. que dá nome ao Estádio VGD; e os professores Oscar Dias Pimpão e Reynaldo Ramon – este último criador do curso de Educação Física na UEL e dos Jogos Abertos do Paraná (JAP’S), “A chegada dessas pessoas como atletas influenciou o desenvolvimento esportivo. Então, a gente está mergulhado nesse processo dessa pesquisa”, explica Silva.

Para Calciolari Jr, a falta de uma memória sobre a trajetória do esporte em Londrina pode ocasionar, em última instância, confusões sobre pessoas importantíssimas para a cidade. “Mas muitas vezes as pessoas nem sabem quem é a figura, o Vitorino. Não sabem o significado do VGD. Conhecem o VGD (estádio), mas não sabe quem era Vitorino Gonçalves Dias. Acham que é um ex-atleta de futebol, mas não, era um jogador de basquete importante professor de Educação Física na cidade”, esclarece.

Outro aspecto que torna mais perceptível a influência e a força de Londrina na área foi a criação dos Jogos Abertos do Paraná. “Não vamos esquecer que Londrina criou os JAPs, através do professor Reynaldo Ramon. Então, como uma cidade do interior cria os Jogos Abertos do Paraná? Que depois foi levado para Curitiba e tudo mais. Então isso reflete muito a força da cidade”, explica Calciolari Jr.

Esporte como elemento de modernização

Morgana da Silva explica que o intercâmbio cultural que Londrina teve no período investigado é também resultado da influência dos ingleses. Segundo ela, até meados da década de 90, a cidade atraía peças de teatro do Rio de Janeiro em primeira mão, o que sinalizava o crescimento e influência cultural muito fortes. “E as pistas nos levam a entender que foi especificamente pela chegada dos ingleses, como eles dividem e organizam a cidade, que era uma grande fazenda que foi dividida em lotes”, afirma. “Londrina passa, desde o início, a ser uma cidade de vanguarda”, acrescenta.

A professora também afirma que certos elementos como boulevards, praças, campos e quadras, populares na Europa, não eram muito comuns nas cidades brasileiras na época, mas estavam presentes em Londrina por influência dos ingleses. A existência desses elementos tornou o esporte muito mais presente entre a população, assim como a criação de clubes esportivos. “Alguns clubes como o Canadá, que não existe mais, a Associação Cultural e Esportiva de Londrina (ACEL), a Associação Recreativa e Esportiva Londrinense (AREL), foram muito presentes. Então, as práticas esportivas desenvolvidas vinham aparecendo ao longo do caminho”, conclui Silva.

Além da organização estrutural da cidade, os professores investigaram, através de registros fotográficos e documentais, o intercâmbio educacional entre Londrina e São Paulo, que também se mostrou sempre presente no campo do esporte. Para essa descoberta, dois lugares foram imprescindíveis: A Escola Estadual Vicente Rijo e o Colégio Londrinense, atual UniFil, responsável por preparar equipes para competir com times de outros estados. “Londrina fazia competições. Por exemplo, o Colégio Londrinense jogava contra o Ourinhos, contra Assis. Eles de lá vinham jogar aqui. Londrina chegou a participar dos jogos oficiais do estado de São Paulo”, afirma Calciolari Jr.

A própria vinda do Vitorino Gonçalves Dias para a cidade se deu através do Colégio Londrinense. Ainda segundo Calciolari Jr, ele, que na época residia em Ourinhos, foi convidado a trabalhar em Londrina como professor de Educação Física. “A entrada dele vem ali pelo Colégio Londrinense. Chamaram ele para vir trabalhar aqui, mas não podiam pagar salário como atleta na época. Aí ele foi professor de Educação Física na escola para treinar as equipes esportivas e, a partir disso, começou a organizar o cenário esportivo na cidade. Então, é nesse sentido que o esporte se antecede, de uma certa forma, à própria Educação Física no município”, conclui o professor.

Projeto "Garimpando Memórias" estuda o esporte na história de Londrina.
O professor Anísio Calciolari Junior e a professora Morgana Claudia da Silva. (Foto: Agência UEL).

*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.

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