Produção de orgânicos: caminhos da agricultura saudável

Produção de orgânicos: caminhos da agricultura saudável

Sinônimos de saúde e produção ambientalmente correta, os alimentos orgânicos têm se popularizado e alcançado cada vez mais consumidores nos últimos tempos. Para quem está no início da cadeia produtiva, a produção de orgânicos tem se tornado cada vez mais fácil. O aumento da demanda provocou um aumento da produção e de medidas de incentivo […]

Willian C. Fusaro

Agência UEL


Sinônimos de saúde e produção ambientalmente correta, os alimentos orgânicos têm se popularizado e alcançado cada vez mais consumidores nos últimos tempos. Para quem está no início da cadeia produtiva, a produção de orgânicos tem se tornado cada vez mais fácil. O aumento da demanda provocou um aumento da produção e de medidas de incentivo para angariar novos produtores, respeitando as medidas agroecológicas. Mas você sabe quais são os principais passos para se tornar um produtor de alimentos orgânicos?

O Projeto Paraná Mais Orgânico, promovido pela Superintendência de Ciência, Tecnolgoia e Ensino Superior (SETI) em todas as sete universidades estaduais do Paraná (UEL, UEM, UEPG, UNICENTRO, UNESPAR, UENP, UNIOESTE) e no Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IAPAR/EMATER), atua há dez anos para a conscientização e formação de produtores familiares para a produção de orgânicos em todo o Paraná, com o objetivo de fornecer aos produtores o selo de certificação de produto orgânico.

Banner divulgação do Paraná +Orgânico

Na UEL, o projeto é coordenado pelo professor Maurício Ursi Ventura, do Departamento de Agronomia, do Centro de Ciências Agrárias (CCA). O Núcleo UEL atende principalmente os municípios de Arapongas, Rolândia, Tamarana, Jataizinho, Ibiporã, Cambé, Jaguapitã, Apucarana, Sabaudia, Porecatu, Centenário do Sul, Florestópolis, Mirasselva, Bela Vista do Paraíso, Sertanópolis, Alvorada do Sul, Mauá da Serra e Marilândia do Sul. Ao todo, o projeto em Londrina atende cerca de 100 produtores, entre os quais 40 já estão certificados.

O Estudante de Agronomia Luiz Vitor e seu pai, Luiz Cândido, em plantação própria de morangos orgânicos na cidade de Londrina

Em família

Um dos produtores que busca a certificação é o estudante do 4º ano de Agronomia da UEL, Luiz Vitor Barbosa. Ele e o pai, Luiz Cândido de Oliveira, administram uma plantação de morangos em um condomínio de chácaras, na divisa entre Cambé e Londrina. A atividade já veio no DNA do estudante: quando moravam em Sapopema (126km de Londrina), o pai, que tinha um emprego de motorista, produzia feijão e arroz nas horas vagas.

A plantação tem quase 2 mil m² e a produção, atualmente, está em 700g por planta, cerca de 4 mil kg por ano. Por enquanto, Luiz e o pai dedicam-se somente à produção de morangos – cultura considerada difícil de produzir organicamente -, mas o intuito é ampliar a produção. “Vamos plantar fisális, cebola e alho”, afirma. A intenção também é aumentar o número de mudas de morango 2 mil para 5 mil.

Luiz conta que conheceu o Paraná Mais Orgânicos no curso, em contato com os professores envolvidos, e a ideia brotou após saber mais sobre o projeto. “O Programa sempre me deu todo o apoio. Se não fosse por ele, teria de pagar uma anuidade e bancar a auditoria. O acompanhamento também é muito bom. Já vieram umas três vezes aqui”, comenta.

Conscientização

A conversão da propriedade em orgânica é um processo que pode durar alguns meses – dependendo do tamanho da propriedade, de seis meses a um ano – e requer cuidados e preparação do solo, mas, antes de tudo, requer conscientização. Maurício Ventura explica que, de modo geral, o produtor que procura o Paraná Mais Orgânico já tem conhecimento de que deve implantar uma série de modificações na propriedade e repensar a forma de produzir.

“Esse trabalho de conscientização geralmente dura alguns meses, para que o produtor compreenda os meios de se produzir sem sementes transgênicas ou agrotóxicos”, comenta. Do mesmo modo, os instrutores ensinam a criação de barreiras para a propriedade, para que a produção orgânica não seja contaminada com produções “convencionais” vizinhas.

Em Londrina, a equipe é composta, além de Ventura, pelos professores Fernando Hata e Ayres Menezes Júnior, ambos do Departamento de Agronomia, além de quatro alunos bolsistas – dois da Agronomia, um da Medicina Veterinária e um do curso de Economia.

Adaptação

Após o processo de conscientização, começa a adaptação da propriedade “convencional” à produção orgânica. Um dos primeiros passos é a criação de barreiras ecológicas, que devem circunscrever toda a propriedade e podem ser feitas de capim-elefante, uma planta muito utilizada também como quebra-vento.

“A nossa região tem muita soja e milho transgênico. As barreiras protegem a produção das derivas de agrotóxicos. Mas, caso exista uma pastagem ou um capão de mato que distancie a produção orgânica da dos vizinhos, não é necessário fazer uma barreira”, completa.

Troca de insumos

O último passo é a substituição dos insumos agrícolas – defensivos, fertilizantes, equipamentos e máquinas diversas. Diferente do que pode parecer, Ventura comenta que não é necessário fertilizar somente com esterco. “O produtor pode trocar o superfosfato triplo pelo termofosfato, pó de rocha ou calcário”, argumenta.

Na parte de controle de pragas, um incômodo permanente para qualquer produtor, a alteração do modo de produção convencional para o orgânico em si já elimina uma série de pragas e doenças, segundo Ventura. “Nesse sentido, incentivamos o uso de bactérias e fungos, que fornecem equilíbrio ambiental e por isso eliminam pragas. Há uma grande linha de produtos biológicos recomendada para fertilização”, salienta.

Rentabilidade

Já está provado que a produção de orgânicos é rentável, segundo o pesquisador. “Na grande maioria das culturas, é possível produzir mais e melhor, com segurança alimentar. Em algumas delas, como a de morangos, ainda temos algumas dificuldades.” No caso de grandes culturas – soja, trigo ou milho – as dificuldades são maiores devido ao controle do mato, mas a produção e rentabilidade nas áreas convencionais e orgânicas é similar.

Na outra ponta da cadeia produtiva, o consumo, Ventura é cauteloso quanto à compra desses produtos. A disseminação da produção em supermercados, por exemplo, não favorece uma popularização dos orgânicos. “Os supermercados fazem o que querem com os produtores. Além disso, jogam o preço dos produtos para cima, pois o público que compra é, em geral, mais escolarizado e informado e tem maior poder aquisitivo”, avalia.

Como alternativa, o pesquisador aposta nas feiras de orgânicos. “Em Londrina, temos a feira de produtores do Zerão, 100% composta de produtores certificados. Eu vou todo sábado lá fazer minhas compras e sempre encontro produtos com preços similares, às vezes até mais baixos, do que em relação aos supermercados”, indica.

Cooperação

A UEL tem inciativas feitas por próprios estudantes para auxiliar na produção de orgânicos em produtores do norte do Estado. A Empresa Júnior de Consultoria e Soluções em Agronomia (Consoagro) foi fundada em 2008, mas foi reconhecida em 2017 como uma empresa pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior).

Segundo a diretora-presidente, Talita Nunes de Oliveira, estudante do 2º ano de Agronomia, o grupo atende produtores de todo o norte do Paraná. “Oferecemos planejamento de safra, estudos de viabilidade econômica, planejamento e implantação de culturas e terraceamento”, comenta. Além dos produtores familiares, o grupo também atua com empresas e público urbano, realizando “dia de campo” ou serviços como paisagismo em hortas urbanas.

Compõem a Consoagro 18 membros efetivos, entre diretores e assessores, além de 19 trainees. A coordenação da empresa júnior é do professor Adilson Luiz Seifert, do Departamento de Agronomia.

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