Projeto analisa condições da fauna regional a partir de carcaças de animais atropelados

Projeto analisa condições da fauna regional a partir de carcaças de animais atropelados

O projeto que recentemente passou a receber animais de zoológicos, estuda os aspectos anatomopatológicos de animais silvestres atropelados.

O projeto de pesquisa “Fauna Silvestre Atropelada e Oriunda de Zoológicos: Aspectos Anatomopatológicos na Avaliação da Saúde Animal” estuda a fauna silvestre da região de Londrina e tem a coordenação de Ana Paula Loureiro Bracarense, professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UEL. As pesquisas são realizadas utilizando carcaças de animais atropelados que ao invés de serem apenas descartadas, servem como objeto de estudo e análise da condição epidemiológica da fauna regional silvestre da região.

Em 2025, diversos casos de atropelamentos de animais silvestres foram registrados, principalmente nos arredores do Parque Arthur Thomas, na zona sul de Londrina. Macacos-prego, quatis, gambás e gatos maracajá estão entre as espécies encontradas mortas nas beiras de estradas, nos arredores do Parque e em outros pontos da cidade. Idealizado pelo professor aposentado Italmar Teodorico Navarro, o projeto utiliza esses animais como meio de vigilância epidemiológica.

Professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP) Ana Paula Loureiro Bracarense. (Foto: Agência UEL).

As pesquisas observam um conceito que considera como interligadas e dependentes as áreas da saúde humana, animal e ambiental, a “Saúde Única” (One Health). Este conceito visa um esforço coletivo para o equilíbrio nas relações entre indivíduos, animais e meio ambiente.

“Então, os animais silvestres são uma maneira excelente de fazer esse entendimento da importância de pensar a saúde nessa forma contextualizada, nessa forma global da saúde única”, conclui Bracarense.

Obtenção de animais para análise

No início, a coleta dos animais acontecia através de saídas semanais, onde eram selecionadas estradas para serem percorridas por grupos de quatro pessoas que, de carro, faziam a procura de animais atropelados. Esse método sofreu mudanças conforme o desenvolvimento do projeto, que passou a contar com uma contribuição mais ativa de pessoas da comunidade interna e externa da UEL. “As pessoas trazem os animais para cá ou nós temos a informação que tem um animal atropelado. A Polícia Ambiental e a Força Verde, às vezes, também trazem animais para cá. Há umas duas semanas, recebemos uma carcaça de onça que foi trazida para cá pela Polícia Ambiental”, descreve a pesquisadora. Recentemente o projeto também passou a receber animais oriundos de zoológicos.

Processo de análise

Voltado para os aspectos anatomopatológicos dos animais, uma das atividades do projeto é a autópsia dos espécimes, na qual são analisados os órgãos dos mesmos e também são retiradas amostras de tecido para análise histopatológica. Nesta análise, os tecidos são avaliados ao microscópio, em busca de agentes patogênicos hospedados no animal que podem ou não ser nocivos para outros animais silvestres, domésticos ou seres humanos. “Nós trabalhamos com aves de diferentes gêneros e famílias, mamíferos, répteis também, um número menor, mas também trabalhamos”, acrescenta.

Projeto analisa condições da fauna regional a partir de carcaças de animais atropelados. (Foto: Pixabay).

A professora comenta que as lesões mais frequentes nas autópsias feitas são decorrentes do traumatismo causado pelo impacto do veículo. “O que nós temos visto, fora essa questão que leva à morte do animal, são diversos agentes parasitários”.

Ao contrário do observado em animais domésticos, os animais silvestres apresentam uma elevada infecção por parasitas, que variam de acordo com o espécime analisado, conforme destaca Bracarense. Um agente já encontrado em diferentes mamíferos silvestres examinados no projeto, é o protozoário “Toxoplasma Gondii”, que pode transmitir a toxoplasmose, doença que acomete tanto animais quanto humanos. A professora ainda comenta que o vírus da cinomose (doença comum em cães) foi detectado em um lobo-guará.

Animais Sentinelas

O projeto também faz a identificação e o mapeamento dos animais silvestres. Algumas espécies podem ser consideradas sentinelas ambientais, visto que são espécies que têm a necessidade de sair das zonas de matas e florestas. Essa evasão acontece por causa da degradação ambiental, que acarreta na escassez de alimentos e também por conta da distância entre seu habitat natural e as cidades, que diminuiu com o passar dos anos. Os animais afetados por essa aproximação são diversos, e entre eles estão o quati, o gambá e lobos-guará que se aproximam das cidades, conforme destacado por Bracarense.

A contribuição proveniente destes animais para o projeto acontece por conta da identificação de agentes etiológicos presentes neles e sobre a possível interação entre esses agentes etiológicos e a infecção de animais domésticos e, eventualmente, o ser humano. “Os agentes etiológicos que nós pesquisamos são agentes que vão causar algum tipo de lesão ou de doença. Geralmente, nós trabalhamos com agentes etiológicos de diferentes tipos como bactérias, vírus, parasitas e fungos. Então, esses são os agentes etiológicos microbiológicos”, explica a professora.

Contribuições Acadêmicas

As pesquisas na área acontecem desde 2021, e o projeto conta com três artigos científicos publicados, e dois em processo de avaliação, além de 25 resumos apresentados em eventos científicos nacionais, duas dissertações de mestrado relacionadas ao projeto, 15 iniciações científicas e quatro publicações em periódicos com outras duas em avaliação.

Projeto analisa condições da fauna regional a partir de carcaças de animais atropelados.
(Foto: Agência UEL).

(*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.)

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