Ação de alunos de Biomedicina resulta em intervenção artística no CCB
Ação de alunos de Biomedicina resulta em intervenção artística no CCB
Mural pintado no Centro tem moléculas de DNA e elementos que remetam à formação dos tecidos.Costumeiramente utilizada para interferir na paisagem urbana, trazendo aspectos críticos à realidade social, a arte do grafite é uma forma de expressão que ganhou bastante destaque em Londrina ao longo de 2022, com as intervenções realizadas na avenida 10 de Dezembro pelo programa “Caminhos do Graffiti”. Em meio ao momento promissor que a arte urbana atravessa na cidade, um espaço da UEL também ganhou uma nova “cara” a partir do uso do spray. Nesta ocasião, um painel foi elaborado de forma coletiva por graduandos do curso de Biomedicina.
Contando com células, moléculas de DNA e elementos que remetem à formação dos tecidos, o painel reproduz uma parte do cotidiano dos estudantes dos cursos do Centro de Ciências Biológicas (CCB), fazendo uma viagem de milhões de anos através das principais descobertas científicas.
“Eu acho linda, muito bonita, porque ela remete a todas as áreas da Biomedicina. Antes era tudo branco, não tinha nenhuma informação, era opaco e sem vida. Tinha algumas rasuras, uma pichação, mas nada que fosse concreto, que trouxesse algum conteúdo. Agora, com certeza, está bem melhor”, disse a estudante do terceiro ano de Biomedicina Maria Stacy dos Santos Silva.
A ideia
A ideia, explica o estudante Pedro Takata, do 2º ano de Biomedicina, surgiu em meio aos preparativos para a Semana de Recepção dos Ingressantes, no início de agosto. “Em princípio, queríamos fazer só uma arrecadação de dinheiro, e foi uma das vertentes do nosso trote solidário. Então, doamos para a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP). Também conversando com o professor Fábio (Andrade), sugeriu pintarmos a parede como um ato solidário, porque estava toda pichada”, lembra.
Suja pela ação do tempo e rabiscada com diversas assinaturas, dentre elas, a de um grupo político, a parede do Laboratório de Histologia (Sala 239) parecia ser o espaço ideal para a instalação de um painel. “E, ficamos sabendo, e veio bem a calhar, que um calouro nosso era grafiteiro. Então ampliamos essa ideia”, conta Takata.
De acordo com o professor do Departamento de Histologia Fábio Andrade, os alunos levaram a proposta ao colegiado do curso de Biomedicina, que submeteu à aprovação dos departamentos de Histologia e Anatomia. “A ideia foi aprovada, mas condicionada à apresentação de um esboço por parte do aluno do primeiro ano”, diz. Em seguida, o projeto também passou pela análise da diretoria do Centro e da Prefeitura do Campus. “A iniciativa, de fato, foi deles e eles se preocuparam em respeitar todas as instâncias, se preocupando também em fazer algo dentro do que era possível. O interessante foi o envolvimento e a participação deles”, exalta Andrade.
Após ter “caminhado” por diversas salas e setores da Universidade, sendo aprovada pela diretoria do Centro de Ciências Biológicas, faltava a compra das tintas e demais equipamentos. Takata explica que, novamente, a colaboração dos alunos e docentes foi fundamental. “Fizemos uma vaquinha e conseguimos juntar R$ 600,00 em cerca de três dias, foi uma ação coletiva bem legal”, explica.
O artista
Depois de tudo pronto, faltava ao grupo um direcionamento para os desenhos que estavam prestes a ser realizados pelo aluno ingressante Luis Eduardo Alexandre Gonzaga de Landreia, mais conhecido como “Gonza”. Jovem de 18 anos nascido em Londrina, “Gonza” cresceu na periferia, nutrindo um interesse pela linguagem das ruas ainda na juventude.
Ex-aluno do Colégio Estadual Marcelino Champagnat e primeiro integrante da sua família a ingressar no Ensino Superior, ele conta que começou a desenhar ainda na infância, tendo experimentado o spray somente no final do ano passado. Em janeiro deste ano, chegou a ser selecionado no edital lançado pela curadoria do projeto “Caminhos do Graffiti”, o que serviu de grande incentivo para continuar estudando a arte.
“O projeto se iniciou em fevereiro e fui selecionado só com meus desenhos em papel. Depois, eu não parei mais, fazendo pelo menos um grafite por mês, e vários pelas ruas também. No meio tempo entre a divulgação da segunda chamada da UEL até começar as aulas, eu conheci um lugar que oferece oficinas de grafite chamado Creas Norte (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), onde minha professora Narizinho me ajuda até hoje”, conta.
A experiência
Inspirado pelas cenas do cotidiano, a poesia e o hip-hop, conforme mostra aos amigos e seguidores em seu perfil no Instagram, Gonzaga não estava acostumado a desenhar o que olhos observam através do microscópio. Por isso, aproveitou um pouco dos quase 49 anos na carreira docente do seu professor de Histologia, Osny Ferrari, que atuou como um consultor para a obra de arte. Na composição da cena, tudo tem início pela curiosidade de uma criança que utiliza um microscópio.
“Ele veio com uma ideia da imagem da menina no microscópio, que era coisa de grafiteiro. Aí eu comecei a montar, o DNA, a célula, uma das células mais conhecidas, principalmente pelo pessoal de colegial, que é o Paramécio, que parece um chinelo, a fecundação, o desenvolvimento embrionário, a formação dos tecidos, Epitelial, Conjuntivo, Muscular e Nervoso, a Anatomia, a Microbiologia já com as bactérias e a Placa de Petri, o Trypanosoma cruzi, e aí ele deu um show. São milhões de anos de descobertas”, conta Ferrari, coautor do Atlas Digital de Histologia Básica ao lado do professor Fábio Andrade, entre dezenas de publicações científicas.
O resultado
Realizada de forma coletiva através do diálogo entre colegiado, departamentos, Diretoria do Centro e Prefeitura do Campus, a intervenção no CCB também é um episódio capaz de elevar a sensação de pertencimento dos estudantes à Universidade Estadual de Londrina. A intervenção se torna ainda mais especial diante do retorno dos estudantes ao campus, após o período mais duro da pandemia da Covid-19.
“E veio bem a calhar que ficou pronto na semana da Feira das Profissões, então pudemos expor e divulgar o nosso curso. No dia que o Luis estava terminando foi no dia da Feira (02/09), então alguns alunos do Ensino Médio passaram lá e tiraram fotos. Teve um momento com 30 pessoas lá admirando enquanto ele fazia”, conta o estudante Takata. “Com certeza, todos os alunos do curso gostaram do resultado e desde o começo todos apoiaram a ideia, por ser algo muito novo, e ainda mais que o nosso curso é pequeno, então dá visibilidade para o curso e para o trabalho do Luiz”, conclui.