Pesquisadores estudam parceria para criação de serpentário na UEL

Pesquisadores estudam parceria para criação de serpentário na UEL

Daniel Steidle procura alternativas para preservação dos animais, vitais para o ecossistema. Ele esteve na UEL acompanhado do pesquisador Érico Vital Brazil.

A UEL recebeu visitantes, na sexta-feira (19), que discutiram uma novidade para a instituição: a criação do primeiro serpentário do Norte do Paraná. O encontro reuniu representações políticas do Estado, gestores, servidores e professores da UEL e o pesquisador Érico Vital Brazil, do Instituto Vital Brazil – um dos laboratórios pioneiros na produção de soro antiofídico no país. A iniciativa partiu do agrônomo e educador ambiental Daniel Steidle, de Rolândia. Ele é mestre em Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UEL (2004) e desenvolve projetos em sua propriedade rural e no próprio município, onde já ocupou o cargo de presidente do Conselho Municipal de Turismo.

Steidle percebeu em Rolândia algo que acontece em muitos outros pontos do Brasil: a matança de cobras em propriedades rurais, por sua ameaça ao gado ou aos seres humanos, quando por exemplo se acoitam no meio da plantação. Em 2019, depois de encontrar uma jararaca na horta de sua propriedade, aproveitou para promover, lá mesmo, um treinamento para captura adequada de serpentes. As cobras também possuem seu papel na Natureza, e, como outros animais, se invadem espaços humanos é por causa de algum desequilíbrio ambiental. “No Paraná, 98% das cobras são mortas. Há uma ignorância grande [em relação às cobras]”, explica.

Pesquisadores Daniel Steidle e Erico Vital Brazil, em visita ao HU de Londrina (Foto: André Ridão/Agência UEL)

Pesquisa feita no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da UEL, indicou que as cidades paranaenses campeãs em acidentes com cobras são Morretes, Prudentópolis e Londrina. No Estado, as cobras consideradas mais perigosas são a jararaca, cascavel e a coral.

Assim, o educador ambiental procurou alternativas, como criar um serpentário. Depois de alguns encontros em Curitiba, a UEL foi sugerida para uma parceria e instalação de um espaço adequado para receber as cobras capturadas com vida. Foi para tratar desta parceria que Steidle veio à instituição, juntamente com Érico Vital Brazil.

Encaminhamentos

Pela manhã, o grupo visitou o Centro de Informações Toxicológicas (CIT) do Hospital Universitário (HU-UEL), setor criado há 38 anos e que presta assessoria e orientação em casos de intoxicação, incluindo vítimas de animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões. Também se reuniu com a diretora superintendente do HU, Vivian Feijó, e o deputado estadual Tercilio Turini.

Reunião no HU contou com presença do coordenador do CIT, Camilo Guidoni, da servidora Mirian de Cassia Tóffolo, do deputado estadual Tercilio Turini, da superintendente, Vivian Feijó, e dos convidados Érico Brazil e Daniel Steidle (Foto: Marco Corbanez/Agência UEL)

À tarde, estiveram no Centro de Ciências Biológicas (CCB), onde foi recebido pelo professor Fernando Jerep, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal, e diversos pesquisadores do Centro; pelo diretor e vice-diretor do CCB, João Zequi e Alex Gallo, respectivamente; além de representantes do Hospital Veterinário (HV), espaço de potencial integrante da parceria para tratamento das serpentes encaminhadas para a Universidade; da Fazenda Escola; e da Agência de Inovação Tecnológica da UEL (Aintec).

Entre os pontos encaminhados das reuniões, está um evento para setembro deste ano, com foco na divulgação de informações e de atividades práticas para a população em geral. O Anfiteatro Cyro Grossi do CCB é um dos espaços sugeridos para a realização. Outra ação prevista é firmar um protocolo de intenções entre a UEL e o Instituto Vital Brasil para atividades futuras.

Segundo o professor Fernando Jerep, existem vários passos a serem feitos para criação do serpentário, que envolvem desde a oficialização do projeto, até a construção de estrutura e capacitação de recursos humanos. “Como ideia inicial, a UEL pode agir como um centro de recepção e de distribuição dos animais. Depois, eles poderiam ser transportados para o CPPI [Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos], em Curitiba, onde é feita produção dos imunocombatentes”. Para o longo prazo, o professo também vislumbra a coleta do soro e produção do próprio soro na Universidade.

Reunião contou com presença do pesquisador Erico Vital Brazil e Daniel Steidle, além de representantes de setores da Universidade (Foto: André Ridão/Agência UEL)

Vital Brazil

Segundo Érico Vital Brazil, o acidente ofídico (com cobras) é o segundo agravo do quadro epidemiológico no Brasil, só perdendo para a dengue. “É uma doença negligenciada. São 300 mortes diárias no mundo”, e ele faz a comparação: “cai um Boing por dia”.

Neto do médico e sanitarista Vital Brazil Mineiro da Campanha (1865-1950), Érico é responsável pela divulgação científica do instituto que leva o nome do avô, que foi um dos primeiros pesquisadores de Toxinologia nas Américas e de Medicina experimental no Brasil e desenvolveu os soros contra picadas de aranha, antitetânico e antidiftérico, além do tratamento para picada de escorpião.

Com as experiências já possui, Érico explica que o serpentário é um espaço pedagógico. “Quando se pensou no serpentário foi em função da questão pedagógica, o que provoca de interesse e de estímulo, onde pode promover palestra e organizar atividades que chamam atenção da criança ao turista”, afirma.

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