Congresso de Psicanálise discute impactos da tecnologia na subjetividade
Congresso de Psicanálise discute impactos da tecnologia na subjetividade
Evento organizado por estudantes do curso de Psicologia da UEL terá 11 palestrantes e quatro mesas de debate“Pós-modernidade e dispositivos de subjetivação” é o tema do I Congresso LAP-UEL, que será realizado no Centro de Ciências Biológicas (CCB), no campus universitário, nos próximos dias 20 e 21. A iniciativa é da Liga Acadêmica de Psicanálise (LAP-UEL), formada por estudantes do curso de Psicologia. A Liga foi criada em junho de 2024 e realiza estudos quinzenais, além de encontros e eventos. É o primeiro congresso organizado pelos alunos, que reunirá 11 palestrantes convidados de Londrina e da Unesp de Assis (SP), entre pesquisadores, docentes e psicólogos clínicos. Além de quatro mesas programadas, haverá apresentação de trabalhos.
As inscrições, no site da UEL, estão abertas até o próximo dia 18, disponíveis na bio do Instagram @lap_uel. Os valores são diferenciados: R$ 70 (estudantes de graduação); R$ 85 (estudantes de pós-graduação) e R$ 100 (profissionais).
Formando em Psicologia pela UEL, André Tramontini integra a diretoria da Liga, projeto proposto pelo amigo Ítalo Bitencourt. Tramontini explica o tema do congresso: “Quando falamos de ‘dispositivos’, não estamos nos referindo apenas a aparelhos eletrônicos ou tecnologias da informação e da comunicação; nós estamos nos referindo aos processos que formam o sujeito e sua subjetividade. No cenário pós-moderno – este no qual vivemos – existe um atravessamento constante entre esses dois sentidos; isto é, entre aparelhos e tecnologias e os processos de formação do sujeito. Somos cada vez mais socializados através da tecnologia, o que justifica a escolha desse tema para o congresso”.
O evento é voltado a profissionais e estudantes não apenas da Psicologia, mas por todos que se interessam pelos temas ligados à subjetividade e sociedade. “O psicólogo trabalha com o aspecto subjetivo da humanidade. Se, hoje, a subjetividade é atravessada cada vez mais pelas tecnologias, é imprescindível que esse profissional pense o modo como esses atravessamentos ocorrem. De que modo o tempo de tela e o consumo constante de informação afeta o meu paciente? Como estamos nos relacionando hoje em dia e quais são os efeitos desse modo de relacionamento? Essas são algumas perguntas que nós, como psicólogos (em formação ou em atuação) nos fazemos e somos convidados a nos fazer um pouco mais nesse congresso”, reflete Tramontini.
A mesa de abertura, “Tecnologias sociais”, terá a participação da psicóloga Marianna Davanso, do sociólogo e professor da UEL Marco Rossi e do jornalista e doutorando em comunicação Felipe Melhado. Entre os temas da discussão, o debate sobre como os dispositivos tecnológicos e as redes sociais “moldam” nossos afetos. O credenciamento do congresso inicia às 18h30 e a mesa de abertura começa às 19h30. As atividades serão concentradas na sala 202 do CCB.
Já no dia seguinte, 21 de março, três mesas estão programadas. A primeira, “Clínica da pós-modernidade”, a partir das 8h20, com as psicólogas formadas pela UEL Isadora Nicastro Salvador, Beatriz Lourenção e Lara Balera, além do psicólogo Nathan Bettim, idealizador do Instituto Liberté. A segunda mesa começa às 10h20, com o tema “Pós-modernidade e tecnologias”, que reunirá o psicólogo e especialista em psicanálise winnicottiana, Felipe Barbeiro, e a psicóloga Polyana Pompilho, mestranda em psicologia na UEL. Já a terceira mesa, das 14 às 15h20, será sobre “Enquadre, setting e vínculo em diferentes dispositivos clínicos na modalidade on-line”. A discussão busca refletir sobre o vínculo entre o profissional e o paciente no ambiente remoto e terá a participação da psicóloga e professora da graduação e pós-graduação em Psicologia da Unesp de Assis, Ananda Kenney da Cunha Nascimento, e da psicóloga e mestranda em psicologia clínica pela USP Ana Carolina de Moraes Silva.
O I Congresso LAP-UEL marca também a posse da nova diretoria da Liga, que compartilha a realização do evento com a atual gestão. O congresso conta com os seguintes apoiadores: EDUEL; Livraria Olga; Instituto Liberté; Instituto Crescer; Associação Livre; Instituto Lalangue e Espaço Èze Savoir. A EDUEL disponibilizou vouchers de desconto para os 100 primeiros participantes; a Livraria Olga está cedendo um livro para sorteio, assim como a professora da UEL, Juliana Baracat, autora de “Do trauma da sedução à sedução traumática”. Já a Associação Livre e o Instituto Lalangue oferecem vagas para grupos de estudos, que serão sorteadas entre os inscritos do congresso. O Espaço Èze Savoir também sorteará vagas: serão cinco para módulo de pós-graduação.
Atualidade da psicanálise
Psicóloga recém-formada pela UEL e integrante da Liga, Natália Tinti defende a psicanálise como uma teoria que se mantém viva até hoje. “As observações clínicas que Freud fez ainda são frequentemente observadas no setting clínico, mesmo depois de tantos anos e avanços sociais. Claro que não podemos nos abster do avanço teórico, por isso seguimos estudando autores contemporâneos que tentam, de alguma forma, dar mais sentido/complementar o que o pai da psicanálise começou”. Segundo ela, “em um mundo contemporâneo onde há estereótipos, ouvir as pessoas de maneira a respeitar o que pensam/sentem e construir novos sentidos, é, para além de pensar na sua integridade, é também respeitar sua história passada, presente e futura”.
Criada pelo neurologista austríaco Sigmund Freud em 1896, a psicanálise é um método terapêutico baseado na fala e na investigação do inconsciente. Freud foi o precursor de uma inversão do olhar médico que consistiu em levar em conta as teorias elaboradas pelos próprios pacientes a respeito de seus sintomas e seu mal-estar. Essa subversão se iniciou com as mulheres histéricas, ouvidas e analisadas por Freud através desta nova terapêutica, que se propõe a escutar os corpos que falam. Assim, por meio da associação livre – técnica em que o paciente fala espontaneamente tudo o que vem à mente, sem censura, permitindo o acesso a conteúdos inconscientes –, a psicanálise está aberta à singularidade do outro.
LAP-UEL – Propósito e ações
Fundada em junho do ano passado por um grupo de estudantes da UEL que busca se aprofundar nos estudos de psicanálise, a Liga Acadêmica de Psicanálise da UEL (LAP-UEL) tem se dedicado à investigação e à reflexão psicanalítica por meio de eventos, palestras e encontros quinzenais. O projeto nasceu a partir de uma inquietação do formando em Psicologia Ítalo Bitencourt.
“Desde que me interessei pela psicanálise, no segundo ano de graduação, passei a perceber a grande discrepância entre o Departamento de Psicanálise e os outros departamentos do curso. Apesar dos exemplares professores que se dedicam sobremaneira para transmitir a psicologia profunda, como Freud a chamava, ainda há, indiscutivelmente, um vácuo de iniciativas, matérias e projetos que possam inteirar um aluno interessado no universo que é a psicanálise. Pensando nisso, e com a bagagem adquirida dos dois anos que participei da Liga de Mercado Financeiro da UEL, decidi fazer algo eu mesmo para auxiliar no desafio que é o ensino da psicanálise, sem pretensão alguma de resolver o problema”, justifica.
Bitencourt esclarece que a Liga tem objetivos internos e externos. “Possibilitar aos discentes da UEL um contato mais íntimo, aprofundado e dinâmico com a psicanálise por meio de palestras, seminários, leituras em conjunto, aulões, eventos. Como intuito externo, a Liga manifesta um profundo desejo meu de elevar Londrina – e, por consequência, a UEL – para um novo e elevado degrau no cenário da psicanálise brasileira, é uma engrenagem a mais na máquina do fomento londrinense de psicanálise. Por isso mesmo estamos fazendo esse congresso, para que a UEL possa ser reconhecida pelas mentes que nela residem”.
Para viabilizar a Liga, ele conta que consultou dois amigos – André Tramontini e Maria Eduarda Miranda –, e perguntou se eles participariam caso houvesse uma associação acadêmica de Psicanálise na UEL. “Com a resposta positiva dos dois, fui atrás de um professor que topasse nos acompanhar nessa aventura de construir algo do zero. E a professora Maíra Bonafé Sei acolheu prontamente a ideia. Antes mesmo do quadro de diretores estar fechado, o projeto já havia entrado em trâmite. Depois disso, fui atrás da Natália Tinti e do David Paio, dois colegas que participavam de supervisões clínicas comigo. De imediato os dois se uniram a nós e então a Liga estava feita”.

Docente-responsável pela Liga, Maíra explica que sua tarefa é realizar procedimentos institucionais como formalização de cursos e eventos no sistema de gestão de eventos da UEL, além de inscrição em edital de bolsa para estudantes. Ela também propõe atividades e orienta a escrita de trabalhos para apresentação em eventos. Outra ação, segundo a professora, é acionar profissionais que podem contribuir com o grupo, ampliando o rol de contatos dos membros da diretoria.
Sobre a criação da Liga, Maíra avalia: “A iniciativa é excelente porque amplia o acesso aos conhecimentos da Psicanálise, lembrando que a grade curricular apresenta carga horária limitada, não sendo possível abarcar tantas temáticas e autores. Além disso, os estudantes podem direcionar seus estudos e suas ações para os campos de interesse, convidando profissionais externos à instituição ao perceber que os docentes da universidade não trabalham com determinados temas”.
Entre as palestras já realizadas pela Liga, “Autismo, o sujeito e a psicanálise: consonâncias”, com a psicóloga Nathália Halmann; “Racialidade e Psicanálise”, com a psicóloga Debora Corsino, além de “Avaliação Psicológica e a Interface com a Psicanálise”, com a psicóloga Amanda Lays. O grupo de estudantes também lê textos fundamentais da psicanálise, de autores como Freud, Ferenczi, Klein, Bion, Winnicott e Birman.
