Projeto estuda tratamento alternativo para a esporotricose, doença que afeta animais domésticos e humanos
Projeto estuda tratamento alternativo para a esporotricose, doença que afeta animais domésticos e humanos
Devido ao grande aumento no número de casos, a doença já é tratada como uma epidemia no Brasil.Um projeto de pesquisa e inovação tecnológica vinculado ao Centro de Ciências Biológicas – CCB visa oferecer uma alternativa de tratamento tópico para a esporotricose, uma micose subcutânea causada pela ação de fungos (do gênero Sporothrix) e de origem zoonótica (S. brasiliensis). Com crescente ocorrência em gatos e cães, a incidência da esporotricose tem aumentado também em seres humanos que têm contato com animais doentes ou que se ferem com espinhos e galhos (S. schenkii, origem ambiental). Quem faz o alerta é o coordenador do projeto, o professor Luciano Aparecido Panagio, do Departamento de Microbiologia (CCB).
O objetivo do projeto é preparar uma formulação com nanopartículas de prata e sinvastatina, composição com efeito potencializado, criando um produto com ação antimicrobiana contra os fungos causadores da esporotricose e de outras doenças. Além da formulação de uso tópico (como loção ou pomada), serão desenvolvidas preparações para o uso em ambiente, como desinfetantes e saneantes.
Os estudos estão em fase de testes de laboratório para que se estabeleça uma concentração segura para o uso. Planeja-se em uma próxima fase o teste em animais, seguindo protocolos estabelecidos e observando preceitos éticos e de bem-estar animal. Já os testes em seres humanos estão em um horizonte mais longo pois, conforme destaca o pesquisador, “os testes clínicos são muito complexos e caros”, diz, destacando que o projeto necessita de aporte financeiro para avançar sobre essa etapa.
Notificações
O professor explica que o contexto de surgimento do projeto se deu na sequência de outros já desenvolvidos por ele e sua equipe, composta por alunos da pós-graduação e pela professora Lucienne Garcia Pretto-Giordano, do departamento de Medicina Veterinária Preventiva (DMVP). No momento da escolha do tema, o grupo de pesquisa levou em consideração demandas que partem da sociedade, em um contexto de maior preocupação com a saúde dos bichinhos, além do objetivo de combater o problema de saúde pública que nos últimos anos tem se alastrado pelo Brasil e América Latina.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, dos 27 estados do Brasil, 26 apresentam diagnósticos confirmados. Em 2023, 1.239 casos foram registrados no País, e mais 945 casos foram notificados até junho de 2024, caracterizando uma epidemia. No Paraná – Estado onde a esporotricose está na lista de notificação compulsória desde 2020 – o número de casos em humanos saltou de 253 em 2022, para 853 em 2023.
“Devido ao aumento exponencial do número de casos, sentimos a necessidade da pesquisa”, pontua o professor. Em 2025, a esporotricose humana passou a ser doença de notificação compulsória, enquanto a forma animal é obrigatória em alguns estados.

Já os casos em gatos subiram de 1.412 em 2022, para 3.290 em 2023, de acordo com dados divulgados pela pasta.

O professor explica que o contexto de surgimento do projeto se deu na sequência de outros já desenvolvidos por ele e sua equipe, composta por alunos da pós-graduação e pela professora Lucienne Garcia Pretto-Giordano, do departamento de Medicina Veterinária Preventiva. No momento da escolha do tema, o grupo de pesquisa levou em consideração demandas que partem da sociedade, em um contexto de maior preocupação com a saúde dos felinos, além do objetivo de combater o problema de saúde pública que nos últimos anos tem se alastrado pelo Brasil e América Latina.
Ele pontua que na década de 1990, o S. brasiliensis se situava em regiões do estado do Rio de Janeiro. No entanto, “hoje, o problema se alastra por diversos estados e países da América Latina, como Argentina, Paraguai e Uruguai, pelo livre trânsito de animais, especialmente felinos”, diz.
Doença da “roseira” ou do “jardineiro”
A esporotricose é uma doença causada por fragmentos de vegetais, espinhos e galhos contaminados em contato com a pele. Em caso de contato com uma grande quantidade, o resultado pode ser uma ação infecciosa.

A doença costumava afetar tanto os seres humanos, de modo que estava associada ao contato direto do indivíduo com um vegetal contaminado pelo fungo. Por isso, no passado, a esporotricose era conhecida como “doença do jardineiro” ou “doença da roseira”.
Nos últimos anos, no entanto, pesquisadores descobriram que dentro do gênero Sporothrix há espécies mais virulentas para animais, como o Sporothrix brasiliensis. Descoberto pelos cientistas em 2007, esse fungo “abrasileirado” tem algumas diferenças em relação a seus parentes próximos, como parede celular (estrutura celular) mais espessa, quantidade diferenciada de antígenos e microfibrilas (fibras finas) de parede mais longas.
Sintomas e tratamento
Os principais indícios de contágio são o surgimento de feridas na pele, como micoses elevadas e nodulares. Existem tratamentos atualmente, mas que podem durar, aproximadamente, de três meses a um ano, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, o professor Luciano Panagio, pontua que, “o tratamento é caro e apresenta efeitos colaterais e, portanto, também se faz importante a observância de medidas preventivas. Por isso, o projeto visa também o controle do fungo no ambiente, especialmente nos locais em que os animais permanecem a maior parte do tempo”, diz.
(*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.)