Delegado-Chefe de Proteção ao Meio Ambiente fala de tráfico de animais silvestres e repressão a crimes ambientais

Delegado-Chefe de Proteção ao Meio Ambiente fala de tráfico de animais silvestres e repressão a crimes ambientais

O tráfico internacional de animais é o terceiro maior do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas, e supera o tráfico de pessoas

O tráfico internacional de animais é o terceiro maior do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas, e supera o tráfico de pessoas. Dados alarmantes como este foram trazidos pelo titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), de Curitiba, Guilherme Dias, em sua palestra realizada na tarde desta quarta-feira (27), no Anfiteatro Maior do Centro de Ciências Biológicas da UEL (CCB).

O evento foi uma realização das Pró-reitorias de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG) e de Extensão, Cultura e Sociedade (PROEX), além do LECA (Laboratório de Ecologia e Comportamento Animal), também do CCB.

O Delegado lembra que existem muitas modalidades de tráfico de animais e nem todas são igualmente divulgadas e portanto conhecidas. Elas têm a ver com a finalidade do tráfico: para coleção, reprodução, comércio ilegal, para citar alguns poucos exemplos. Outro número assustador? Mais de 30 milhões de animais (indivíduos) são retirados da Natureza todo ano só no Brasil.

As DPMA pertencem à rede estadual de Segurança Pública e existem há cerca de três décadas, mas nasceram principalmente para a proteção da flora. Por exemplo, contra o desmatamento ilegal. Com o tempo, a sociedade deixou de admitir violência contra animais, o que motivou mudanças na legislação e ampliou a atuação da Polícia.

Guilherme Dias explica que, no que se refere a animais domésticos (pets), os casos mais comuns são de abandono. Entre os silvestres, predomina o tráfico. Nos dois casos, após resgatados, os animais devem ser tratados e depois destinados à adoção (domésticos) ou soltura na Natureza (silvestres). Se não puderem ser soltos porque não mais sobreviveriam (devido, por exemplo, à gravidade dos ferimentos, como mutilação), então eles devem ser abrigados em instituições específicas de acolhimento e proteção, para que vivam lá e, de preferência, morram de velhice.

O estado do Paraná tem muitas destas instituições, e o próprio Guilherme faz parte de uma: o Criadouro Onça Pintada. Trata-se de um criadouro conservacionista, ou seja, voltado à reprodução das espécies, não apenas o acolhimento. É aí que o Delegado enfatiza o trabalho fundamental das Organizações Não-Governamentais (ONGs) na proteção animal, já que elas ajudam a dar destino aos animais resgatados. Como o Estado não tem estrutura para tratar e abrigar todos, conta com as ONGs para promover adoção, soltura ou abrigo em santuários. E detalhe importante: “Só nós, no Brasil, realizamos este ciclo completo”, destaca o Delegado.

Para se ter uma ideia, o Criadouro Onça Pintada abriga no momento perto de 3.000 indivíduos, de 193 espécies. Entre elas, o cardeal amarelo, ave encontrada no Brasil, Argentina e Uruguai, que se destaca pela cor e por ser canora. Outra, ameaçada de extinção, é a arara-azul. Mas o Delegado já foi flagrado de mãos dadas com um macaco-aranha, primata também ameaçado de extinção pela caça, desmatamento e avanço da fronteira agrícola. De acordo com ele, um ovo de arara azul vale 50 mil euros no mercado internacional. Guilherme até conta de uma mulher que tentava embarcar com vários ovos sob a roupa num aeroporto, mas foi descoberta. Não foi presa.

Igual a um xingamento

É neste ponto, alerta o Delegado, que a legislação tem que avançar. Em termos de direitos de animais, gatos e cachorros garantiram seus avanços. São sujeitos de direito em vários casos, até em Sucessões (herança) e questões de guarda no caso de divórcio de seus “humanos”.

Por outro lado, o crime de tráfico de animais é tipificado com pena tão baixa (6 meses a 1 ano) que equivale a um crime de injúria. “Um xingamento”, exemplifica Guilherme Dias. Por isso o traficante não vai preso, mesmo em flagrante. Assim, na avaliação do Delegado, os direitos ainda são incipientes, quase simbólicos. Mas o momento é bom para debater o tema, pois a sociedade não aceita mais este tipo de violência, segundo ele.

Melhor trabalho do mundo

Certa vez, o Delegado Guilherme Dias afirmou que realiza o melhor trabalho do mundo e pode provar. Ele diz que trabalhar para resgatar animais, que ele chama de reféns, não tem preço. “Salvar vidas, retirá-los da dor e da escuridão nos dá uma grande satisfação”, exprime. E se às vezes o trabalho policial não é compreendido, no seu caso existe reconhecimento pela população. “É uma luta, mas este apoio é meu combustível para continuar”, sentencia.

Delegado Guilherme Dias: mais de 30 milhões de animais são retirados da Natureza todo ano só no Brasil (Foto: André Ridão)

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