Norte e Nordeste do PR registraram maior elevação da temperatura média pós 2000

Norte e Nordeste do PR registraram maior elevação da temperatura média pós 2000

Pesquisa do CCE analisou dados entre os anos de 1977 e 2018 e apontou que localidades se destacam em relação à elevação de temperaturas.

A elevação da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra é um fenômeno que vem sendo percebido com maior frequência após o ano 2000, representando uma das maiores preocupações da comunidade científica na contemporaneidade. Recentemente, a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) reafirmou que a tendência de crescimento é “alarmante” ao apontar que o ano de 2022 registrou a quinta temperatura mais quente da série histórica – iniciada em 1880 – e que aponta os últimos nove anos como os mais quentes da história.

Essa tendência de aumento na temperatura média no início deste século, mesmo que pouco significativa, também foi registrada no Paraná e aparece nas pesquisas desenvolvidas pela professora Deise Fabiana Ely, do Departamento de Geociências (DGEO), do Centro de Ciências Exatas (CCE) da UEL. O monitoramento leva em conta dados registrados por estações meteorológicas entre 1977 e 2018 e aponta que localidades das regiões Norte e Nordeste do estado se destacaram um pouco mais em comparação com outras no Sul do País no que tange à elevação das temperaturas.

“Estas tendências não são estatisticamente significativas, mas, em algumas estações meteorológicas, tem-se uma tendência ao aumento do número de dias com temperaturas superiores a 25ºC e 30ºC. O interessante é que quando aumentamos o limiar, que é o número de dias com 35ºC, tem-se um aumento mais expressivo nas regiões Norte e Noroeste (do Paraná). Enquanto que, diferente de outras regiões localizadas no Sul do Brasil, a média das temperaturas mínimas não apresenta ruptura na variabilidade dos dados”, apontou Deise, coordenadora de um dos eixos temáticos do Núcleo de Inteligência Territorial/Fundação Parque Tecnológico Itaipu (NIT/PTI).

O NIT foi criado há cinco anos para aproximar diferentes instituições, agregar dados e informações técnicas para fomentar o desenvolvimento de demandas em áreas como segurança hídrica e o desenvolvimento territorial sustentável. Ouça, abaixo, o áudio da professora Deise Ely:

Professora Deise Ely, coordenadora do NIT da UEL. Dados utilizados pela pesquisa foram registrados por 16 estações meteorológicas do antigo Iapar, atual IDR (Foto: André Ridão/Agência UEL).

Ela explica que os dados utilizados em sua pesquisa foram registrados por 16 estações meteorológicas do antigo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar, atual Instituto de Desenvolvimento Rural, o IDR) entre 1977 e 2018. Dentre as 16 estações, apenas quatro apresentaram tendência de crescimento nas médias das temperaturas mínimas e apenas três registraram redução da amplitude térmica diária no período. “Como vou ter um aumento das temperaturas mínimas nestas regiões, é interessante verificar o aumento das noites tropicais, noites com temperaturas com mais de 20ºC”, diz. 

Chuvas 

Já com relação às chuvas, as pesquisas lideradas pela professora apontaram que o Paraná registrou ciclos importantes desde o início do monitoramento. As chuvas, apontou, estão mais concentradas em períodos menores na última década em comparação com as décadas anteriores.

De acordo com as pesquisas, o Paraná registrou médias anuais de cerca de 1800 milímetros entre 1980 e 1999, e em torno de 1700 milímetros entre 2000 e 2009. Recentemente, no período entre 2010 e 2018, a média anual retornou à faixa dos 1800 milímetros, informa a professora. “Geralmente, no Norte do Paraná, há uma pequena redução nas precipitações no inverno. O que é bastante comum no estado, em termos da variabilidade, é que se tem, em média, de 20 a 40 dias consecutivos sem chover. Também há registros de 50 dias sem chuva. Isso impacta os cultivos agrícolas. A nossa sorte é que o período de estiagem é justamente em meados de julho e agosto”, lembra.  

Aquecimento 

Na área de Climatologia, a professora destaca linhas de pesquisa que apontam para outras explicações adversas ao impacto dos gases do efeito estufa como principal causador do aumento da temperatura média da superfície da Terra. Neste caso, são abordagens cujo foco é a interação dos oceanos com a atmosfera da Terra. “Porque o clima da América do Sul tem interação oceano-atmosfera. Recebemos muita umidade, então tudo o que ocorre nos oceanos vai interferir na nossa variabilidade climática. Em termos de variabilidade, não conseguimos bater o martelo sobre o aquecimento global porque são várias dinâmicas. Ainda há muitas perguntas para serem respondidas”, avalia.

Extremos climáticos 

Deise lembra que os trabalhos realizados no Eixo Clima da primeira etapa do NIT tiveram o objetivo de estruturar uma base de dados padronizada para monitorar e realizar análises da variabilidade climática do Paraná, de modo a preencher falhas e lacunas nas bases de dados já existentes. Desta forma, também fornecendo dados mais avançados e realizando a previsão de eventos climáticos extremos. Em breve, conta, esta nova base de dados será sistematizada e disponibilizada para pesquisadores e a sociedade de forma ampla. 

“Optamos por testar diferentes bases de dados de reanálise. Testamos as bases do CHIRPS, CPC, GPCP, GPM e do TRIM. Testamos todas e no final identificamos que a base do CPC era a que dava a melhor resposta para os dados climáticos, tanto na área de abrangência do Lago de Itaipu quanto no estado do Paraná”, explica a professora.  

Por meio de uma rotina computacional desenvolvida e testada pelos técnicos do Eixo clima e coordenada pela professora Leila Limberger, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), será possível gerar previsões dos volumes pluviométricos mensais e sazonais, que poderão ser caracterizados em virtude desta análise e incorporar índices de diferentes regiões oceânicas que atuam sobre a variabilidade pluviométrica do Paraná. “Automaticamente, ele vai calcular índices de extremos, as tendências e relação entre os oceanos e gerar uma previsão climática para cada três meses. Essa foi a contribuição da UEL e da Unioeste dentro do NIT”, diz a professora Deise Fabiana Ely. 

NIT

As informações foram apresentadas no final de abril deste ano durante a 4ª edição do Workshop do NIT, na Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI), em Foz do Iguaçu. Na ocasião, estiveram reunidos os representantes das instituições públicas envolvidas, que são a Itaipu Binacional, a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e pesquisadores das universidades. Dentre as instituições de ensino parceiras nesta iniciativa estão, além da UEL e da já citada Unioeste, a Universidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Federal do ABC (UFABC); Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

O encontro, que contou com a presença do diretor geral da Itaipu Binacional, Enio Verri, também ficou marcado pelo anúncio da ampliação das áreas de atuação dos eixos temáticos articulados no NIT. Também tiveram papel fundamental nesta iniciativa os então diretores da Itaipu Binacional Haroldo Virgílio, responsável pelo projeto e Olímpio dos Santos Filho, diretor de projetos.

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