Projeto de Artes Visuais busca entender processo criativo na produção de obras
Projeto de Artes Visuais busca entender processo criativo na produção de obras
Coordenado pela professora Vanessa Tavares da Silva, o projeto investiga a prática artística ao integrar a filosofia, literatura e silêncioEntender a ligação entre Arte, Filosofia e Educação é o propósito de um trabalho científico do Departamento de Artes Visuais. Coordenado pela professora Vanessa Tavares da Silva, o projeto “Processo criativo nas artes visuais e suas relações com a literatura, o silêncio e a paisagem” propõe investigar as fronteiras da prática artística ao integrar a Filosofia, Literatura e meditação no desenvolvimento da produção visual.
Vanessa da Silva, atualmente professora, chefe de Departamento e coordenadora da galeria de artes do curso, explica que a fagulha para a criação do projeto nasceu da sua época da tese de Doutorado em Letras, defendida em 2021. “Parti de ‘Amor Louco’, do surrealista André Breton, e a minha ideia era entender como ele formulava uma questão teórica compatível com a busca do filósofo Martin Heidegger pelo sentido de ser”, explica.
A professora relaciona a experiência narrada por Breton – que em resumo é uma concepção do amor como uma espécie de inteligência que opera na vida do ser humano — ao que ocorre no processo criativo na produção de arte, notando que em ambas as situações o que há em comum é “o tipo de entrega, tem que ter um risco, tem uma espécie de aventura nisso, tem um compromisso, um compromisso de entrega efetivo”, afirma a docente.
Metodologia
O projeto conta com 10 participantes, sendo sete estudantes da graduação em Artes Visuais (quatro deles em Iniciação Científica), uma estudante egressa e dois da pós-graduação em Letras. Os participantes estão imersos em atividades que vão desde a leitura coletiva de textos-base — como os de Sandra Rey, Rita Irwin e Belidson Dias — até a produção de trabalhos visuais (desenho, pintura, fotografia, colagem entre outros), poemas e reflexões escritas. A metodologia utilizada é a da pesquisa baseada em arte (PBA), que reconhece a prática artística como forma de investigação e produção de conhecimento. “A pincelada é um procedimento de pesquisa. Eu vou entender qual o nível de pressão, qual o tipo de pincel, que gesto que eu faço, como está meu corpo dentro dessa ação”, define a professora.
A pesquisa baseada em arte, e, de forma mais ampla, a artografia — conceito que combina os papéis de professor, artista e pesquisador —, permite que o conhecimento apareça pela prática, pelas experiências e pelo campo teórico. O foco, entretanto, não está em comprovar hipóteses, mas em compreender o processo que leva a uma produção visual, que pode ser o entendimento de como o corpo opera no gesto. ”A escolha das cores; se a tinta é mais densa ou menos densa; se a cor é uma questão, e sobre qual superfície ela estará. Porque se eu mudei de superfície, eu mudei tudo, mudei de assunto. Então que assunto é esse? Eu vou saber desse assunto conforme eu vou me envolvendo com ele e vou entendendo essas materialidades e como elas respondem, de modo mais ou menos qualificado às inquietações e percepções que tenho sobre o mundo”, exemplifica Silva.
A docente também explica que o processo teórico da produção dos alunos participantes é imediatamente derivada do processo prático, pois eles não apenas produzem, mas escrevem sobre seus processos, relacionam suas práticas com referências teóricas e artísticas, e compartilham o que aprenderam em encontros que funcionam como pequenas exposições. “A gente faz o que eu chamo de ‘Bienalzinha’, para ser engraçado. Nós temos salas com mesas amplas e vamos organizando os trabalhos sobre elas. Então quando você entra, parece que você está em uma bienal”, comenta Vanessa, usando de referência os grandes encontros para exposição de obras, como a Bienal de Arte de São Paulo ou a Bienal do Livro.

Literatura, silêncio e paisagem
A relação do processo criativo da arte com a Literatura também é central no projeto. Vanessa conta que além de textos-base, vários materiais que serviram para o estudo dos alunos foram trazidos por eles próprios, como contos e minicontos. “Nós transitamos entre textos que tinham uma particularidade grande com a pesquisa dos alunos”, afirma ela, acrescentando que os participantes também trabalharam com escrita criativa – que consiste na expressão pessoal e evocação de percepções por meio das palavras, diferente da escrita técnica, mais objetiva na narração dos fatos.
Outro aspecto investigado no processo é o silêncio como instrumento do artista que recorre à meditação. Nesse sentido, na visão da professora, a conexão entre Arte e existência também tem base na filosofia oriental, em especial no pensamento budista. Silva explica que nessa linha filosófica, na qual o indivíduo perde a noção da própria centralidade, é quando novas coisas são descobertas. “Esse é um ponto fundamental da meditação, o silêncio. Então o silêncio é essa esfera da prática (meditativa e do processo criativo) que conecta tudo, do ponto de vista conceitual e do ponto de vista do fazer”, acrescenta.
Andamento
A professora explica que os participantes, sejam de Iniciação Científica ou colaboradores, assumiram o mesmo tipo de trabalho, com o objetivo de publicar os resultados e seguir com o projeto adiante. “Agora estamos na fase do mapeamento de eventos e revistas, e essa escrita, essa sistematização da pesquisa começará a seguir para esses caminhos.
Atualmente, os estudantes estão na fase de sistematização de suas pesquisas. Após um ciclo de leituras, práticas e escritas, eles se dedicam à elaboração de textos que articulam suas trajetórias visuais e reflexivas. Para Silva, essa fase é essencial para consolidar o que já foi aprendido e dar visibilidade à produção.
*Estagiário de Jornalismo na COM.