Projeto do Departamento de Música e Teatro busca resgatar práticas carnavalescas em Londrina
Projeto do Departamento de Música e Teatro busca resgatar práticas carnavalescas em Londrina
Coordenado pelo professor Alexandre Ficagna, o projeto "Trançar o Cordão" conta com dois grupos musicais que ensaiam semanalmenteResgatar a força das marchinhas de carnaval nas ruas de Londrina é o propósito do projeto de extensão “Trançar o Cordão: Invenção e Performance com Marchinhas de Carnaval”, do Departamento de Música e Teatro. Coordenado pelo professor Alexandre Remuzzi Ficagna, o grupo surgiu a partir de encontros musicais entre amigos, hoje busca ser um movimento artístico de resgate das práticas carnavalescas e crítica social.
Alexandre Ficagna é professor do Departamento de Música e explica que a iniciativa nasceu no final de 2023, quando ele e os músicos Guilherme Mendonça e Ronaldo Prassidelli decidiram formar um cordão carnavalesco para tocar marchinhas clássicas com um novo arranjo, utilizando referências contemporâneas. Na época, o grupo era formado somente por um clarinetista, um trombonista e um percussionista, mas rapidamente cresceu e atraiu a participação de outros membros, como estudantes da UEL. “Quando a ideia se estabilizou, eu sugeri aos dois que eu pudesse estruturar um projeto de extensão. Achei que poderia ser interessante, porque nós teríamos um suporte institucional e um afluxo dos estudantes da UEL”, explica o professor.
Atualmente, o projeto conta com dois grupos principais: a “Turma do Funil” e o “Cordão da Vila Brasil” – este último convidado a participar do cortejo de pré-Carnaval da Filo Folia, que foi a abertura do festival Filo (Festival Internacional de Londrina) de 2025 – ambos compostos por músicos que ensaiam semanalmente no espaço cultural Canto do MARL, no centro de Londrina. “É um projeto extensionista que realmente surgiu a partir do trabalho com a comunidade externa, de uma proposição de integrantes músicos da comunidade externa”, afirma Ficagna.
Tradição e experimentação
Além de replicar as marchinhas, o grupo se propõe a reinventá-las, utilizando arranjos com referências do funk carioca, músicas afro-brasileiras e até a música erudita. O professor explica que marchinhas como a clássica “Sassaricando” ganham introduções com batidas de Miami Bass – um subgênero do hip hop famoso entre as décadas de 80 e 90 – e citações ao “Rap da Felicidade”, da dupla de funk carioca Cidinho & Doca; e das músicas do grupo também de funk carioca Bonde do Tigrão. Já a “Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, foi retrabalhada com um arranjo inspirado na obra musical “Bolero”, escrita para orquestra pelo pianista e compositor francês Maurice Ravel.
Para Alexandre Ficagna, a união entre as músicas carnavalescas e o funk é uma forma de dar visibilidade a dois estilos musicais marginalizados pela sociedade. “Assim como o funk, a música carnavalesca também era considerada de mau gosto e de baixo nível. Então se a música carnavalesca era pensada assim, por que não trazer o funk para junto? Então a gente ‘dobra aposta’”, afirma.
O professor explica que o projeto também é uma forma de resistência, devido à ausência de políticas públicas que garantam a manutenção do carnaval de rua em Londrina. “É um aspecto de uma ‘politicidade artística’. Você tem um espaço público esvaziado de corpos celebrando uma festa, então na medida em que você coloca esses corpos na rua e torna visível essa festa, isso é um ato político bastante contundente, a meu ver”, elabora.
De portas abertas
Atualmente o projeto conta com a colaboração de cerca de 20 integrantes, entre estudantes e membros da comunidade, e continua aberto a novos participantes, especialmente instrumentistas de sopro. Oficinas gratuitas são realizadas todas as sextas-feiras às 17h, seguidas dos ensaios do grupo às 18h, no Canto do MARL, na avenida Duque de Caxias.
“Mais à frente talvez a gente abra para outros cursos, artes cênicas, a gente vai precisar de pessoas de Comunicação para fazer assessoria de imprensa dos grupos, design para elaborar a identidade visual dos grupos. Então tudo isso em breve a gente espera poder trazer para o projeto. E quem quiser tocar e cantar, que já toca e quer vir com a gente, é bem-vindo”, finaliza o professor.
*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.