Projetos oferecem práticas manuais como alternativa ao uso deseducado das mídias digitais
Projetos oferecem práticas manuais como alternativa ao uso deseducado das mídias digitais
Ações extensionistas pensam o uso analógico como escape em um mundo tão digitalizadoAtualmente, a interação entre pessoas, sobretudo a de jovens, tem se mostrado cada vez mais escassa, seja por conta da tecnologia ou das mídias digitais. Práticas manuais consideradas analógicas nos dias de hoje, têm perdido espaço diante das telas de computadores e celulares. O simples ato de ler um livro lentamente remete a uma anacronia sem precedentes. Com isso, crises de ansiedade e de pânico têm se tornado comum entre os estudantes.
Pensando em contornar essa situação ou parte dela, o Projeto de Extensão intitulado Xilogravura: Prática de Mídias Artesanais, coordenado pelo professor Claudio Luiz Garcia do Departamento de Arte Visual, propôs aproximar estudantes de Licenciatura do curso de Artes Visuais e alunos do Colégio Aplicação (UEL), por meio de uma prática que propõe o trabalho manual como alternativa as tecnologias digitais: a xilogravura.

Segundo Claudio Garcia, a xilogravura consiste na técnica da incisão manual e direta sobre uma matriz de madeira, utilizando instrumentos de corte, como goivas, facas, formões e buris. O papel de impressão é colocado sobre a matriz, já entintada, e friccionada por trás, com uma colher de madeira ou espátula.
O docente traz um balanço do projeto que agora no início do mês completou 1 (um) ano de execução. Segundo ele, como não foi possível colocar em prática a atividade de xilogravura no Colégio de Aplicação, a ação extensionista não pode ser prorrogada.
No entanto, algumas adaptações foram feitas e reuniões semanais passaram a discutir ideias para projetos de oficinas em escolas onde os estágios e as atividades do PIBID eram desenvolvidos. Assim, os encontros serviram de “laboratórios experimentais” sobre como propor e agir pelos meios do desenho, da monotipia e da xilogravura nos Colégios onde as ações foram autorizadas.
Além disso, uma oficina foi realizada para participantes externos e o projeto foi levado para um evento da Pró-reitoria de Extensão (PROEX) realizado ano passado no Cincão (UEL e Sociedade no Dia da Saul Elkind).
Por fim, foram desenvolvidas oficinas de desenho e monotipias em Rolândia na Sociedade Ambiental Cultural e Educacional (Soame). A organização ficou por conta dos estudantes Ana Clara Ferrari e Gustavo Ruba. A atividade mencionada na sede da Associação foi estendida para uma outra ação semelhante na Sala de Gravura do Departamento de Arte Visual na UEL.

Ainda sobre o balanço do projeto, questionado sobre a importância de promover a interação entre diferentes gerações, cujo foco era voltado para práticas artesanais com fuga de equipamentos digitais, Garcia argumenta que a proposição da Xilogravura “teve o intuito de despertar outras sensações pelo fazer artesanal. Os estudantes tão habituados às redes sociais, experimentaram outro caminho, o da artesania que sugere um processo de criação e produção de conhecimento muito distinto”.
“A prática da xilogravura é histórica e se configura como um meio de reproduzir imagens sem pressa, sem a imediatez do mundo digital, exigindo uma atenção que não leva à ansiedade porque não faz parte da imediaticidade do mundo contemporâneo. Não há alienação na proposta, apenas uma recondução de um processo de produção de conhecimento e de criação artística simultaneamente ao mundo contemporâneo”, diz o professor.
A ideia foi a de reconduzir outros campos sensoriais e não substituir nenhuma das mídias contemporâneas e digitais, apenas acrescentar à estas aquilo que ficou durante anos esquecido.
Encerramento e novo projeto
Com o encerramento do projeto, segundo o professor, ficou evidente a síndrome por acesso inútil e excessivo às redes sociais, aos pequenos vídeos e demais formatos de curta duração.
Deste modo, nasceu a ideia de um novo projeto que já está em tramitação na instituição, e que agora pensa uma nova linguagem, neste caso, a leitura. E a nova proposta intitulada “Sem Expectativas Pra Cem Happenings: formação de grupo de leitura lenta, de desenho e happenings”, consiste em ler e pensar em grupo lentamente, assim, evitando uso excessivo e deseducado das mídias digitais, superando lenta e parcialmente essas crises, seguindo a premissa inicial da ideia anterior. As leituras serão em voz alta e trocadas entre os sujeitos do grupo.
Assim, eles ficarão mais próximos da literatura e mais distantes das redes. No entanto, o objetivo final que se segue entre as leituras e os desenhos são os Happenings como “pedagogia estética” usada nas avaliações sem valores numéricos, hierarquias, mas com a “tonalidades afetivas” nos desenhos.
Nos encontros semanais serão lidos lentamente alguns capítulos dos livros da bibliografia previamente selecionada, em que serão discutidas as linguagens de cada área (artes visuais e literatura). A proposta deste novo projeto foi elaborada a partir de reuniões de leituras do livro “A Queda do Céu” de Davi Kopenawa e Bruce Alberti, obra que abre o início das atividades.

Sobre as contribuições que as atividades extensionistas realizadas pela Universidade podem de alguma forma impactar, ainda que em um contexto local, a vida das pessoas, o professor acha possível resgatar para o mundo analógico uma parcela da sociedade que hoje está mais ligada ao mundo digital.
“Sim, durante a execução do primeiro projeto foram notadas algumas diferenças. E que a meta permanente agora é, contribuir para a diminuição do uso de celulares, aumentando o tempo de leitura e discussões em torno de ‘epidemias’ que avassalam a cultura de modo geral”, finaliza o docente.
*Estagiário de jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social.