Pesquisa destaca os novos rumos no treinamento de Brazilian Jiu-Jitsu
Pesquisa destaca os novos rumos no treinamento de Brazilian Jiu-Jitsu
Mestrado da UEL aposta em método de monitoramento visando melhorar o desempenho de atletas da modalidade Os esportes coletivos como o futebol, basquete e vôlei, bastante populares no Brasil e com grande reconhecimento internacional, foram fontes de inspiração para uma pesquisa concluída no Programa de Pós-graduação em Educação Física da UEL, que lança luz sobre […]Mestrado da UEL aposta em método de monitoramento visando melhorar o desempenho de atletas da modalidade
Os esportes coletivos como o futebol, basquete e vôlei, bastante populares no Brasil e com grande reconhecimento internacional, foram fontes de inspiração para uma pesquisa concluída no Programa de Pós-graduação em Educação Física da UEL, que lança luz sobre uma modalidade individual, antiga e em grande ascensão, o Brazilian Jiu-Jitsu [Jiu-Jitsu Brasileiro]. Trata-se do trabalho de conclusão de mestrado profissional intitulado “Análise da variabilidade da freqüência cardíaca com o desempenho anaeróbico e recuperação de atletas de Brazilian Jiu-Jitsu”, defendido pelo professor Eduardo Carlos Ferreira Tonani, sob orientação da professora Solange de Paula Ramos.
As análises envolveram cerca de 20 atletas de Londrina e testaram se, assim como nos esportes coletivos, o método da variabilidade da frequência cardíaca também é eficaz no treinamento de jiu-jitsu. Os professores explicam que o método avalia basicamente a modulação do sistema nervoso em relação às variáveis fisiológicas do corpo, entre elas o ritmo de contração do coração, dano muscular, dor, perda de desempenho, estresse, fadiga, além de aspectos do sistema imunológico e hormonal. Com auxílio de cardiofrequencímetros, o objetivo foi monitorar a variação dos batimentos cardíacos dos atletas a fim de avaliar se teriam uma adaptação positiva ou negativa às cargas de treino. Ainda segundo os professores, este método de monitoramento se apresenta com grande potencial de mercado em razão da facilidade na utilização e menor custo comparado a outros, além de futuramente poder colaborar na montagem de esquemas de treinamento que favoreçam a adaptação de atletas dessa arte marcial.
Os resultados da pesquisa, apresentados em fevereiro, apontaram que nem todos os componentes fisiológicos ligados ao ritmo de contração do coração analisados tiveram correlação com o desempenho dos atletas. Revelaram também que os índices que tiveram influência positiva no desempenho deles não eram os de maior importância usados para monitorar os esportes coletivos. “Isso significa que não é possível pegar o que se usa em uma modalidade coletiva e aplicar nos atletas de jiu-jitsu que é uma modalidade individual”, resumem. Apesar disso, os professores ressaltam que os resultados já identificados abrem caminho nas pesquisas da modalidade e, portanto, contribuem para o surgimento de novas análises que poderão ser usadas no monitoramento dos atletas de jiu-jitsu.
Justamente no sentido de continuar desvendando a modalidade, as investigações serão realizadas por meio de campeonatos de lutas simuladas. Eduardo Tonani explica que a ideia é simular movimentos de lutas oficiais para identificar a influência das funções fisiológicas no desempenho dos atletas durante as competições e, consequentemente, criar estratégias de treino para melhorar esses componentes fisiológicos. “Os atletas têm um componente de recuperação do ritmo cardíaco muito rápido entre uma série e outra, de forma que quanto mais rápida é a recuperação desse ritmo cardíaco, mais repetições eles conseguem fazer. Essas são medidas fáceis de serem obtidas com um cardiofrequencímetro, que podem ajudar a entender se os atletas conseguem resistir mais tempo durante as lutas ou fazer lutas sucessivas com menos fadiga”.
PARCERIA – O presente cenário é paradoxal quando se trata do Brazilian Jiu-Jitsu, já que ao mesmo tempo em que ganha cada vez mais praticantes, os pesquisadores apontam que há uma carência de estudos no país que envolvam a modalidade. Foi neste contexto que surgiu a parceria com a Academia Magoo Jiu-Jitsu, onde foram aplicados os testes para coleta de dados da pesquisa. A academia é coordenada pelo instrutor Vinicius Canevari, que coleciona vários títulos, entre eles o de campeão mundial pela Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CBJJE) em 2019. Conhecedor dos caminhos seguidos pelo Brazilian Jiu-Jitsu, Canevari reforça que o esporte de combate está se popularizando, de modo que houve um crescimento significativo no número de competições por todo o mundo. “Há dez anos a Federação Internacional de Brazilian Jiu-Jitsu (IBJJF) realizava cerca de 5 eventos por ano e só no ano passado foram cerca de 125”, pontua.
Canevari apontou uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde no final de 2018, cujos dados mostraram que a procura por lutas e artes marciais cresceu 109% entre 2006 e 2017. Na preferência dos brasileiros, os esportes de combate só não tiveram um aumento maior que as corridas, que cresceram 194%. Atualmente, de acordo com a pesquisa, cerca de 5 milhões de brasileiros praticam lutas. Outra pesquisa, realizada em 2013, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicou o jiu-jitsu como a luta mais praticada no país. Ao todo foram 8.902 entrevistados, sendo que 1,3% deles disseram praticar a modalidade, projeção equivalente a cerca de 2,5 milhões de pessoas no Brasil.
PESQUISA – Vale destacar ainda que a pesquisa do professor Eduardo Tonani foi reconhecida em um dos principais eventos científicos de lutas no ano passado. O projeto levou menção honrosa no Encontro Nacional de Artes Marciais e Esportes de Combate (ENAMEC), que reuniu pesquisadores, treinadores e atletas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Conforme Solange Ramos, os resultados servem de inspiração para que a modalidade esportiva continue sendo estudada na UEL.
Ainda de acordo com ela, a oportunidade de investigar um esporte que está crescendo em parceria com uma academia composta por atletas de ponta é única no sentido de aproximar a Universidade do público praticante de jiu-jitsu. “As descobertas feitas na área acabarão tendo um grande impacto diante do Brazilian Jiu-Jitsu como um todo, uma vez que há uma alta demanda e estamos apresentando aspectos científicos acerca da modalidade”, destaca a orientadora. Da mesma forma, Canevari se mostra otimista quanto aos resultados que a pesquisa pode acarretar ao esporte e a Magoo Jiu-Jitsu. “Em nível de competição isso significa uma ajuda que vem para somar. Pesquisas como essa podem melhorar o desempenho dos atletas e ser o diferencial para ganharmos uma competição”, finaliza.
(*Estagiário na COM/UEL – sob supervisão do editor do Jornal Notícia).
(FOTO: iStock).
Matéria publicada no Jornal Notícia nº 1.408. Confira a edição completa: