Cafeicultura brasileira precisa de investimentos, tecnologia e políticas públicas, afirma pesquisa

Cafeicultura brasileira precisa de investimentos, tecnologia e políticas públicas, afirma pesquisa

Projeto de pesquisa evidencia que o País entrega grão de baixa qualidade ao mercado internacional, embora seja o maior produtor da commodity no mundo.

Depois de cinco anos de dedicação, o projeto “Cadeia Produtiva, Mercado e Comercialização do Café no Brasil”, desenvolvido no Departamento de Economia (Cesa) da UEL, vai sendo concluído com a indicação de que a cafeicultura brasileira carece de conhecimento tecnológico, investimentos maciços e de uma política pública para viabilizar a modernização do setor. O Brasil permanece como o maior produtor mundial de café, respondendo por 30% da exportação, entretanto entrega um grão de baixa qualidade, da variedade robusta, utilizado para processamento de café solúvel, por exemplo. 

A situação reflete a escolha de um modelo de cafeicultura amparado na tradição, tamanho das propriedades e na história da produção agrícola do país, sempre baseada em grandes volumes. Segundo o coordenador do projeto, professor Carlos Caldarelli, o principal concorrente do Brasil no mercado mundial é o Vietnã, que baseia sua produção em baixos custos de mão de obra e de investimentos. Na contramão, ou seja, comercializando a chamada variedade arábica (que resulta em uma bebida de excelente qualidade) está a Colômbia, que coloca seu produto em cafeterias requintadas de todo o mundo. 

“Volume não é o principal ganho. A receita prevê conciliar preço final, quantidade e qualidade”, afirma o pesquisador. O projeto teve início em 2018 com o desafio de mapear o setor da cafeicultura brasileira e apontar caminhos e desafios para a melhoria do setor. O embrião do projeto de pesquisa foi o doutorado do professor, desenvolvido entre 2017 e 2018 nos Estados Unidos.

Ganhos em escala

A pesquisa considera o histórico da cafeicultura do país. De acordo com o professor, desde 1990, período pós-desregulamentação do mercado do café, o país decidiu expandir a produção e ganhar em escala, praticando preço baixo. Até então, o Brasil competia diretamente com a Colômbia, que organizou um modelo de produção de café de qualidade. Se antes os países praticavam preços muito próximos, hoje o café brasileiro é vendido pela metade do preço do colombiano.

O pesquisador lembra, ainda, que as diferenças de valor entre os cafés podem ser ainda maiores. Existem produtos que são vendidos em quilo e não em sacas, que recebem certificações internacionais e que tem mercado garantido. Junto com essas certificações, os cafés de altíssima qualidade recebem selos que obedecem a normativas que atestam qualidade de produção, sustentabilidade e compromissos sociais.

A pesquisa conclui que é possível que produtores, inclusive os de menor porte, produzam café de nível internacional a partir da sustentabilidade, investimento e adoção das normas internacionais. No entanto, é necessário uma adaptação do processo produtivo, que exige alto investimento em tecnologia de produção. Fato concreto é que a longo prazo compensa apostar em menor escala e ganha maior. Ele acrescenta que ainda existe o ganho social e ambiental.

Dessa forma o Brasil precisa vencer desafios como levar conhecimento tecnológico para pequenos produtores, por meio de extensão rural e criar condições para que esses agricultores consigam financiamento, com linhas de crédito que viabilizem os investimentos. Por fim, o pesquisador opina que o Governo Federal, por meio do Ministério da Agricultura, deveria definir uma política pública para a cafeicultura com foco na mudança do modelo de alta produção com baixa qualidade, passando para o plantio de variedades que produzam bebida de alta qualidade e grande potencial de mercado.  

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