Antiga coleção de borboletas traz história e memória ao Museu de Zoologia

Antiga coleção de borboletas traz história e memória ao Museu de Zoologia

Acervo é raro e foi incorporado ao museu em 2018, por uma doação do engenheiro aposentado da Prefeitura de Londrina Rudolpho Horner.

Uma coleção de borboletas raras, coletadas em Londrina na década de 1950 pelo engenheiro aposentado da Prefeitura de Londrina Rudolpho Horner, foi recentemente incorporada ao acervo do Museu de Zoologia da UEL e deverá servir de base para estudos sobre insetos da ordem Lepidoptera, que abrange borboletas e mariposas, típicos da região Norte do Paraná. A caixa com cerca de 80 exemplares foi doada à Universidade em meados de 2018 pelo próprio engenheiro aposentado. Mais recentemente, o acervo foi incorporado ao museu, por intermédio do professor Fernando Dias, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV), especialista em entolomologia.

O professor fez uma avaliação minuciosa da coleção, antes de incorporá-la ao acervo, disponibilizando-o à visitação e também como material de pesquisa. A equipe do professor está fazendo um levantamento sobre as espécies de mariposas e borboletas da região. As informações preliminares indicam que alguns exemplares da coleção são raros atualmente, alguns poucos não são encontrados, em virtude da redução de áreas verdes e de mata nativa na área urbana.

Há cerca de quatro meses o professor fez contato com o engenheiro aposentado para levantar informações sobre a coleção. Chamou a atenção o estojo e os alfinetes utilizados, bem como a conservação dos exemplares que resistiram por mais de 70 anos. O estojo é confeccionado em madeira, típico de coleções de insetos da década de 1950. Os exemplares foram afixados com alfinetes entomológicos, próprios para essa finalidade.

Valor científico da coleção é o registro da fauna de borboletas e mariposas do passado (Fotos: Pedro Livoratti/Agência UEL).

Diante de um material tão bem cuidado, o professor buscou informações na Internet. Encontrou um neto do pioneiro Rudolpho Horner no interior de São Paulo e conseguiu chegar até o colecionador. Aos 85 anos, o pioneiro reside em Londrina, devidamente aposentado e contou todos os detalhes da coleção doada à Universidade.

Valor científico

A caixa traz o nome do engenheiro Rudolpho e do seu avô, Reinold Wunche. A coleta dos insetos foi feita na década de 1950, logo após Wunche se aposentar e mudar-se para Londrina. O local escolhido para a coleta foi a chácara da família, localizada onde atualmente é o Lago Igapó I, entre a Avenida Higienópolis e a barragem, na região central. Wunche era alemão, carpinteiro de formação, fascinado pela natureza e por insetos, que conheceu a fauna brasileira em 1910, depois de ganhar uma bolsa de estudos para realizar observações no país.

De acordo com o professor Fernando, o avô de Rudolpho Horner foi o grande incentivador do neto para realizar a coleta e a coleção. Sua visão de historiador e naturalista influenciou o jovem a realizar um trabalho profissional e que serviu para conservar as espécies coletadas naquela época. O valor científico da coleção é o registro da fauna de borboletas e mariposas existentes no tempo pretérito. Trata-se da mais antiga coleção de Lepidopteros de Londrina. Diante dessas informações, o professor pretende publicar um artigo científico relatando o fato.

Professor Fernando acredita que a coleção é a semente dos estudos de entomologia em Londrina.

Valor histórico

Entre outras informações coletadas pelo professor Fernando estão o cenário histórico e a trajetória da família Horner em Londrina. Rudolpho é engenheiro civil de formação, pioneiro na Prefeitura de Londrina, tendo influenciado e participado de decisões fundamentais para a cidade como a elaboração do primeiro Plano Diretor e a preservação dos mais de 70 fundos de vale existentes em todo o perímetro urbano.

O avô, Reinold Wunche, migra definitivamente para o Brasil em 1922, se estabelecendo inicialmente em Rio Claro (SP). No Brasil, ele utilizou sua experiência como naturalista e realizou diversos trabalhos de consultoria sobre meio ambiente. Essa atuação influenciou o filho, Max Wunche, que se tornou um colecionador e taxidermista reconhecido no Brasil, sendo apontado como um dos fundadores do Museu de História Natural de Campinas, em 1939.

A filha de Wunche, Herta Wunche, se casa com Ernesto Horner. O casal acaba vindo residir no Distrito da Warta, na zona norte de Londrina, provavelmente na década de 1940. Da união do casal, nasce o pioneiro Rudolpho. Por volta de 1950, Wunche se aposenta, e também se muda para Londrina quando passa a incentivar o neto a realizar coletas, preparar materiais e iniciar uma coleção de insetos. Nessa época, Rudolpho era estudante do Ensino Médio no Colégio Estadual de Londrina, atual Marcelino Champagnat. Segundo ele contou ao professor, naquela época era comum adolescentes fazerem coleção de selos, figurinhas e até carteira de cigarros.

“Meu avô era naturalista amador, apaixonado pela natureza. Impressionado com a profusão e diversidade de borboletas em Londrina, onde ainda haviam locais nativos de Mata Atlântica, ele me sugeriu guardar as espécimes mais notáveis, em uma respeitosa coleção. Os instrumentos agulhas e alfinetes próprios ele os tinha trazidos da Alemanha. Com sua habilidade de marceneiro, confeccionou o bastidor de armar e a caixa para guardar. Não foi feita a tampa de vidro por ser problemática a vedação. As borboletas coletadas foram as comuns do ambiente em que eu vivia, a região do vale do Ribeirão Cambé, no trecho entre a atual Avenida Higienópolis e a represa Cambé”, relatou o pioneiro ao professor, em agosto passado.

Ainda de acordo com o professor, a caixa doada à Universidade representa a semente dos estudos de entomologia realizados em Londrina. Antes dessa iniciativa, por volta de 1944, o pesquisador da área Bruno Pohl esteve na cidade para coletar material (na verdade, as coletas foram em toda a região Sul e Sudeste do Brasil). Parte desse material está acervado no Museu de Zoologia de São Paulo.

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