Rato “protagoniza” minidocumentário sobre uso de animais em laboratórios
Rato “protagoniza” minidocumentário sobre uso de animais em laboratórios
Objetivo do projeto de Extensão é produzir um registro audiovisual sobre comportamento de ratos em laboratório, "estrelado" por um simpático ratinho Wistar branco.À frente da disciplina Análise Experimental do Comportamento, do curso de Psicologia (CCB) da UEL, o professor Guilherme Bracarense Filgueiras está desenvolvendo um projeto de Extensão que prevê a produção de um minidocumentário envolvendo o uso de ratos Wistar como modelos de análise. O objetivo é produzir um registro acadêmico e histórico sobre o trabalho desenvolvido na disciplina, que oportuniza aos alunos testarem princípios básicos da Análise Experimental do Comportamento, desenvolvendo a sua autonomia no processo de ensino e aprendizagem, bem como a prática da produção de relatórios. Por isso, destaca o professor, “o foco da disciplina está nos alunos e não nos ratos”.
A ideia de produzir um registro audiovisual sobre o comportamento dos ratos, que representam 90% do total de animais usados em experimentos, surgiu no contexto da autorização de uso pela Comissão de Ética do Uso de Animais (CEUA) da UEL, em abril do ano passado. Desde então, alguns registros já foram realizados e irão compor o material audiovisual, que deverá ter até 25 minutos de duração, em linguagem não acadêmica.
Visando minimizar o sofrimento, uma série de regras foram expedidas pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) nos últimos anos. As principais regras estão inseridas na Resolução Normativa nº 38 do Concea, que é de 2018.
Está proibido, por exemplo, o uso de animais em atividades didáticas demonstrativas e observacionais que não objetivem o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e competências dos discentes envolvidos. Embora este quesito também conte com exceções à regra geral, o professor destaca que muitos cursos de Psicologia no Brasil acabaram compreendendo o critério de uma forma equivocada, abandonando o uso de ratos. É neste contexto que o registro dos experimentos em vídeo surge como uma solução, embora, avalia Filgueiras, os animais já não eram submetidos a situações que produziam sofrimento.
“Basicamente, são manipulações de eventos e o animal vai ter o estresse natural de ser manipulado, mas não há nada que produza sofrimento. O que envolve estresse no animal é a privação de água, mas isso ocorre por, no máximo, um dia, e eles suportam muito mais do que isso. Não há nenhum impacto renal, por exemplo”, explica.
Análise do Comportamento
Fornecidos pelo Biotério Central da UEL, os ratinhos são analisados na conhecida “Caixa de Skinner”, experimento criado pelo psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner, pai da teoria behaviorista (comportamental). Na prática, os animais acionam uma alavanca que promove a liberação de água. No entanto, parâmetros são alterados, como a necessidade de repetir o acionamento por diversas vezes para se obter a mesma quantidade de água.
“A teoria entende que o comportamento é regido por leis e uma das principais leis diz que o nosso comportamento é alterado por consequências. Se mudamos as consequências o comportamento tende a mudar? É basicamente isso. Então, conseguimos fazer manipulações de variáveis e analisar o efeito no comportamento do rato. E, claro, seguimos alguns protocolos e os alunos discutem”, explica o professor.
O projeto de Extensão ganhou o nome de “A vida do rato no laboratório operante” e a equipe conta com nove graduandos de Psicologia do 2º e 3ª, além de um colaborador externo. As atividades seguirão no contexto do projeto até meados de 2025, tendo como “protagonistas” em cena estes personagens amados e temidos por muitas pessoas, porém muito explorados pela cultura pop. Resta saber se o documentário ganhará um título expressivo, a exemplo de filmes como “O Pequeno Stuart Little” (1999), “Um Ratinho Encrenqueiro” (1997) ou “Ratatouille” (2007).
“Um dos pontos mais importantes é a capacidade de produzir análises sobre o padrão comportamental de cada rato. Usamos o Winstar (branco), mas você tem um que aprende mais rápido e outro mais devagar, e os alunos vão anotando essas variações. Desta forma, os alunos mesmos chamam a responsabilidade para si no sentido de alterar a forma que estamos ensinando. “Se o animal não está aprendendo, o aluno precisa mudar a forma de tentar ensinar. É o que existe de mais rico em uma aula com rato. Os alunos percebem isso de uma forma muito interessante”, conclui o professor.