Pesquisas com peixes de água doce sul-americanos desvendam sua evolução e descobrem novas espécies
Pesquisas com peixes de água doce sul-americanos desvendam sua evolução e descobrem novas espécies
Projeto reúne pesquisadores no estudo da evolução de uma família de peixes de água doce encontrada em toda a América do Sul, da Colômbia à Argentina.Pesquisador do Laboratório de Ictiologia (ligado ao Museu de Zoologia da UEL), o professor José Luís Olivan Birindelli (Departamento de Biologia Animal e Vegetal) foi contemplado, pela segunda vez, ainda em 2024, com uma Bolsa Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua pesquisa também já recebeu, em outras fases, recursos da Fundação Araucária.
O projeto contemplado reúne estudantes, professores e colaboradores externos no estudo da evolução de uma família de peixes de água doce (Anostomídeos) encontrada em toda a América do Sul, da Colômbia à Argentina. Essa enorme família possui cerca de 150 espécies, que podem variar de 7 a mais de 60cm de comprimento.
Entre os mais conhecidos, estão o piau, a piapara e o piavuçu (ou piau-açu). Este, por exemplo, pode chegar a 5kg. Já a piapara é famosa pela pesca promovida periodicamente no rio Paraná. São, enfim, espécies de grande importância comercial, pois vão às mesas dos brasileiros. O prefixo “pia” ou “piau” indica uma característica do peixe – as manchas.
São conhecidos também como peixes neotropicais. O termo designa espécies biogeograficamente localizadas, ou seja, uma fauna encontrada em uma região determinada, levando em conta até a História geológica do continente. A América do Sul, no caso, depois de se separar da África (dividindo o supercontinente Gondwana), ficou isolada até se ligar à América do Norte pela Central. Estes milhões de anos, naturalmente, tiveram impacto na evolução das espécies.
Uma família tão numerosa apresenta também uma variedade de condições. Embora seja uma família de notável sucesso, já que se diversificou e se disseminou pelo continente relativamente rápido, em termos de evolução (40 milhões de anos), apresenta algumas espécies que sofrem perigo de extinção e, para variar, por ação antrópica. As usinas hidrelétricas, por exemplo, eliminam os trechos de correnteza necessários para o ciclo de vida dos peixes.
Por outro lado, só os pesquisadores da UEL já descobriram cerca de uma centena de novas espécies, tudo devidamente documentado. Um artigo sobre 70 espécies acaba de ser publicado na revista Neotropical Ichthyology: Confira aqui. O estudo apresenta uma nova hipótese de evolução, propõe uma nova classificação e descreve um novo gênero a partir de análises de DNA e características morfológicas únicas, como os dentes curtos (brevidens).
Coletas
O projeto conta com parcerias com outras instituições e pesquisadores em razão das várias atividades desenvolvidas, como visitas técnicas, consulta a coleções e trabalho de campo, a exemplo da coleta de indivíduos para análise. Através de recursos de um edital da Fundação Araucária, por exemplo, o projeto realizará coletas no Amapá e em Minas Gerais. E mês passado o projeto foi contemplado com recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) – foram R$ 4 milhões para museus e coleções. Para se ter uma ideia, o Museu de Zoologia da UEL possui 23 mil lotes e 300 mil exemplares de peixes, disponíveis para pesquisa.
Participam do projeto, além de Birindelli, outros dois docentes do BAV, um professor norte americano, um mestrando, três doutorandos (todos bolsistas da CAPES), e três estudantes de Iniciação Científica (graduação), dois deles bolsistas.
Os resultados têm sido disseminados em eventos científicos e publicações, e uma defesa de Mestrado será feita mês que vem – um estudo da evolução de uma espécie específica, da fase embrionária à adulta. Tal perspectiva é capaz de levar a informações importantes da espécie em relação ao gênero e à família, rastreando pontos em comum e diversificações no decorrer do tempo.