Pesquisa aborda as necessidades de pertencimento e informação de mães de pessoas com surdez
Pesquisa aborda as necessidades de pertencimento e informação de mães de pessoas com surdez
Pesquisa de campo faz parte de tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UEL.A tese de doutorado “A competência em informação e a necessidade de pertencimento das mães de pessoas com surdez”, de Ana Paula Pereira, investiga a forma como mães de pessoas surdas lidam com informações e as relações de pertencimento ligadas a isso por meio de uma pesquisa de campo. O trabalho foi orientado pela professora Adriana Rosecler Alcará, do Departamento de Ciência da Informação, do Centro de Educação, Comunicação e Artes da UEL, e foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI).
O estudo foi iniciado em 2020 e concluído em dezembro de 2024. Essa e outras pesquisas orientadas pela professora Adriana integram o projeto “Competência em informação em ações inclusivas nas bibliotecas: um estudo na perspectiva da Teoria da Autodeterminação e das Crenças de Autoeficácia”.
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A pesquisa leva em conta o conceito de competência informação, que, conforme as pesquisadoras apontam, consiste em um processo de desenvolvimento das pessoas e nas habilidades delas para aprender e lidar com informações no cotidiano. De acordo com as pesquisadoras, isso está relacionado com habilidades de coleta, seleção, uso e compartilhamento de informações. Elas também explicam que o conceito pode ser aplicado a mães de pessoas com surdez nas formas como elas se comunicam com os filhos, aprendem sobre os direitos deles, aprendem a conversar sobre surdez e criar vínculos, entre outros conhecimentos importantes para passar por momentos da vida.
Em sua dissertação de Mestrado, Ana Paula já havia trabalhado com pais de pessoas surdas, contemplando pais e mães. Para o Doutorado, elas escolheram focar nas mães, já que notaram maior participação delas. Além disso, a pesquisa aborda a dimensão do pertencimento, ou seja, a necessidade psicológica de criar vínculos com outras pessoas. As pesquisadoras contam que o grupo escolhido para a realização do estudo foi uma instituição especializada na área da surdez da cidade de Ibiporã, no Norte do Paraná, já que essa organização também participou da pesquisa de mestrado e foi receptiva ao trabalho.
Foram realizadas entrevistas com mães surdas e ouvintes, além da aplicação de questionários para o grupo e para os funcionários da instituição. Nas entrevistas, foram feitas as mesmas perguntas para mães com surdez e mães ouvintes, perguntas relacionadas à experiência de criação dos filhos com surdez e à busca por informações. Já o questionário foi diferente para os dois grupos, mas também seguiam esse tema. Outra etapa do estudo foi a coleta de dados a partir da observação da comemoração do Dia Nacional dos Surdos da instituição, considerando as atividades desenvolvidas e a participação das pessoas.
Ana Paula e Adriana esperam que esse trabalho demonstre o papel da competência em informação na qualidade de vida das pessoas. “Os resultados indicaram que a competência em informação pode fazer a diferença na vida das mães e precisa ser desenvolvida com diferentes grupos, especialmente aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade”, explicam as pesquisadoras. Isso também pode trazer contribuições no desenvolvimento de ações com a comunidade em questão, com destaque para ações em bibliotecas.
Elas também expõem quais são algumas das conclusões obtidas pelo estudo. Segundo as pesquisadoras, foi possível notar que questões como aprender Libras e outras formas de comunicação em família, aprender a buscar apoio em instituições voltadas à surdez e saber buscar informações sobre surdez, educação e direitos são habilidades importantes para o desenvolvimento das mães. Também foram observados fatores relacionados ao sentimento de pertencimento desse grupo. Entre eles estão os estados emocional e psicológico das mães, as experiências de vida delas, o contato com pessoas surdas e a participação nas atividades da instituição.
As pesquisadoras ainda apontam quais são as variáveis que afetam a competência em informações dessas mães. Elas citam “as dificuldades para lidar com o diagnóstico e com a surdez; as necessidades informacionais e dificuldades que as mães possuem; a motivação; o contexto (entorno) em que as mães estão inseridas e suas condições econômicas; ambientes acolhedores; oportunidades de compartilhar informações e experiências positivas e negativas; barreira comunicacional e barreira atitudinal; habilidade para manter relações saudáveis com os profissionais e outros familiares; formação de parcerias com outras instituições ou com outros profissionais e oferta de ações educativas”.
De acordo com Ana Paula e Adriana, o estudo demonstra a importância de que mães de pessoas surdas se sintam inseridas no universo da surdez para que também se sintam motivadas a aprender e desenvolver habilidades relacionadas à competência em informação. Com isso, as mães também podem ajudar na orientação de seus filhos. A doutora e a professora também destacam que mais pesquisas são necessárias para ampliar esses resultados.
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.