Projeto da UEL estuda resiliência ecológica de fragmentos florestais
Projeto da UEL estuda resiliência ecológica de fragmentos florestais
Contemplado com bolsa produtividade desde 95, o projeto investiga o papel das aves na recuperação de ecossistemas e no planejamento da conservação ambiental.Projeto da Universidade Estadual de Londrina (UEL) pesquisa a ecologia das aves em fragmentos florestais no norte e oeste do Paraná. Coordenado pelo professor Luiz dos Anjos, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal, o principal objetivo do projeto é avaliar o potencial de recuperação desses fragmentos florestais medindo, por meio da diversidade funcional das comunidades de aves, a resiliência ecológica desses ambientes.
Esta pesquisa sobre aves em fragmentos florestais teve início no Doutorado do pesquisador, em 1988, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Lá, Luiz dos Anjos estudava comunidades de aves em fragmentos florestais dos Campos Gerais, no Paraná, onde os fragmentos eram naturais, ou seja, sempre tiveram aquele tamanho e formato. Isso o permitia analisar como o tamanho das áreas influenciava a diversidade de aves.
Quando Luiz dos Anjos chegou à UEL, em 1991, passou a aplicar a mesma metodologia nos fragmentos florestais do norte do estado, que surgiram como resultado do desmatamento. A partir de 1995, o professor conquistou a bolsa produtividade do CNPq, que é renovada desde então.
No início do projeto na UEL, a pesquisa era focada apenas em fragmentos florestais próximos a Londrina, mas com o tempo a pesquisa se expandiu até Foz do Iguaçu. “Então, são muitos dados que a gente vem coletando ao longo do tempo, e que visam justamente ver como nós podemos atuar no manejo para aumentar a biodiversidade ou manter a biodiversidade em determinado local”, explica o professor.
O projeto conta com a colaboração de docentes do CCE para auxiliar nas estatísticas de mapeamento de aves nos fragmentos florestais. Além disso, integram a equipe de pesquisa três alunos de mestrado, dois alunos de graduação desenvolvendo TCCs e dois alunos de Iniciação Científica.

Contexto Histórico
Luiz dos Anjos conta que, antes da colonização, a região norte do Paraná era uma floresta contínua, do tipo Estacional Semidecidual, muito rica em espécies de aves. Porém o norte do Paraná foi sendo desmatado em função do comércio de madeira e posteriormente para a ocupação agrícola e agropecuária. Isso aconteceu também na região oeste do estado, perto de Foz do Iguaçu. Diante disso, sobraram apenas alguns fragmentos de floresta, insuficientes para manter a fauna original.
“Alguns desses fragmentos de floresta são de grande porte, mas a maioria são muito pequenos, a grande maioria, mais de 90% deles têm menos de 100 hectares. Isso é insuficiente para manter a avifauna original. Então, muitas espécies são extintas localmente”, explica o professor.
Resiliência Ecológica e Diversidade Funcional
A resiliência é um conceito da Física que explica a propriedade que alguns corpos têm de voltar à sua forma original mesmo após terem sofrido uma deformação elástica. Na Biologia, a resiliência ecológica é a capacidade de um sistema de se manter no equilíbrio original, uma ideia surgida na década de 70.
O professor explica que todas as mudanças sofridas por esses fragmentos florestais causaram um desequilíbrio na organização da comunidade de aves, e isso é analisado por meio da diversidade funcional.
“Dentro do conjunto de aves que existem no fragmento, tem lá as que se alimentam de frutos e ajudam na dispersão de sementes, as que controlam a população de insetos, as que são predadoras, por exemplo, as aves de rapina, que predam os vertebrados, então, controlam a população de vertebrados. Tem aquelas que fazem a polinização das flores, os beija-flores, por exemplo. Então, tem uma organização das funções que elas realizam no ecossistema”, contou Luiz dos Anjos.
Dentro do projeto, é utilizada essa diversidade funcional de aves para avaliar a resiliência ecológica e o potencial de recuperação dos fragmentos florestais. “A ideia é ver aqueles fragmentos florestais que estejam em situação melhor para conservação. Então, tem alguns que são até grandes, porém, estão muito isolados e cercados com um único tipo de plantação, por exemplo, soja. Esses tendem a ter uma baixa resiliência ecológica. Às vezes, um fragmento de menor tamanho, mas perto de outros fragmentos e, às vezes, com uma heterogeneidade maior da paisagem, favorece que ele tenha uma maior resiliência ecológica”, comentou o professor.
A pesquisa do professor Luiz dos Anjos utiliza como referência o Parque Nacional do Iguaçu, onde as comunidades de aves estão bem preservadas e são monitoradas pelo projeto anualmente, nos meses de primavera, há mais de 10 anos. No decorrer das pesquisas é observado a diversidade funcional dos fragmentos florestais e estes são comparados com o Parque Nacional do Iguaçu.
A abordagem da diversidade funcional é bem recente na Ecologia e está em rápido desenvolvimento. “Tem um procedimento na abordagem da diversidade funcional que você compara a referência com o fragmento e ele dá uma medida, uma percentagem de, vamos dizer, sobreposição das funções. Quanto maior for essa sobreposição, maior o potencial de resiliência. É dessa forma que nós avaliamos as comunidades de aves e os fragmentos e aí a gente consegue determinar a qualidade ambiental deles. Essas métricas atuais permitem você estabelecer bem o potencial de resiliência de cada fragmento.”, relata Luiz dos Anjos.

Outras abordagens
Além dos fragmentos florestais, o projeto também analisa as espécies de aves que aparecem em áreas de restauração de árvores nativas. “Nós analisamos como é montada a comunidade. Essas funções de polinização, de dispersão, como é que elas aparecem nessas áreas que vão se recuperando”, comenta o professor.
Luiz dos Anjos expõe que quando é identificado um fragmento florestal com alta resiliência ecológica, o ideal é que haja uma área de restauração ao lado, aumentando esse fragmento e acelerando o processo de chegada de novas espécies de aves. Essa atitude é importante principalmente no que diz respeito às mudanças climáticas, que causam um estresse ainda maior para o fragmento. O professor observa que a restauração ecológica é uma forma de planejar o futuro pensando em sustentabilidade.
Outra abordagem do projeto acontece na Reserva Biológica das Perobas, também há mais de 10 anos em monitoramento. Antes de se tornar uma unidade de conservação, essa reserva sofreu um corte seletivo de árvores em uma pequena área, o que fez com que aves de fora ingressassem na floresta, o que causou um desequilíbrio na comunidade. “Isso dá uma defasagem na resiliência ecológica. Se comparar essa área da Reserva Biológica das Perobas com o Iguaçu, o Iguaçu tem um número menor de espécies. Lá na Reserva tem um fluxo muito grande de espécies, só que vai ocorrer extinção no futuro. Então, nós queremos ver se ela se recupera ao ponto de voltar a ser como Parque Nacional do Iguaçu”, conclui Luiz dos Anjos.
Técnica de campo
Para analisar e coletar as informações para estudo, é utilizada a técnica de campo de amostragem por pontos de escuta. A técnica consiste em a equipe ir até determinado ponto do fragmento e, além de registrar a espécie, fazer uma estimativa do tamanho populacional das espécies naquele fragmento.
O professor Luiz dos Anjos explica que no passado essa técnica era feita de maneira manual, que consistia em ficar no fragmento ouvindo os pássaros para identificar as espécies e registrá-las. Esse método era mais caro e demorado, porque o professor precisava ir em cada fragmento florestal e ficar lá por dias.
Hoje em dia, a amostragem é feita com um gravador que fica no fragmento por 10 dias. O conteúdo da gravação é colocado em um aplicativo que identifica as espécies, o que tornou o trabalho mais rápido. O professor avalia que o aplicativo ainda não é tão preciso, mas que está evoluindo. “O aplicativo tem inteligência artificial, isso faz com que ele possa ser aprimorado com o tempo. Então, nós estamos trabalhando nessa fase, porque se você tiver um gravador autônomo trabalhando, a eficiência da amostragem é maior, você pode amostrar maior número de fragmentos”, explicou Luiz dos Anjos
*Estagiária de jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social.