Presidente do CNPq abre XXIX Semana da Física da UEL
Presidente do CNPq abre XXIX Semana da Física da UEL
Professor Ricardo Galvão proferiu palestra sobre o potencial transformador do cientista, sob os aspectos da Ciência, Política e Desenvolvimento NacionalNesta segunda-feira (20), o professor Ricardo Magnus Osório Galvão, atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), proferiu palestra na Semana de Física da UEL deste ano, logo após a solenidade de abertura, para um público de estudantes e professores de várias instituições de ensino superior, como a UFPR e UTFPR. Galvão é graduado em Engenharia de Telecomunicações (UFF), Mestre em Engenharia Elétrica (Unicamp), Doutor em Física de Plasmas Aplicada (Instituto de Tecnologia de Massachusetts/EUA) e Livre-Docente em Física Experimental pela USP, instituição pela qual se aposentou.
Em sua trajetória, foi diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), presidente da Sociedade Brasileira de Física e membro do Conselho Cientíico da Sociedade Europeia de Física. Desde fevereiro de 2023 é presidente do CNPq.
É com toda esta experiência que ele levou ao público o percurso da Física pelos séculos até chegar ao conhecimento atual a respeito do clima e das variações térmicas. Galvão citou, por exemplo, o francês Jean-Baptiste Fourier (1768-1830), o primeiro a sugerir o efeito estufa, embora não tivesse usado este termo. Em 1824, ele afirmou que a atmosfera terrestre age como um isolante térmico, dificultando que escape para o espaço.
Outro nome importante citado foi o do irlandês John Tyndall (1820-1893). Além das descobertas sobre o comportamento dos glaciares e magnetismo, o físico ficou mais conhecido pelos estudos da radiação “quente”, só mais tarde chamada de infravermelha, associando-a ao calor atmosférico. Depois de Tyndall veio o esquema básico do mecanismo de absorção e refração da luz solar, presente em qualquer livro didático da Educação Básica.
O professor Galvão falou ainda da contribuição do sueco Svante August Arrehius (1859-1927), que não era físico, mas químico, e em 1896 publicou um artigo sobre o efeito estufa; do engenheiro inglês Guy Stewart Callendar, que associou o aumento de gás carbônico com o aumento da temperatura; e do climatologista norte-americano Charles David Keeling (1928-2005), que estudou o gás carbônico na atmosfera.

Atuação social do cientista
Para além das descobertas científicas, o presidente do CNPq defendeu uma atuação social do cientista, e que há muito o que fazer neste sentido. Ele lembrou, por exemplo, que embora o governo alardeie a imagem de um país produtor de energia limpa, o Brasil é o sexto maior emissor de carbono do mundo.
O cientista pode contribuir, ainda, para a disseminação correta do conhecimento científico. Para ele, as mídias sociais levam informação, mas não conhecimento à sociedade. E mais: acabam produzindo uma ansiedade por resultados rápidos que levam a resultados rasteiros. A Ciência deve, assim, alcançar a sociedade e, ao mesmo tempo, fundamentar e buscar o estabelecimento de políticas públicas, de educação, inovação e desenvolvimento social.
O palestrante observou que os cientistas também têm sua cota de responsabilidade neste cenário indesejado. São vários os exemplos de publicações com dados enganosos, plágios e estudos nada éticos. Galvão lembra o caso da “descoberta” do elemento químico 118, revelada anos depois como uma fraude.
Ao lado destes aspectos, ainda existe o problema do negacionismo científico, que para Galvão é menos um efeito ideológico religioso e mais uma conduta intencional para gerar falsas controvérsias na sociedade e criar uma pseudociência.
Iniciativas
Em seu âmbito de atuação, o CNPq atua em algumas frentes, segundo seu presidente. Uma das iniciativas é o Programa Brasileiro de Inteligência Artificial. E há os programas voltados aos eventos extremos e mudanças climáticas. Citou também o movimento “Cientistas Engajados”, que defende a democracia e maior representatividade da Ciência na esfera política. Premiar cientistas (como com o Prêmio Jovem Cientista) e garantir mobilidade para cientistas brasileiros no exterior. Exemplo é a participação brasileira no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), maior laboratório de física de partículas do mundo.
O CNPq ainda apoia a disseminação do conhecimento científico, a realização de Olimpíadas estudantis e outras ações afirmativas, como a concessão de bolsas. Por outro lado, o presidente do CNPq reconhece que apenas o setor público é incapaz de absorver todos os cientistas formados, por isso a indústria deve investir na inovação e o empresariado precisa se sensibilizar quanto à contribuição dos pesquisadores. Contudo, os teóricos também devem mudar sua mentalidade, e não se fechar em pesquisas puramente teóricas.
