Pesquisadores da Atividade Física se encontram na UEL

Pesquisadores da Atividade Física se encontram na UEL

Os pesquisadores convidados desenvolveram o tema no qual são especialistas – a atividade física

O Centro de Educação Física da UEL recebeu, nesta semana, três referências no estudo da Atividade Física: os professores José Cazuza Farias Junior, Sebastião Gobbi e Dartagnan Pinto Guedes. Farias é Doutor em Educação Física pela UFSC, área de concentração Atividade Física Relacionada à Saúde, e leciona disciplinas nas Universidades Federais de Pernambuco e Paraíba. Já Gobbi, Doutor pela Universidade de Waterloo (Canadá), foi professor na Unesp/Rio Claro e também concentrou suas pesquisas em Atividade Física e Saúde, particularmente no envelhecimento e capacidade funcional. Dartagnan, por sua vez, formou-se na UEL, onde foi docente, e se doutorou na USP. Lidera o Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física Relacionada à Saúde, criado em 1994 e, desde 1998, é Bolsista Produtividade em Pesquisa pelo CNPq.

Acompanhados da Chefe e do Vice-chefe do Departamento de Educação Física da UEL, Karina Elaine de Souza Silva, e Crivaldo Gomes Cardoso Junior, os professores convidados desenvolveram o tema no qual são especialistas – a atividade física, que é muito mais do que sua definição vernácula: “qualquer movimento corporal que resulta em gasto de energia acima do nível do repouso”.

Professores Karina Elaine de Souza Silva e Crivaldo Gomes Cardoso Junior, Chefe e Vice-chefe do Departamento de Educação Física da UEL, acompanharam os convidados (Foto: André Ridão)

Mas antes: quando se fala no corpo físico, qual a compreensão? Quatrocentos anos atrás, o filósofo francês René Descartes (1596-1650) afirmou que o corpo humano é uma máquina, com sua mecânica peculiar mas regido pela Física, e separado da mente. Séculos se passaram e novas concepções surgiram, trazidas por exemplo pelos austríacos Sigmund Freud (1856-1939), pai da Psicanálise, e pelo monge Gregor Mendel, pai da Genética. E ainda, o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que situou o corpo como um palco sobre o qual relações de poder disputam espaço.

Para os pesquisadores de Atividade Física, a analogia cartesiana ainda é válida: o corpo humano é uma máquina, mas com suas características próprias, dentro de um contexto diferente dos anteriores. Para o professor Dartagnan, por exemplo, os seres humanos buscam prazer corporal, o que nem sempre, porém, significa ser saudável. Um medicamento pode ser amargo, e uma atividade física pode parecer agressiva ou dolorosa. Não existe pílula de endorfina nem exercício físico injetável, ele ilustra.

O professor José Cazuza avalia que a ideia de corpo/máquina foi ganhando novos contornos, conforme o conhecimento foi avançando. Quando se pensa no corpo como força de trabalho, por exemplo, está ali uma ideia de “máquina”, que deve ser útil e produtiva. Mas é também uma “máquina” com uma dimensão afetiva, espiritual, e que exige “manutenção”, ou seja, cuidados e autocuidados, o que implica em acesso à saúde, relações sociais e muitos outros aspectos. Na saúde para o trabalho, significa trabalhar para reduzir as comorbidades e aumentar a produtividade. No esporte, quer dizer melhorar o desempenho e, neste particular, as constantes quebras de recorde atestam o sucesso da Ciência, destaca o especialista.

Professores José Cazuza e Dartagnan: o corpo humano é uma “máquina”, com num contexto e com características específicas, que exige cuidados e autocuidados (Foto: André Ridão)

Já o professor Gobbi, por sua vez, vê uma grande distância entre o discurso e a prática, além da falta de uma abordagem holística do corpo humano, ainda que o multiprofissionalismo tenha se fortalecido. Ele lembra que existem muitas determinantes sociais que atuam sobre a saúde do corpo e, dentro de seu principal foco de estudo, a funcionalidade do corpo com o envelhecimento, observa que esta extrapola o conceito estrito de “máquina”.

Atento, o professor Crivaldo retrocedeu mais ainda na História, lembrando o poeta romano do século I, Décimo Júnio Juvenal, que cunhou uma expressão muito conhecida até hoje: “Mens sana in corpore sano” (“Mente sã em corpo são”), o que aponta para a compreensão integral do ser humano, um ser relacional, que se socializa, e que pratica atividades físicas tanto no esporte quanto em atividades cotidianas.

Políticas e adesão

Para o professor Dartagnan, o conceito de saúde tem se aperfeiçoado, e existem exemplos positivos de políticas públicas, como o Sistema Único de Saúde. O problema está na falta de adesão da população aos programas oferecidos, e isso passa indubitavelmente pela limitação na formação da Educação em Saúde, que para ele deveria ser uma disciplina escolar, do nível básico ao superior: a verdadeira “Educação Física”.

José Cazuza assinala que as pesquisas são mais que consolidadas: o Brasil é o quarto país que mais produz Ciência nesta área. Por outro lado, em muitos casos a atividade física é apenas um eixo dentro dos programas, e não foram adequadamente colocados em prática. O conhecimento avançou, pois ninguém mais diz que “saúde é ausência de doenças”, mas concorda que falta formação adequada, escolar, e conectada a outras áreas, inclusive fora da Saúde, como o Direito, a Arquitetura e a Sociologia. A atividade física está na pauta dos debates, mas precisa se transformar em prática cultural da sociedade.

O professor Gobbi segue no mesmo sentido, reafirmando a falta de implementação adequada das políticas, apesar da existência de discussões e fundamentos legais. Alguns entendimentos estão pacificados na sociedade, como os benefícios da atividade física: ninguém discorda. Mas é necessário um olhar ao mesmo holístico e individualizado. A atividade para um idoso não é a mesma para uma criança. E falar de atividade física para alguém que caminha 2km até o trabalho pode parecer inadequado. No fim, trata-se também de encarar a atividade física menos como necessidade, e mais como prazer.

Mídias

Diante deste cenário, para onde ir? Gobbi entende que ainda é necessário lançar mão de alguns “bordões” para conseguir adesão da população. A atividade física é benéfica, mas dentro de situações e contextos específicos. Neste aspecto, a mídia pode ajudar.

O professor Cazuza inicialmente concorda, mas observa que os pesquisadores devem ter mais voz, mais espaço. Ou seja, os comunicadores e os veículos deveriam procurar mais os centros de pesquisa para falar de atividade física. Por outro lado, defende uma “Ciência aberta”, isto é, “traduzida” para a sociedade, com debate ampliado. A mídia, por sua vez, tem papel fundamental, mas deve agir com responsabilidade social. Ele critica, por exemplo, a prática da propaganda de associar “saúde” com produtos agregados, como alguns vendidos em farmácia ou lojas de produtos naturais.

Dartagnan concorda que os pesquisadores devem ser mais ouvidos pelos comunicadores, que são os especialistas em levar informação ao público. Por isso também devem estar bem preparados, a fim de extrair o melhor dos cientistas. Ao mesmo tempo, entende que um público bem formado rejeitará os maus comunicadores. Novamente, ele enfatiza a Educação para a Saúde. Para todos.

Professor Sebastião Gobbi: a atividade física é benéfica, mas dentro de situações e contextos específicos. Neste aspecto, a mídia pode ajudar (Foto: André Ridão)

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