Pesquisador renova bolsa para estudo da origem da vida na Terra

Pesquisador renova bolsa para estudo da origem da vida na Terra

Bolsista produtividade do CNPq há 18 anos, professor sênior da UEL desenvolve projeto multidisciplinar e multi-institucional

O professor Dimas Augusto Morozin Zaia foi docente do Departamento de Química da UEL de 1986 a 2021, desde então é professor Sênior. Desde 2007 é Bolsista Produtividade do CNPq. O professor estuda a origem da vida na Terra, com foco na Química Prebiótica, que faz parte da grande área da Astrobiologia. Ou seja, o estudo das reações químicas e processos que levaram compostos inorgânicos a gerar moléculas orgânicas que foram importantes para a origem da vida.

Para entender como isso se deu, é preciso retroceder mais de 4 bilhões de anos no
tempo, quando o planeta Terra tinha muito menos terras emersas, o clima e a superfície eram completamente diferentes. Os oceanos, naquele tempo, assim como atualmente, apresentavam áreas hidrotermais, ou seja, zonas aquecidas por calor geotérmico. Existem dois tipos de hidrotermais: as conhecidas como “chaminés negras”, nas quais, devido a fissuras no leito oceânico, a água entra em contato com o magma, criando um ambiente de pH 3, muito ácido, com temperaturas entre 450-500 graus Celsius. E Hidrotermais nas quais a água não entra em contato com o magma, mas eram aquecidas e geravam um ambiente de pH entre 10 e 12, com temperaturas que podem chegar 350 graus Celsius, ou seja, extremamente alcalino. Fora das áreas de hidrotermais, o pH do oceano era em torno de 6 a 7.

E se hoje as massas de água planetária (oceanos) são ricas em cloro e sódio, há 4 bilhões de anos eram ricas em cloro, cálcio, e um pouco de magnésio. A atmosfera da Terra antes da origem da vida era constituída: dióxido de carbono-CO 2 , monóxido de carbono-CO, nitrogênio-N 2 . Muito diferente da atmosfera atual: nitrogênio-N 2 (77 %), oxigênio-O 2 (21 %).

Segundo o professor Dimas, a vida pode ter sido iniciada no nosso planeta a partir de
matéria inanimada ou pode ter sido trazida por um meteorito, cometa, ou partículas de poeira. Antes da vida surgir na Terra, o planeta possuía cerca de 250 a 500 tipos de minerais. Hoje são conhecidos cerca de 5 mil minerais diferentes, e a cada ano pelo menos 40 novos são descobertos pelo mundo. Nosso planeta teve duas fontes de moléculas orgânicas (aminoácidos, bases nitrogenadas, lipídeos, açúcares, etc): fontes endógenas e fontes exógenas. Nas fontes endógenas, as moléculas eram sintetizadas em nosso planeta: reações na atmosfera, hidrotermais, reações em meio aquoso com ciclos seco/hidratado. Nas fontes exógenas, moléculas foram trazidas ao nosso planeta por meteoritos, cometas e partículas de poeira. O aumento da complexidade destas moléculas, formação de polímeros e estruturas coacervadas, podem ter gerado o primeiro ser vivo.

Dimas Zaia: a vida pode ter sido iniciada no nosso planeta a partir de matéria inanimada ou pode ter sido trazida por um meteorito, cometa, ou partículas de poeira

Oparin e Bernal

Entre tantos, dois nomes importantes desta área são o bioquímico russo Aleksander
Ivanovich Oparin (1894-1980), pioneiro nos estudos, e o físico irlandês John Desmond Bernal (1901-1971), que defendeu que as superfícies minerais (argilas, por exemplo) favoreceram as reações e processos químicos que podem ter contribuído com a origem da vida. Oparin afirmou que as combinações cada vez mais complexas geraram a vida. Bernal disse que as moléculas que caíam no mar, e os minerais ali presentes podiam pré-concentrar, catalisar a formação de polímeros, proteger contra a forte radiação do planeta e haver decomposição por hidrólise.

Para se ter uma ideia da importância do material vindo do espaço, o professor Dimas
lembra do meteorito Murchison, que caiu na Austrália em setembro de 1969. Com um peso de aproximadamente 100kg, é um dos mais estudados no mundo. Além de poeira estelar de bilhões de anos de idade, mais antiga que o sol, havia nele mais de 80 tipos de aminoácidos (o corpo humano tem mais ou menos 20) e bases nitrogenadas, essenciais para o DNA e RNA.

Ainda hoje, o planeta Terra apresenta ambientes muito similares ao seu tempo
primordial. Os vulcões submarinos são um bom exemplo. No entanto, o pesquisador observa que, embora o conhecimento tenha avançado bastante, há muito ainda a descobrir. Sabe-se quais moléculas orgânicas e minerais podem ter existido na época, mas fazer todas as ligações do “salto” que levou matéria inorgânica a gerar matéria orgânica e partir daí um ser vivo ainda é um desafio. Há muitas hipóteses. Os cientistas também conseguem recriar, em ambientes controlados, as condições da Terra primitiva e outras. “Existem laboratórios que podem por exemplo, recriar a atmosfera de Marte”, ilustra o professor Dimas.

Colaboradores e trabalhos realizados

Em todos estes anos, muitos colaboradores já passaram pelo projeto. O professor Dimas conta que já teve quase 30 orientandos de Mestrado e Doutorado. Multidisciplinar e multi-institucional, a pesquisa envolve professores da Química, Física, Matemática e Agronomia, tanto da UEL, quanto da Universidade Estadual de Maringá e da Universidad Nacional Autônoma do México (UNAM), para onde uma orientanda, bolsista do CNPq, deve ir em breve. Além do trabalho em química prebiótica o professor Dimas Zaia também realizou estudos sobre a opinião dos estudantes sobre os temas origem e evolução da vida.

Dimas Zaia é socio fundador da Sociedade Brasileira de Astrobiologia, e foi o
primeiro vice Presidente da entidade de 2017 a 2020. Seus estudos têm sido disseminados em eventos científicos, capítulos de livros e artigos.

Entre as publicações internacionais, está um “Estudo da adsorção de ferrocianeto em diferentes minerais como ensaios de química prebiótica”. Confira aqui. Outro versa sobre a adsorção de minerais nos oceanos primitivos da Terra e de Marte, seguindo a Hipótese de Bernal. Confira neste link.

Fragmento do meteorito Murchison. Ele foi dividido em pedaços para ser estudado em laboratórios de vários países.

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