Os Lados Invisíveis da Segunda Guerra Mundial

Os Lados Invisíveis da Segunda Guerra Mundial

O professor tem palestras marcadas em vários países para falar de temas relacionados ao conflito histórico

Por conta dos recém completados 80 anos do início da participação brasileira na 2ª Guerra, e também dos 80 anos do fim do conflito, o professor do Departamento de História do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH), Francisco Cesar Alves Ferraz, que possui grande expertise na área, vai ministrar palestras sobre assuntos derivados do evento histórico.

“É sempre surpreendente você ver um e-mail de quem você não conhece, e a pessoa se apresenta e justifica que dada a sua produção bibliográfica, sua expertise na área, estamos convidando você para um evento”, acrescenta o professor. 

Novas Perspectivas

Com apresentação confirmada em diferentes eventos, sendo um na King ‘s College London, outro na Wuhan University e o terceiro, promovido pela Academia de Nacional de Ciências Sociais da China, Ferraz destaca uma mudança na temática dos trabalhos que serão apresentados nos três dias do evento em Londres. 

Agora, os trabalhos se empenham em entender os eventos da Segunda Guerra Mundial de uma perspectiva ampla, estudando a interdependência presente não só nas frentes de combate, mas também nas frentes domésticas de cada país envolvido no conflito, fugindo da linha “tradicional” apresentada nos filmes que retratam o período. 

Professor do Departamento de História do CLCH, Francisco Cesar Alves Ferraz, vai ministrar palestras sobre assuntos derivados da Segunda Guerra Mundial. (Foto: Agência UEL).

“De onde veio o aço? De onde veio o algodão que eles estão fardando? De onde veio o café que eles estão tomando? O cobre da munição deles vem do Chile. O café vem do Brasil, da Colômbia, de El Salvador. O algodão vem de lugares como o Brasil, como o Peru, só para dizer dos fornecedores latino-americanos dos Estados Unidos”, completa o professor.

O trabalho que será apresentado em Londres é intitulado “Brasil: um inesperado, porém necessário aliado” e trata, principalmente, do impacto que o Brasil teve para o sucesso dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. 

As contribuições brasileiras vão além do número de 25 mil soldados enviados à frente de batalha incluindo, como apontado pelo professor, pontos estratégicos para a vitória dos Aliados no Oceano Atlântico, e também o fornecimento de matéria-prima.

“Quando houve a necessidade dos Aliados de ter borracha, porque os japoneses ocuparam as fontes principais de borracha do mundo na Ásia, de repente foi retomada a produção de borracha no Brasil, na Amazônia. E aí, dezenas de milhares de trabalhadores brasileiros, pobres, principalmente do Nordeste, foram deslocados para a Amazônia para produzir borracha. Então, as pessoas não sabiam nada da guerra, mas estavam envolvidas nesse esforço”, conclui Ferraz, destacando as contribuições brasileiras durante o conflito.

Desocidentalização da História 

Sobre o congresso acadêmico na Universidade de Wuhan, Ferraz percebe uma movimentação na historiografia chinesa que busca a valorização de outras versões sobre a Segunda Guerra que são praticamente desconhecidas em comparação com as versões ocidentais.

“Tentar agregar essa experiência de outros espaços da guerra nesse espaço chinês e ajudar a compreendê-la de uma maneira mais completa, mais complexa do que simplesmente a luta entre o bem e o mal, entre nazismo, fascismo versus democracias, ou barbárie versus civilização. A guerra foi muito mais que isso, ela foi muito mais ambígua também que isso”, aponta o professor.

Veteranos de Guerra

Em setembro, em um evento promovido pela Academia de Ciências Sociais da China, junto com o Comitê de Historiadores do Partido Comunista Chinês, o professor planeja falar do Pós-Guerra, tema de seu Doutorado, no qual estudou como se desenvolveu a volta dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ao Brasil. Neste caso, serão comparadas as diferenças em como foram tratados os veteranos de guerra brasileiros em relação aos veteranos chineses.

No caso da China há uma peculiaridade, pois houve uma diferença na valorização dos veteranos, que na época eram do Partido Comunista ou do Partido Nacionalista, que esteve no poder até 1949. 

“Então eu vou comentar que na verdade são duas experiências que correm paralelas, mas têm resultados diferentes. Um tem valorização, outro não. Um tem homenagem, o outro é esquecido. No caso brasileiro, tem homenagens, mas na vida prática mesmo eles foram dissolvidos na população e portanto um pouco esquecidos”, relata.

Em sua volta ao Brasil, os soldados encontraram um País despreparado para receber de volta seus veteranos de guerra. “Teve um caso famoso, o sujeito que explodiu uma mina na cara dele, ele perdeu um olho e entrou um fragmento no outro, foi levado para os Estados Unidos, ainda conseguiu recuperar 5% da visão desse olho. Quando ele chegou aqui não conseguiu emprego, pediu pensão por invalidez. Aí foi negado, porque ele ainda tinha 5% de visão. Então era esse o nível”, descreve o professor.

Sargento Max Wolff Filho

Morto em combate, o sargento que nasceu no dia 19 de julho de 1911, em Rio Negro (PR), é considerado um dos maiores heróis da FEB. Com direito a ser condecorado com a Estrela de Bronze Norte-americana por conta de sua bravura em campo de batalha, Max Wolff Filho morreu de forma repentina durante uma de suas missões, ao ser atingido por duas rajadas de metralhadora e ir a óbito instantaneamente.

“Aliás, foi curioso. A gente sabe da história dele, porque ele recebe a medalha, aí um jornalista, um cronista brasileiro, que estava ali como correspondente de guerra, o Joel Silveira, anota isso, e aí sai com a patrulha. Logo depois recebe a medalha, guarda no estojinho e vai para a patrulha. E nessa patrulha ele morre. E aí a matéria que saiu, acho que no Jornal dos Diários Associados, é que eu vi o Sargento Wolf morrer”. 

Por conta de seus feitos, o Exército Brasileiro, em 2010, como forma de homenageá-lo, criou a “Medalha Sargento Max Wolff Filho”, para premiar subtenentes e sargentos com garra e dedicação semelhantes às do herói de guerra brasileiro.

Pontes Internacionais

O professor também destaca as oportunidades de comparecer a eventos dessa natureza, que podem facilitar o contato com profissionais de outras universidades para eventuais trabalhos colaborativos.

Professor do Departamento de História do CLCH, Francisco Cesar Alves Ferraz, vai ministrar palestras sobre assuntos derivados da Segunda Guerra Mundial. (Foto: Agência UEL).

“Para a Universidade é sempre bom. O nome da Universidade é conhecido. A possibilidade de projetos conjuntos aparece. Então, por exemplo, agora em Wuhan eu vou ter uma oportunidade. Estou programando uma reunião com professores de lá para trabalhar nas eventuais possibilidades de projetos conjuntos. Então, isso sempre agrega”, observa Ferraz.

*Estagiário de Jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social

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