NEAB-UEL celebra lutas das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas
NEAB-UEL celebra lutas das mulheres negras, latino-americanas e caribenhas
O evento reuniu diversas atividades que buscam celebrar a memória e a resistência das mulheres negras e latino-americanas.Para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), promoveu a quarta edição do Café Intercultural, no dia 25 de julho. O evento reuniu diversas atividades que buscam celebrar a memória e a resistência das mulheres negras e latino-americanas. A programação, que durou o dia todo, contou com a presença da reitora da universidade, Marta Regina Gimenez Favaro.
As atividades tiveram início com a visita dos professores do município de Nova Santa Bárbara e gestores do Núcleo Regional de Educação (NRE). Os profissionais fazem parte do projeto “Educação das relações Étnico-raciais: formando e conectando redes”, e realizaram sua primeira visita ao NEAB no dia 25.

Após conhecer a sede do NEAB em uma visita guiada pela coordenadora Marleide Perrude, o grupo de professores e gestores participou de uma reunião em que foram debatidos temas como a educação das relações étnico-raciais e a implementação da lei 10.369/2003, que busca dar materialidade às políticas de educação da cultura afro-brasileira. Logo em seguida, o graduando em história e membro do NEAB Josué Godoy ministrou uma fala sobre a cultura africana e suas influências na cultura brasileira, e o processo de apagamento da mesma na nossa sociedade. “A lei é isso. Não é falar da religião em si, como forma de evangelizar, mas o que a cultura negra, o que a cultura africana, africanista e hoje conhecida como afro-brasileira deixou no seu legado, que foi apagado” explica.
Ao final da reunião, o grupo fez uma visita pela Universidade conhecendo laboratórios e departamentos da UEL.
Durante a tarde, as atividades iniciaram com a leitura do poema “Mulher de Raiz e Fogo” escrito por Maria Sofia Ga Tej Ferreira, de 11 anos. Filha de Gilza Ferreira de Felipe Pereira (Gilza Kaingang), Maria Sofia escreveu o poema especialmente para as comemorações do dia. Eis um trecho: “Mulheres negras pé no chão, de rezas firmes e flores puras, fazem da dor revolução bordando o mundo com textura. Dos quilombos as periferias, do sertão até o litoral são luz em noites tão vazias plantando o bem contra o mal.”


Em seguida, ocorreram diversas atividades expositivas e interativas. Integrante do Coletivo Villa Afro apresentaram poesias e uma performance contando a história e o significado do trançado no cabelo das mulheres negras, que serviam como “mapas” para se localizar durante uma fuga.
O observatório juventudes realizou diversas atividades interativas e culturais com foco na valorização da identidade e da ancestralidade, que contou com a exposição de uma obra de Dona Vilma Yá Mukumbi. A tela permaneceu aberta à intervenção do público, que foi convidado a escrever palavras que representassem o que é ser uma mulher negra latino-americana e caribenha, também contou com a ação “oráculo das mulheres”, da Editora Lagarta, em que cada participante retirava uma carta com o nome de uma mulher e uma palavra em seguida, buscava no livro o significado daquela figura e mensagem associada, criando um momento de reflexão, conexão e troca simbólica entre as mulheres presentes.
E no embalo das histórias e poesias, o evento também contou com a presença de duas escritoras, que leram trechos de seus textos e recitaram alguns versos de suas poesias.
Jackie Rodrigues é autora de Resgate da Nave Mãe, romance de temática afrofuturista publicado pelas editoras Caravanas (Brasil) e Mercador (Portugal), e que foi finalista do Prêmio Flipoços 2023. A escritora e palestrante foi contemplada em 2023 com o Prêmio Carolina Maria de Jesus, do Ministério da Cultura, pela obra Cardápio da Vó Olga.
A escritora Maria José dos Santos Vertuan também esteve presente. Jo, como é conhecida, é educadora, musicista e líder comunitária, com um vasto histórico de contribuições sociais e culturais. Atual presidente da Associação Ile África e da Associação das Mulheres Empreendedoras de Alvorada do Sul, também atua como Diretora do Conservatório Musical Carlos Gomes, em Tatuí (SP), onde incentiva o ensino da música como ferramenta de transformação.
Ao entardecer, em homenagem a Ana Paula Santos e à doutora Dora Lúcia Bertúlio, que realizaram suas passagens este ano, foram plantadas duas árvores: uma pitangueira e um quaresmeira. A cerimônia contou com a presença dos familiares das homenageadas que, ao final do plantio, realizaram a soltura de balões.

Por volta das 19h foi apresentado a cena teatral: “PRECEITOS E MEMÓRIAS: a contemplação do corpo preto ao seu divino ancestral”, resultado da pesquisa de TCC em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), do ator Northon Silva. Nessa pesquisa é desenvolvida uma cena com a investigação dos contos e memórias presentes em sua vivência religiosa na Umbanda, em diálogo com a pesquisa sobre a poesia falada, da atriz Camila Cristina, do Coletivo Odara.
O evento se encerou com a roda de conversa “Interseccionalidade na reparação das políticas Públicas: caminhos para o bem viver das mulheres pretas”, que contou com as convidadas:
- Beatriz Batista Silva (Movimento Negro Unificado)
- Letícia Pocaia Brito De Jesus (ASÈ OYÁ FUNJO e Templo de 7 Navalhas e Almas)
- Mariana Valerio (Pesquisadora do NEAB e do Projeto LEAFRO)
- E teve mediação de Rosiane Martins de Souza Teodoro (Psicóloga, Membro do Conselho da Igualdade Racial Plenária de Mulheres negras
O bate-papo destacou a importância do fortalecimento da própria identidade, enquanto mulher negra. Stephany Pires estudante de Pedagogia, se identificou muito com a conversa. A estudante acessou a UEL pela primeira vez como estudante de Medicina Veterinária, mas se sentia muito deslocada. “Essa roda de conversa foi algo, superimportante e valioso pra mim principalmente enquanto uma mulher negra. Ter mais contato com pessoas que fazem parte de quem eu sou me ajuda muito nessa questão de fortalecer a minha própria identidade, e de realmente me sentir pertencente. Me faz sentir que eu vou permanecer e vou lutar para continuar estando nesse lugar”, conta.
A celebração não apenas honrou o passado, mas também fortaleceu o presente e inspirou futuras gerações de mulheres negras na academia e na sociedade. O dia 25 de julho foi um Dia de Tereza de Benguela, de Ana Paula e Dora Lúcia e, acima de tudo, um dia de mulheres guerreiras.

(Texto Produzido por Luiz Otavio Marques de Souza e Sara Beatriz de Souza Barbosa, ambos bolsistas do NEAB).