Professores de cinco Instituições de Ensino Superior (IES) públicas sediadas do Paraná estão de malas prontas para a Alemanha em uma missão técnica que visa ao aprofundamento das pesquisas voltadas ao uso de madeira em setores estratégicos, e cujo objetivo é render bons frutos para a construção civil. Em visita ao estado de Baden-Wurtemberg, entre o próximo sábado (24) e 2 de março, o grupo irá desenvolver ações previstas em um dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napi), implementados pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e pela Fundação Araucária. Atualmente, o Sistema Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) do Paraná conta com 30 Napis implementados ou em processo de implementação, que atendem de forma integrada demandas setoriais do Paraná.

Representando a UEL, o professor Jorge Daniel de Melo Moura, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (CTU), destaca que as atividades estão estruturadas no NAPI “Wood Tech”, estratégia que almeja alavancar o setor de construções com uso de Madeira Engenheirada. Além da UEL, o Napi é constituído por docentes das universidades estaduais de Maringá (UEM) e do Centro-Oeste (Unicentro), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

O cronograma da viagem prevê a realização de visitas técnicas e entrevistas com pesquisadores e profissionais alemães, com o objetivo de aumentar o repertório de possibilidades da equipe do projeto, bem como prospectar novos acordos de cooperação entre o Paraná e Baden-Wurtemberg.

“Estado irmão” do Paraná na Alemanha, Baden-Wurtemberg conta com iniciativas conceitualmente parecidas com um Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação, ou seja, são ações que envolvem os ativos já existentes nos setores da pesquisa e inovação, e as empresas líderes em diversos setores da economia. Uma destas iniciativas é a “HolzBau Offensive BW“, que pode ser definida como uma “Campanha para a Construção em Madeira de Baden-Wurtemberg”, em tradução livre. Atualmente, países como Suécia e Canadá dividem com a Alemanha o posto de referências internacionais quanto ao uso do principal produto mercantil florestal – a madeira – na construção civil.

Paraná 

Por meio da utilização da madeira engenheirada, ativo de alto valor agregado, o trabalho visa promover o desenvolvimento socioeconômico aliando o potencial de inovação aos benefícios ambientais, servindo para reduzir a emissão de gases poluentes pela indústria da construção civil. Desta forma, o trabalho passa a atender aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU).

O professor Moura destaca que, embora o Paraná possua um rol de empresas no setor, as espécies predominantes no solo – pinus e eucalipto – foram desenvolvidas geneticamente para atender à produção de celulose, apresentando limitações técnicas quando empregadas como um novo tipo de “concreto” em edificações. 

“Por exemplo, o eucalipto, quando cresce muito rapidamente, apresenta muitas tensões internas, tende a ter muita retração, que é a contração diferenciada nos seus eixos de simetria, tendo como consequência o aparecimento de instabilidade dimensional e provocando rachaduras, empenamento, encanoamento etc. Então, temo que, através do desenvolvimento de tecnologia, adaptar esse tipo de madeira para uma resposta adequada ao fim que desejamos, que é a utilização em estrutura e construção.”

Jorge Duarte Moura, professor de Arquitetura e Urbanismo.

A raiz desse trabalho, acrescenta, perpassa o uso de tecnologias aplicadas aos processos de secagem e relacionadas à nodosidade (quantidade de nós) das madeiras de crescimento rápido, colaborando para elevar as resistências química, biológica e mecânica, além da durabilidade do produto. Para além dos empreendimentos imobiliários, as tecnologias e conhecimentos também poderão servir ao desenvolvimento de soluções para setor moveleiro.

Napi Wood Tech

Ao lado do professor, o grupo de pesquisadores que irá visitar o país europeu é formado pelos docentes Rodrigo Scocynski Ribeiro (UTFPR), Ricardo Dias Silva (UEM), Jorge Luis Monteiro de Matos (UFPR), Graciela Bolzoni de Muniz (UFPR), Everton Hillig (Unicentro) e Marcelo Henrique Granza (UTFPR). Também irão participar da visita o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, e o conselheiro do arranjo de empresas Cilla Tech Park, da região de Guarapuava, Paulo César Rezende de Carvalho Alvim.

O projeto também prevê semear o conhecimento através da concessão de bolsas de estudos a jovens pesquisadores, de Iniciação Científica (IC), mestrado e doutorado, doutorado sanduíche no exterior e bolsas de auxílio técnico, em cursos como Engenharia Civil, Engenharia Florestal, Engenharia Industrial Madeireira, Arquitetura e Urbanismo, além de empresas e órgãos públicos. Ao mesmo tempo, a composição do “tronco” deste grande projeto, ou seja, a expertise de cada docente envolvido, é o que nutre as esperanças pelo sucesso da estratégia de desenvolvimento econômico para o estado.

“A questão das influências das condições de plantio nas propriedades mecânicas vai ser tratada pela Unicentro. As questões relacionadas à tecnologia da madeira vão ser tratadas pela UFPR. Questões relativas ao comportamento dos sistemas de construção e à própria engenharia do elemento construtivo e o sistema de construção vão ser tratadas na UTFPR. E a parte de arquitetura, estrutura e concepção dos sistemas seremos nós da UEL e a UEM, sendo nosso parceiro o professor Ricardo Dias Silva, ex-professor da UEL, com larga experiência no tema. Importante ressaltar que a proposta se insere no escopo do curso de pós-graduação associado UEM/UEL em Arquitetura e Urbanismo-PPU”, conclui o professor.