Cultura Hip Hop é celebrada na 1ª Batalha do RU
Cultura Hip Hop é celebrada na 1ª Batalha do RU
Evento reuniu amantes do rap na última sexta (1º) para reivindicar o exercício da arte e expressão periféricas na Universidade.“Se você ama essa cultura como eu amo essa cultura ,grita: Hip Hop!”. Quem almoçava no Restaurante Universitário da UEL (RU) na última sexta-feira (1°) ouviu essa frase sendo entoada por dezenas de estudantes reunidos na praça. Uma iniciativa dos próprios alunos, a primeira edição da “Batalha do RU” reuniu artistas, MC ‘s e amantes da cultura Hip Hop num evento que reivindicou o exercício da arte e expressão da periferia dentro do Campus.
Num país onde movimentos suburbanos sofrem preconceito e são estereotipados e cerceados, a Batalha mostrou a força e o valor da arte de protesto dentro de uma esfera tão convencional quanto o meio acadêmico, na opinião dos organizadores. O estudante de Artes Cênicas Kainã Baccon, um dos organizadores do evento, conta que misturar a Universidade Estadual de Londrina com o Hip Hop é uma forma de conscientizar os alunos de que esse espaço pertence a todos. “Vamos fazer um espaço que já é nosso voltar pra gente. Temos o direito de estar aqui. Viemos de uma realidade onde todos deveriam almoçar por cinco reais. Essa é a iniciativa para fazermos as coisas mudarem”, declara.
O vencedor da Batalha foi Tuga MC, que recebeu um almoço grátis com direito a sobremesa no RU como premiação.
Poesia de transgressão
O movimento Hip Hop ainda é muito associado com a agressão e a criminalidade, porém o cerne dessa cultura é fundamentado em princípios da não-violência. Os MC‘s se utilizam da força da palavra na batalha, usando o rap (rhythm and poetry) para derrotar os adversários.
Bruno Trintinella, estudante de Jornalismo e dono do nome MC Lagrave, destaca a importância do Movimento dentro da universidade. “É muito mais do que uma batalha comum, é sobre poder quebrar barreiras que são impostas às batalhas de rima! Muitas pessoas acham que não existem MC ‘s estudados ou até mesmo que sonham com uma vida acadêmica, porém elas estão enganadas. Nós estudamos, nós buscamos conhecimento e vivemos a arte e a cultura”.
Através da poesia, o Movimento se configura como uma corrente social marcada pelo protesto cultural e político, utilizando-se da música, da pintura e da dança como armas. “Por meio da expressão, o rap é a voz daqueles que não são ouvidos. Muito mais que um grito de socorro, é um grito de revolta”, ressalta Lagrave.
A rima delas
Durante a batalha, os MC ‘s se enfrentaram em duelos. Quem vencia, seguia para a próxima fase e enfrentava um novo adversário. A MC CRZ foi a única participante feminina do evento e mostrou que as mulheres têm presença em cima dos palcos. “A nossa vivência vai muito além das rodas de freestyle e batalhas. Mulheres dentro do rap estão o tempo todo sendo subestimadas e descredibilizadas”, revela. “A visão além da bolha masculina de vivências e experiências é essencial, para podermos ver perspectivas diferentes daquelas que a sociedade nos impõe”.
Desde sua origem no Brasil, em meados dos anos 70, o Hip Hop cresceu em uma conjuntura masculina, refletindo a realidade do sistema e, muitas vezes, a aversão ao feminino. Segundo CRZ, a existência das mulheres no rap é fundamental para o enriquecimento dessa cultura, possibilitando novas narrativas e maior diversidade num ambiente de livre expressão.
“Quando temos um espaço para as pessoas se expressarem expondo suas próprias feridas, conseguimos minimamente compreender uma dor que não é nossa, e isso, além de empatia, é sabedoria. Isso é o que as diferentes perspectivas e de mulheres, pessoas trans e não-binárias no meio da arte nos proporcionam.”
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.