Atuação empresarial na educação pública brasileira é tema de projeto de pesquisa

Atuação empresarial na educação pública brasileira é tema de projeto de pesquisa

Pesquisa busca entender, desde 2018, atuação de grupos empresariais na Educação, especificamente em território paranaense.

Compreender a subsunção da educação ao capitalismo, estudar o modus operandi da atuação empresarial no ensino público e entender qual a atuação burguesa na definição de políticas educacionais. Esses são os objetivos do projeto de pesquisa “Estado Ampliado e o Empresariamento da Educação Pública no Brasil”, que, desde 2018, busca analisar e explicar como os interesses empresariais são implementados no setor educacional público brasileiro e, especificamente, paranaense. 

Sob coordenação da professora Adriana Medeiros Farias, do Departamento de Educação (Ceca), o projeto estuda uma série de fundações, institutos, organizações e empresas que atuam no ramo educacional, como o grupo Lemann, Telles e Sicupira, Positivo e Kroton, investigando quais ações eles desenvolvem em relação ao setor educacional e com quais finalidades. “É importante entendermos o que eles querem com a educação. A educação deixou de ser apenas um nicho de mercado, se tornando o próprio mercado escolhido por eles”, explica. A pesquisa é desenvolvida por meio da análise documental, que examina pareceres, resoluções, informes, relatórios empresariais, notícias publicadas na imprensa e outros documentos. 

Segundo levantamentos da pesquisa, o empresariamento da educação pública brasileira – que consiste justamente na subordinação do Estado aos interesses empresariais no campo da educação – não é algo recente, sendo anterior ao período da Ditadura Militar. Esse fenômeno, no entanto, tem ganhado força e, atualmente, instâncias como os conselhos municipais, estaduais e federais, prefeituras, secretarias municipais e estaduais de Educação e o próprio Ministério da Educação (MEC) contam com representantes do empresariado propondo definições para as políticas educacionais. 

“Introdução de grupos empresariais tem papel fundamental de remodelar políticas de educação”, afirma a pesquisadora Adriana Farias, do Departamento de Educação (Foto: André Ridão)

“A introdução desses representantes empresariais ou dessas organizações tem um papel fundamental de modelar as políticas educacionais no seu planejamento, execução e definição a partir de ideários empresariais: meritocracia, empreendedorismo e gestão gerencialista, que é o principal foco, mas sob o que chamamos de ‘manto da filantropia’. Não existe capitalismo filantrópico, mas é desse manto que as organizações empresariais se revestem para dizer que estão atuando na educação”, detalha Adriana.

A partir dessa participação empresarial, as políticas educacionais passaram a ser definidas dentro do que a pesquisa denomina como Frentes Móveis de Ações Empresariais, na qual as organizações participantes atuam, de algum modo, na disseminação de programas e ações de fundações com as quais já têm algum tipo de relação, além de possibilitar a venda de produtos e serviços. Algumas dessas frentes são a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a atração de pessoas para atuarem na gestão pública, a formação de professores e a tentativa de implementação do ensino híbrido ou a distância na Educação Básica e no Ensino Superior. 

Outro ponto estudado pelo projeto é a privatização da educação a partir da participação de empresas. De acordo com a coordenadora, o processo de empresariamento introduz a concepção empresarial de educação nos espaços do ensino público, fator que faz com que as escolas sejam vistas, também, como empresas, se desligando da sua função social.

Educação, Estado Ampliado e Hegemonia

Desenvolvido dentro do Grupo de Pesquisa em Educação, Estado Ampliado e Hegemonias (GPEH), que há alguns anos estuda a atuação da dominação burguesa na educação e as suas formas de mecanismos de elaboração, execução e planejamento das políticas educacionais, o projeto irá se dedicar, agora, a entender a plataformização da educação (processo de aprendizagem virtual, por meio de plataformas tecnológicas), além de a aprofundar os estudos sobre a atuação empresarial na educação pública no Brasil e no estado do Paraná.

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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