Médico e ex-professor da UEL, Nelson Rodrigues dos Santos lança livro sobre SUS

Médico e ex-professor da UEL, Nelson Rodrigues dos Santos lança livro sobre SUS

À Agência UEL, ex-diretor do CCS conta parte da trajetória que culminou na criação do sistema de saúde brasileiro, da qual fez parte integralmente.

Um dos sanitaristas mais importantes do país, com uma contribuição importante na construção e nas reflexões sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), o médico sanitarista e ex-professor da UEL Nelson Rodrigues dos Santos, conhecido como Nelsão, vem a Londrina para uma palestra, seguida do lançamento de seu livro “SUS e Estado de Bem-Estar Social: perspectivas pós-pandemia”. O evento será nesta quinta (21), às 19h30, na Associação Médica de Londrina (AML), é gratuito e aberto a toda a comunidade. O lançamento conta com o apoio da Sisprime, Associação Médica de Londrina (AML), Secretaria de Saúde do Paraná e Secretaria Municipal de Saúde de Londrina. A vinda do médico sanitarista ocorre por meio da Associação dos Ex-Alunos da Universidade Estadual de Londrina (Alumni). O sanitarista vai autografar os livros, que poderão ser adquiridos no local.

A obra traz um resumo dos 30 anos de luta para construir o Sistema Único de Saúde no Brasil, movimento que foi encabeçado por uma série de profissionais da Saúde de todo o País, durante os anos 1970. Nelsão foi professor de Saúde Coletiva na UEL e organizou, em 1971, a instalação das primeiras Unidades Básicas de Saúde (UBS) na cidade. Também foi diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e um dos responsáveis pela organização do Departamento de Saúde Coletiva da instituição.

Biografia

Nelson Rodrigues dos Santos é graduado em Medicina em 1961, pela Universidade de São Paulo (USP). É doutor pela Faculdade de Medicina e possui formação em Saúde Pública pela mesma instituição, em 1968. Foi assistente do professor Samuel Barnsley Pessoa, um dos pioneiros em pesquisas sobre parasitologia médica no continente sul-americano e o mais jovem professor catedrático da USP, e coordenou alunos de Medicina em pesquisas no Ceará, Alagoas, Bahia, São Paulo, Paraná e Goiás.

Foi professor de Saúde Coletiva na UEL quando organizou, em 1971, a instalação das primeiras UBS, em convênio com a Prefeitura de Londrina, na periferia urbana e em vilas rurais. O médico sanitarista foi diretor do CCS e responsável pela organização do Departamento de Saúde Coletiva, juntamente com o professor Darli Cordoni e outros.

Nelsão destacou-se como consultor da Organização Panamericana de Saúde (Opas) em Brasília e geriu o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) nos estados do Nordeste, em 1977. Foi docente de Saúde Coletiva na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), quando assumiu a Secretaria Municipal de Saúde entre 1983 e 1987 e, depois, a coordenação da Comissão Inter- institucional de Saúde do Estado de São Paulo.

O sanitarista também foi secretário de Saúde de São Paulo, quando foi eleito presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Além disso, exerceu a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Saúde (1997-2002) e integrou a assessoria especial do gabinete do Ministério da Saúde (2005-2006). Foi presidente do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa) entre 2007-2019 e, desde então, integra o conselho superior e fiscal do órgão.

Nelsão vem a Londrina para lançar livro que aborda criação do SUS no Brasil e construção do Estado de Bem-Estar Social (Divulgação/Hucitec).

Raízes do SUS

Em entrevista à Agência UEL, o médico fala da construção do Sistema Único de Saúde a partir de um difícil contexto político social da época, nos anos 70, durante a Ditadura Civil Militar.

Agência UEL – Como foi a gênese do SUS?

NelsonO regime econômico da ditadura, com aguda pauperização rural geradora de fortíssima migração para as periferias urbanas de municípios maiores, urbanizou o país com periferias tensas e pressionou por sobrevivência e qualidade de vida, o que gerou crescentes iniciativas pelo poder municipal, de atenção a necessidades básicas, entre elas, a saúde.

Agência UEL – As universidades contribuíram neste processo?

Nelson – Sim. Houve iniciativas na área da saúde das melhores universidades brasileiras, com apoio da Organização Mundial da Saúde e outros, ampliando, inovando e praticando os conceitos inovadores da Atenção Primária à Saúde e da Atenção Integral à Saúde em unidades de fácil acesso à população. Em regra, essas iniciativas desenvolveram-se em integração com os governos municipais e estaduais. Foi o caso da UEL, UNICAMP, UFRGS, UFMG e outras.

Agência UEL – E qual era o cenário do atendimento básico em Londrina?

Nelson – Em Londrina, já ao final do 1º ano do funcionamento da primeira unidade, a estatística do ambulatório pediátrico do HU referente à região coberta pela unidade, acusava sensível queda de doenças e óbitos infantis. A partir dos anos 1970 e apontando para um modelo nacional de saúde mais civilizado, a multiplicação de UBS de qualidade nos bairros e vilas rurais, com retaguarda do HU/UEL. Lembro dos ex-secretários municipais Marcio Almeida e Lucio Marchese em Londrina e Gilberto Berguio em Cambé (este último também no Paraná), entre outros tantos, como símbolos das gestões de vanguarda, entre as que mais repercutiam no Paraná, outros Estados e nacionalmente.

Agência UEL – Isso refletiu na criação do SUS?

Nelson – Nos anos 70, Executivo e Legislativo municipal, pressionados pela grande mobilização social pelo investimento e custeio na rede básica de saúde e seu suporte hospitalar, além dos pronto-socorros tradicionais, mobilizaram a elevação orçamentária para saúde e ativaram parcerias com a esfera federal, principalmente para repasses previdenciários. Estava dada a escalada de apoio popular e político-institucional para a 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986, marcada pela forte bancada de mais de 90 secretários municipais de saúde, e Assembleia Nacional Constituinte em 1988, cujo Título da Ordem Social estampa radicalmente um Estado de Bem-Estar Social brasileiro à semelhança dos mais avançados da Europa.

Agência UEL – E hoje, mais de três décadas depois?

Nelson – Passados 33 anos, é constatada a implementação plena da diretriz constitucional da Universalidade (retumbante inclusão social ecoando até hoje na sociedade). A da Equidade, muito tênue. A da Integralidade, quase somente em parte da atenção básica. A da Regionalização/Hierarquização quase na estaca zero. A do Controle Social, bastante ativa, mas até agora, sem força social e política, com estratégias de elevação dos recursos públicos para a efetivação de todas as diretrizes constitucionais, incluindo a revisão do Estado-refém do financiamento público do mercado dos planos privados de saúde (saúde suplementar).

Contudo, as distorções contra o SUS, impingidas contra a sociedade nesses 33 anos, não conseguem desfazer as raízes da consciência social que historicamente se desenvolve: no rumo da efetiva democratização do Estado e implementação das diretrizes constitucionais. Esses relatos e considerações são abordados com pouco mais fôlego em meu livro.

Na ocasião do lançamento, a Hucitec Editora ainda apresenta outras duas obras: “Nas entranhas da atenção primária à saúde: formação e prática”, organizado por Felipe Guedes, Gastão Wagner de Sousa Campos, Lilian Terra, Mônica Oliveira Viana, e “O longo amanhecer do Sistema Único de Saúde: reflexões para o SUS reexistir”, organizado por Fabiano Tonaco Borges.

Serviço

Lançamento do livro “SUS e Estado de bem-estar social”, de Nelson Rodrigues dos Santos (Editora Hucitec).
Dia 21 de setembro (quinta-feira), às 19h30.
Na Sede da Associação Medica de Londrina (Avenida Harry Prochet, nº 1055).

Divulgação.

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