Projeto de extensão analisa potabilidade da água em mais de 20 municípios da região

Projeto de extensão analisa potabilidade da água em mais de 20 municípios da região

Desde 2008, o projeto analisa água no aspecto microbiológico e físico-químico, segundo parâmetros do Ministério da Saúde.

Muita gente ainda segue o mito: a água consumida na área rural é mais limpa e pura do que aquela da zona urbana. Não é. Quem confirma são as mais de 45 mil análises já feitas em 14 anos pelo projeto “Análise de água tratada e in natura para consumo humano”, coordenado pelo professor Sérgio Paulo Dejato da Rocha, do Departamento de Microbiologia (CCB).

Ele relata que o projeto nasceu em 2008, a partir de um convênio, assinado em 2004, entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa-PR) e a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino (Seti-PR), por meio das universidades estaduais. Elas passaram a realizar análises de água nos aspectos microbiológico e físico-químico, a fim de atender o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que envolve todas as instâncias administrativas: federal, estadual e municipal, com o objetivo de garantir a todos acesso a água potável, nos termos da legislação vigente. Quem define são as portarias e instruções normativas do Ministério da Saúde (MS).

Dinâmica

É a Vigilância Municipal que dá início ao processo, ao realizar coletas em áreas urbanas e rurais de 21 cidades no âmbito da 17ª Regional de Saúde do Paraná, que tem cerca de 1 milhão de habitantes. Na zona urbana, são coletadas amostras em lugares de grande movimento de pessoas, como escolas, prédios públicos e igrejas. Nas cidades menores, são feitas de oito a dezesseis coletas mensais. Já em Londrina, a maior da região, são 46 coletas por mês.

Na UEL, as amostras vão para o Laboratório de Bacteriologia (LABAC/CCB), onde atua o professor Sérgio da Rocha; Laboratório de Saneamento (CTU), sob responsabilidade da professora Emilia Kiyomi Kuroda (Departamento de Construção Civil); e Laboratório de Físico-Química Ambiental (CCE), para o professor João Carlos Alves (Departamento de Química). No primeiro, é feito um exame microbiológico, à procura de coliformes totais e da Escherichia coli (E. coli), bactérias comuns da microbiota intestinal de humanos e de alguns animais. No CTU, é feito um exame de turbidez, que pode detectar elementos suspensos (orgânicos ou não) na água e inviabilizá-la para consumo. E no CCE, a análise química detecta o nível de flúor. Em excesso, pode causar fluorose.

Ao final, o LABAC conclui se os limites máximos tolerados dos parâmetros microbiológicos e físico-químicos são ou não satisfatórios, de acordo com a legislação, como a Portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021. Se insatisfatório, a Vigilância retorna ao local, notifica o responsável, dá um prazo de 30 dias para a solução de um eventual problema, e depois realiza nova coleta.

Caixas d’água

Nos 14 anos de atuação, o projeto tem mostrado que a água tratada, na área urbana, é boa para consumo. Quando não, geralmente é por falta de limpeza das caixas d’água. Elas devem ficar muito bem tampadas, porque aves e pequenos mamíferos podem defecar sobre ou dentro delas e contaminar a água. O professor Sérgio lembra que algumas caixas podem estar danificadas (rachadas) e a água da chuva pode levar os coliformes para dentro.

Já na zona rural, a maioria tem contaminação microbiológica, em boa parte porque é mais fácil o acesso de animais à água. Muitas vezes, porém, o problema surge da perfuração de poços de forma ilegal, sem acompanhamento técnico adequado. Também acontece de um proprietário perfurar um poço em nível abaixo de uma granja, por exemplo, o que facilita a contaminação.

A presença de coliformes significa que a água entrou em contato com fezes e, dependendo de quais – totais e/ou E. coli – indica o período de exposição: dias ou semanas antes. Este resultado pode indicar a presença de patógenos bacterianos, virais e parasitos; os quais podem provocar gastroenterites e Hepatite A, por exemplo.

Em cidades menores, são feitas de 8 a 16 coletas mensais. Em Londrina, a maior da região, são 46 coletas por mês (Divulgação).

Produção

Embora seja um projeto de extensão, ele produz conhecimento e realiza expressiva disseminação. O projeto já fez mais de 100 apresentações em eventos de extensão e científicas. Além disso, é multicêntrico e reúne os cursos de graduação de Ciências Biológicas e Biomedicina (CCB), Química (CCE), Farmácia, Medicina e Enfermagem (CCS), e Engenharia Civil (CTU). Já rendeu oito Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), mas também envolve cursos de pós-graduação lato e stricto sensu. Conta atualmente com sete docentes, mas 15 já passaram pelo projeto. Também já participaram, nesta década e meia, 85 estudantes de graduação e 18 de pós-graduação.

O coordenador lembra ainda que o projeto se encaixa em dois objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização Mundial da Saúde: ODS 03 – Saúde e Bem-Estar e ODS 06 – Água Potável e Saneamento.

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