Projeto avalia desenvolvimento motor de crianças de 7 a 10 anos

Projeto avalia desenvolvimento motor de crianças de 7 a 10 anos

Atividades com correr, saltar e quicar bola fazem parte do estudo desenvolvido com alunos do Colégio de Aplicação e do Colégio Mãe de Deus, em Londrina.

A infância é o período da vida destinado a aprender e desenvolver habilidades físicas e cognitivas. Muitas vezes, um adulto que não consegue desempenhar de forma eficaz tarefas básicas do dia-a-dia tem na infância a origem do problema. Pensando nisso, o projeto de Extensão “TGMD3: Aplicações Práticas para Intervenção Motora”, coordenado pelas professoras da disciplina de Comportamento Motor Juliana Bayeux Dascal e Alessandra Beggiato Porto, do Departamento de Educação Física (Cefe), tem estudado como se encontra o desenvolvimento motor de crianças entre 7 a 10 anos.

O Test of Gross Motor Development (TGMD) foi desenvolvido em 1985 pelo professor norte-americano Dale Allen Ulrich. O teste é destinado à avaliação de habilidades motoras fundamentais de crianças entre 3 e 10 anos e permite comparar, entre as amostras, a capacidade das crianças de realizarem determinadas atividades físicas. 

O desenvolvimento motor está relacionado à capacidade de movimentar o corpo e envolve inúmeras habilidades, desde as mais simples como caminhar ou pular até mais complexas como jogar uma modalidade esportiva. Experiências como jogos e brincadeiras que envolvem alguma atividade física são fundamentais para que as crianças exercitem a parte motora e respondam a estímulos do cotidiano de forma mais satisfatória. 

Na UEL, o projeto de extensão teve início em novembro de 2022 e conta com aproximadamente 15 estudantes de graduação do curso de Educação Física. O grupo se dedica a identificar, a partir da aplicação de testes, o nível do desenvolvimento motor de crianças de duas escolas de Londrina, o Colégio de Aplicação da UEL e o Colégio Mãe de Deus. A partir dos resultados, o grupo busca uma intervenção junto aos professores de Educação Física dos colégios na tentativa de melhorar aquelas habilidades nas quais se percebeu maior dificuldade. O projeto envolve aproximadamente 60 alunos e 10 professores.

Demonstração de uma das atividades avaliadas no teste de “Controle de Bola” (Fotos: André Ridão/Agência UEL).

Tipos de testes

Os testes, feitos nas quadras esportivas das escolas, são divididos em duas categorias:  “Controle de Bola” e “Locomotor”. Para o Controle de Bola são observadas sete habilidades: rebater com taco, rebater com raquete, arremessar, quicar, chutar, lançar por cima e lançar por baixo. Ao rebater com o taco, por exemplo, a criança deve acertar uma bola de tênis colocada sobre um cone. Nesta atividade, são analisados critérios como pontaria e movimentação dos braços.

Já na categoria Locomotor, as crianças são avaliadas enquanto praticam correm, deslizam, galopam e saltam (três tipos de salto). A professora Juliana Dascal conta que os resultados indicam que os alunos participantes têm mais dificuldade nas atividades de Controle de Bola. 

Demonstração de movimento locomotor.

A professora Alessandra Porto lembra que o objetivo do projeto não é impor como devem ser conduzidas as aulas para as crianças, tendo em vista as diferentes realidades dos colégios e dos alunos, mas levar o resultado como um diagnóstico que pode ser aproveitado para uma ação mais efetiva e consequente melhora do desenvolvimento motor.

“A gente vê que o problema não envolve só o professor de Educação Física, envolve a escola, os pais. Então, a nossa intervenção acaba sendo bem maior do que a gente estava pensando, por ser muito mais da parte de educação de pais, coordenadores e professores do que das próprias crianças”.

Professora Alessandra Porto, do Departamento de Educação Física.

Professora Alessandra Porto, do Departamento de Educação Física. Resultados obtidos apontam para a necessidade do envolvimento de pais e coordenações escolares.

A professora Juliana Dascal diz que a disciplina que ela e a professora Alessandra ministram – Comportamento Motor – envolve grande parte teórica e não é tão simples para os alunos. Por isso, as aplicações práticas aproximam os estudantes do conteúdo da sala de aula, deixando o aprendizado mais interessante. “É muito bom quando eles conseguem ver na prática as crianças fazendo os movimentos. É uma vivência de conteúdos que vemos nos estudos teóricos”, conta.

Professora Juliana Dascal. Uma das conclusões do projeto, segundo a professora, aponta para dificuldades no controle de bola dos estudantes.

Aprendizado

Natália Pessoa, estudante do terceiro ano do curso, integra o projeto desde o início e faz parte da aplicação dos testes nas escolas. Ela revela que a participação é uma oportunidade para aprender a lidar com as crianças, adaptando a linguagem para que elas entendam a proposta das atividades. “A gente fala de movimentos parecidos, para se aproximar das crianças. No salto horizontal, eu falo que a criança é um coelho e não pode cair na poça de água”, conta. Ela também é professora de ballet para crianças e diz que consegue aplicar os resultados dos testes na sua área.

A professora Alessandra também ressalta que na faixa etária atendida pelo projeto, de 7 a 10 anos, a parte cognitiva do aprendizado é essencial, mas a parte motora e o exercício físico, como corrida, caminhada, e brincadeiras ao ar livre também são de grande importância e devem estar entre as prioridades das instituições de ensino. “Os estudos já comprovam que uma criança que se movimenta bem vai ter um rendimento acadêmico melhor”, frisa. 

Natália Pessoa, estudante do 3° ano de Educação Física. Aluna aplica conhecimentos do projeto também nas aulas de ballet.

Nesse sentido, segundo as pesquisadoras, é possível identificar que nas gerações atuais há uma inclinação ao sedentarismo, devido à grande quantidade de estímulos eletrônicos. O uso exagerado de celulares e computadores acaba por afastar as crianças de atividades físicas, como brincadeiras e jogos que eram comuns para gerações passadas.

Além disso, as professoras contam que há uma preocupação muito grande por parte dos pais com a segurança dos filhos, os quais, muitas vezes, evitam incentivar práticas que envolvem atividade física. Este movimento se intensificou durante a pandemia e permanece até hoje. Desta forma, a escola tem desempenhado um papel cada vez maior de promover jogos e brincadeiras que estimulam o movimento dos alunos e combatem o sedentarismo.

*Estagiário de Jornalismo na COM/UEL.

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