UEL e Polícia Penal ofertam curso para mulheres da Cadeia Pública de Londrina
UEL e Polícia Penal ofertam curso para mulheres da Cadeia Pública de Londrina
Oficinas interativas usam da contação de histórias para refletir sobre questões de gênero, como dependência masculina, entre outros pontos.O Brasil tem a terceira maior população carcerária feminina do mundo, segundo levantamento do World Female Imprisonment List de 2022: a instituição aponta 43 mil mulheres em situação de privação de liberdade. Em um cenário de crescimento exponencial tanto do número dessas mulheres quanto dos estigmas que as acompanham, a UEL, em parceria com o Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen), promove o curso “Ateliê das Histórias – Reinventando Contos e Tecendo Novas Histórias” para mulheres custodiadas na Cadeia Pública de Londrina.
Com formato semipresencial, o curso busca desafiar e desconstruir os estereótipos de gênero a partir da contação e recriação de histórias como ferramenta para reflexão e questionamento sobre as representações tradicionais de feminilidade e masculinidade. A coordenadora do projeto e docente do Departamento de Ciências Sociais (CLCH), Silvana Mariano, traz como exemplo a discussão sobre o imaginário social da fragilidade feminina, juntamente com a dependência da mulher a uma figura masculina que a salva e a protege.
As oficinas oferecem uma programação interativa. O primeiro encontro foi na última segunda-feira (23) e focou em atividades que promovessem o entrosamento entre as participantes. “A principal atividade consistiu na análise de três contos clássicos: Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Branca de Neve. Com base neles, discutimos estereótipos de gênero e representação feminina e pudemos abordar temas como competição entre mulheres e padrões de beleza impostos a elas”, relata a professora Silvana. A reunião contou com 15 mulheres privadas de liberdade. Ainda participam do projeto dois estudantes do curso de Ciências Sociais da UEL.
“Estas discussões proporcionam um espaço seguro para explorar e redefinir as noções de gênero, permitindo que as mulheres reconheçam e resistam às limitações impostas pelos estereótipos, promovendo assim um senso de empoderamento e autoafirmação”, explica.
As atividades são parte do projeto de extensão “Violência de gênero e empoderamento de mulheres em desproteção social”. A ação é apoiada pelo Programa Mulheres Paranaenses: empoderamento e liderança, do governo do Estado do Paraná, através da Agência Araucária.
Quebra de estigmas
De acordo com Silvana, o maior intuito da ação extensionista é contribuir para a redução dos estigmas associados às mulheres privadas de liberdade, que são invisibilizadas na sociedade brasileira. “Para essas mulheres, esperamos propiciar momentos de aprendizagem, de trocas e de entretenimento em um ambiente marcado pela perda da liberdade”.
Ao trazer esses temas para o mundo dos universitários, permite, ainda, que “essas experiências contribuam para que elas ressignifiquem o que é ser mulher e os sentidos da liberdade e do poder femininos em uma sociedade atravessada por desigualdades”, como conta a professora.
Para os estudantes extensionistas, de graduação e pós graduação, propicia uma experiência única que só poderia ser adquirida fora dos muros da Universidade. “Por meio da escuta de vivências e dos relatos pessoais, em rodas de conversa, é possível oportunizar às estudantes a compreensão de diferentes pontos de vista e percepção de como questões de gênero, raça e classe se interseccionam e configuram as realidades”, pontua Mariano.
A professora ainda destaca que a atuação do projeto possibilita o desenvolvimento de sensibilidade e justiça social, o que, por sua vez, impacta positivamente a comunidade ao fortalecer a aplicação de seus direitos.
O projeto tem nove oficinas programadas até o dia 18 de dezembro e retorna em fevereiro de 2024. As participantes do curso receberão certificados emitidos pela Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade (Proex), que poderão ser aproveitados na remissão das penas.
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.