Esforços do HU-UEL, DPU e 17ª RS viabilizam procedimento inédito pelo SUS no interior do Paraná
Esforços do HU-UEL, DPU e 17ª RS viabilizam procedimento inédito pelo SUS no interior do Paraná
A tecnologia, indicada para casos graves de epilepsia refratária, já foi incorporada ao SUS desde 2018, mas sua implementação efetiva ainda não ocorreuO Hospital Universitário da UEL realizou, em setembro, o primeiro implante da Terapia VNS, sigla em inglês para Vagus Nerve Stimulation, ou Estimulador do Nervo Vago, em um hospital público do interior do Paraná. O procedimento inédito foi viabilizado por uma articulação entre a instituição, a Defensoria Pública da União (DPU) e a 17ª Regional de Saúde do Paraná.
A tecnologia, indicada para casos graves de epilepsia refratária, já foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, mas sua implementação efetiva ainda não ocorreu. Por isso, pacientes e familiares têm recorrido a ações judiciais para obter acesso ao tratamento, um processo que, em geral, pode levar anos.
Tecnologia de neuromodulação
A Terapia VNS consiste em um pequeno gerador implantado sob a pele, conectado ao nervo vago, responsável por regular funções vitais como frequência cardíaca, digestão, pressão arterial e respiração. Os impulsos elétricos emitidos pelo dispositivo sobem pelo nervo vago até o cérebro e, lá, ajudam a reduzir a frequência e a intensidade das crises epilépticas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
O tratamento é recomendado em pacientes com severas crises de epilepsia refratária, quando a condição deixa de responder aos medicamentos. Promove a redução da frequência das crises e melhora outros resultados de pacientes relacionados a qualidade de vida. Essa tecnologia funciona como um modulador dos impulsos cerebrais numa determinada região do cérebro e já tem eficácia comprovada internacionalmente. O grande entrave no Brasil ainda é o custo elevado do equipamento.
O dispositivo custa cerca de R$ 199 mil. Graças ao trabalho articulado entre HU, DPU e a Regional de Saúde, a aquisição foi concluída em menos de quatro meses, prazo significativamente menor do que o usual em casos semelhantes. “Atuamos ativa e conjuntamente com a DPU, no cumprimento integral e ágil de todas as demandas e solicitações do juiz. Com a parceria mais estreita com o defensor, estamos conseguindo que as decisões saiam em torno de 3 a 4 meses. Em alguns casos mais sensíveis, em até 2 meses”, explicou Edna Itakussu, assessora técnica da Diretoria Clínica que, juntamente com Rosineide Gil, assessora técnica da Diretoria Superintendente, tem atuado na otimização em processos do gênero junto a DPU.

Histórico e tratamento
O paciente João (nome fictício), de 28 anos, convive desde a infância com Síndrome de Lennox–Gastaut, uma condição rara e grave que provoca crises epilépticas súbitas e frequentes, conhecidas como “drop attacks”. Mesmo sob acompanhamento contínuo no HU, João apresentava até três crises por dia, com agravamento progressivo do quadro e perda de resposta aos medicamentos.
Diante da evolução da doença, a equipe de Neurocirurgia optou pelo implante do VNS. “Escolhemos essa alternativa por ser um procedimento de pequeno porte e minimamente invasivo” dentro do contexto da nossa especialidade, explica o neurocirurgião Marcos A. Dias, responsável pelo caso.
Durante a cirurgia, o especialista realizou uma incisão na região do pescoço para fixar três espirais de fios ao redor do nervo vago e, em seguida, inseriu o gerador de impulsos elétricos em uma segunda incisão. “O estímulo mantém ativa a região cerebral que normalmente se ‘desliga’ durante as crises. Assim, conseguimos reduzir a ocorrência dos episódios súbitos”, detalha o médico.

Perspectivas e impacto no SUS
A expectativa é de que João apresente uma redução significativa na frequência e intensidade das crises nos próximos meses. Estudos internacionais indicam que o uso do VNS pode diminuir em até 50 – 70% as entradas em pronto-socorro e reduzir pela metade as internações hospitalares, mas ainda não representa a cura para a epilepsia.
Para Marcos A. Dias, além dos avanços clínicos, o procedimento reforça a capacidade do HU-UEL em oferecer tratamentos complexos e inovadores. “Nosso objetivo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos pacientes, mesmo quando a cura ainda não é uma realidade”, afirma.
Para além do avanço técnico, o procedimento reafirma o papel do HU como referência em saúde pública no Paraná e seu compromisso com a defesa dos direitos dos pacientes. Como hospital universitário e de ensino, a instituição atua de forma integrada com o SUS, garantindo acesso a terapias avançadas e fortalecendo o princípio da equidade no atendimento.