Projeto Genorp plantou a semente da inovação há quase 30 anos

Projeto Genorp plantou a semente da inovação há quase 30 anos

Projeto era a iniciativa local do Agente SoftEx Gênesis, financiado com recursos do CNPq, para desenvolvimento de softwares

Quando a UEL completa 55 anos de atividades e vislumbra um cenário de fortalecimento da inovação, é importante lembrar o início da trajetória, ainda na década de 90, época em que o país se surpreendia com as novas tecnologias digitais. Londrina está sendo contemplada esse ano com investimentos que chegam a R$ 50 milhões, provenientes da iniciativa privada e do Governo do Estado, para a estruturação de um parque tecnológico. A história mostra que a semente plantada no solo fértil do Campus Universitário foi o projeto GeNorp (Gênesis do Norte do Paraná), que começou timidamente em uma sala do Centro de Ciências e Exatas (CCE) em 1997, depois transferido para a Biblioteca Central da UEL. 

O projeto era a iniciativa local do Agente SoftEx Gênesis, financiado com recursos do CNPq para apoiar pequenos negócios no desenvolvimento de softwares. Dada a importância, a iniciativa teve grande repercussão na disseminação de empresas de tecnologia, tendo à frente a professora Cleusa Asanome, do Departamento de Computação, do CCE. Em 2000, o projeto deu origem à Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica (Intuel), que em 2008 – por força de lei – teve a estrutura incorporada à Agência de Inovação Tecnológica (Aintec).

O futuro parque tecnológico de Londrina será o primeiro a ser implantado em um Universidade paranaense e reunirá a Agência de Inovação Tecnológica (Aintec) da UEL, o Centro de Inovação Tecnológica (CIT), que está sendo construído anexo à Aintec, no Campus, e o Centro de Desenvolvimento e Inovação (batizado inicialmente de UEL-TECH), e que será edificado no prédio da antiga Equipe Atacadista (Centro Administrativo Reynaldo Ramon), na margem da PR-445. O projeto conta com investimento do Governo do Estado e da A. Yoshii Engenharia. 

Cleusa Asanome coordenou o Genorp a partir de 1997, abrindo o caminho para a inovação na UEL. Em sua última entrevista, em 2021, a professora disse que os bons frutos foram resultado de persistência em uma época em que “empreender e internet eram apenas ideias na cabeça”. (Foto: Agência UEL).

A professora Cleusa foi a responsável pelos primeiros passos que solidificaram o caminho da inovação – de um pequeno projeto para fomentar negócios de software à estruturação do primeiro Parque Tecnológico do Paraná. Cleusa faleceu em maio passado, aos 72 anos, em São Paulo, quando a Universidade iniciava a divulgação do complexo de inovação que reúne o governo e a iniciativa privada. Ela estava aposentada desde 2001, quando se mudou de Londrina.

Em sua última entrevista, concedida ao Jornal Notícia, em outubro de 2021 (edição especial dos 55 anos da UEL), Cleusa admitiu o orgulho de ter iniciado o trabalho que resultou na Aintec e na sólida trajetória da inovação na UEL. Na época, ela comentou que havia cumprido um ciclo e considerava os bons frutos como resultado de persistência em uma época em que “empreender e internet eram apenas ideias na cabeça”.

Trajetória

Um dos que participou de perto dessa história, e ajudou a plantar a semente, foi o professor Ivan Lupiano Dias, aposentado do Departamento de Física e ex-Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UEL. Ivan foi um dos defensores e apoiadores da Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina (Adetec), e autor do livro “Contribuições para o Desenvolvimento Tecnológico de Londrina”, lançado em 2011.

Ivan dedica um capítulo do livro para resgatar a implantação da Intuel, desde as primeiras atividades acadêmicas do Genorp. Segundo ele, na época a palavra inovação soava como exótica, sendo que o projeto foi iniciado na UEL relacionado à atividade de extensão. Em 1999, o Genorp foi transferido para a então Coordenadoria de Pós-graduação (CPG), atual Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação.

Segundo Ivan, a atividade estava limitada pelo espaço físico, ocupando uma sala na Biblioteca Central. O próprio Ivan procurou o então reitor, Jackson Proença Testa, e o diretor do Instituto Euwaldo Lodi, Ubiratan de Lara, que chegou a doar na época R$ 30 mil. A ideia era locar um espaço externo para transferir o projeto para lá.

O recurso acabou utilizado posteriormente para a aquisição de móveis no prédio construído e cedido pelo empresário Atsushi Yoshii, fundador do Grupo A. Yoshii Engenharia, no Campus Universitário. Segundo relata Ivan, o governo estadual cedeu os equipamentos para iniciar a trajetória que anos mais tarde se transformou na Agência de Inovação (Aintec). “Foi uma articulação entre a academia, a iniciativa privada e o estado – uma verdadeira hélice tríplice”, destaca ele.

O professor aposentado do Departamento de Ciência da Computação, ex-diretor do Centro de Ciência Exatas (CCE), Dirceu Moreira Guazi, confirma que o Genorp foi o embrião da política de inovação na UEL. Ele destaca que as atividades começaram dentro do Departamento, em 1997, após a criação do curso de Ciência da Computação, a partir do Departamento de Matemática Aplicada. A graduação foi criada em 1991 e reconhecida quatro anos depois.

Dirceu lembra que o Genorp foi uma atividade bastante requisitada pelos estudantes. Foi nessa época que surgiram também as primeiras Empresas Juniores da Universidade. Paralelamente ao projeto, Londrina debatia o desenvolvimento tecnológico tendo como atores professores da UEL como Ivan Lupiano e Tadeu Felismino (do Departamento de Comunicação). Dirceu destaca ainda a importância da boa relação da professora Cleusa Asanome com o empresário Atsushi Yoshii, na época presidente do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon).

Em maio passado, durante lançamento da pedra fundamental do novo Centro de Inovação, que está sendo edificado ao lado da Aintec, no Campus, o empresário enalteceu a iniciativa e o trabalho pioneiro da professora Cleusa. Atsushi conhecia a professora antes de fundar sua construtora, quando ainda trabalhava no setor de obras da Prefeitura de Apucarana e Cleusa era desenhista e apoiava os projetos desenvolvidos pelo município. Segundo o empresário, ao conhecer o projeto Genorp, ele se sensibilizou e decidiu apoiar com a construção e doação do prédio que abrigaria as atividades do projeto, dando início à Intuel.

Lembrança

A professora aposentada do Departamento de Computação, Angelica Camargo Brunetto, conservou uma amizade longa com a professora Cleusa, mesmo depois de as duas se aposentarem na Universidade. Ela se lembra que chegou a ir a Brasília, em uma reunião do CNPq, no lançamento nacional do projeto Gênesis. De volta a Londrina, considerou que a iniciativa a distanciaria dos projetos de pesquisa que estava envolvida.

A professora Cleusa acabou aceitando a coordenação do projeto e revelando, posteriormente, uma veia empreendedora. Segundo Angelica, os alunos, a grande maioria estudantes de graduação de Ciências da Computação, recebiam bolsas para empreender projetos de inovação. Uma das exigências do CNPq, lembra ela, era de que os alunos tivessem a disciplina de Empreendedorismo. “O projeto foi um celeiro muito fértil abrigando empresas de inovação”, define.

A filha de Cleusa, Daniela Asanome Zanini, foi uma das últimas a ter contato com a professora até seu internamento em maio deste ano. Desde que se aposentou da UEL, em 2011, ela se mudou para Curitiba. Em novembro do ano passado, já bem debilitada, ela se transferiu para São Paulo, onde a filha passou a ampará-la individualmente. Daniela lembra que a mãe teve seu quadro de saúde agravado por crises de diabetes e de pneumonia.

Criada em Londrina, Daniela se lembra em detalhes do empenho e das jornadas da mãe à frente do projeto Genorp e depois da Intuel. Ela lembrou que o pai, Kazuoshige Asanome, professor do Departamento de Economia da UEL também atuou de forma importante. Por um tempo ele respondeu pelo Financeiro do projeto. As jornadas de trabalho eram sempre longas.

Informada sobre os novos cenários de inovação da Universidade, Daniela se mostrou surpresa e grata. “Sempre lembro da minha mãe e meu pai trabalhando”, recorda. E por essas contingências inexplicáveis, os dois que tanto dividiram atribuições, deixaram a vida quase que ao mesmo tempo. A professora Cleusa morreu em São Paulo em 10 de maio. No dia seguinte, a família foi surpreendida com a morte do professor Kazuoshige, no interior do Paraná.

As fotos que ilustram essa matéria pertencem ao arquivo da antiga Assessoria de Relações Universitárias (ARU), atual COM/UEL, depositadas junto à Divisão de Arquivo Permanente do SAUEL.

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