Acervos contam história da UEL, do fotoclubismo e da luta pela autonomia universitária

Acervos contam história da UEL, do fotoclubismo e da luta pela autonomia universitária

Documentos devem passar por processo de limpeza e catalogação, além de serem incluídos no catálogo online do setor para consulta.

Recebidos pelo Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (NDPH), três acervos recém-chegados estarão à disposição das comunidades interna e externa da UEL para consulta. A UEL recebeu oficialmente os acervos da Coordenadoria de Comunicação (COM); os catálogos de salões de bienais de fotografia, do Foto Clube de Londrina; e o acervo do docente do Departamento de História Cristiano Gustavo Biazzo Simon. As doações, realizadas nesta terça (25) em cerimônia no NDPH, vêm num momento importante para a instituição, que completou 51 anos em outubro.

De acordo com o diretor do Núcleo e professor do Departamento de História, José Miguel Arias Neto, os acervos deverão passar por um processo de limpeza e catalogação, sendo incluídos no catálogo online do setor. “Em um nível mais sofisticado de catalogação, entramos na descrição arquivística, que é a descrição documental do que ele tem, quais são as datas, vários níveis de descrição. Mas, a ideia é colocarmos já online para os pesquisadores terem ideia do que temos aqui. O interesse é que as pessoas venham até o setor para pesquisar”, diz.

O NDPH conta com equipamentos, como um scanner planetário fabricado na Alemanha, além de uma Leitora Digitalizadora de Microfilmes. Ao mesmo tempo, o setor conta com um backup do material que já foi digitalizado – cerca de 2% do total diante do enorme volume – em nuvem. “A principal barreira são equipamentos, funcionários para o volume. Há cerca de oito anos tínhamos seis funcionários, chegamos a ter oito, depois estabilizou em seis. Mas foi diminuindo e hoje temos ‘um e meio’, e os três estagiários. Eram cinco e diminuiu para três. É o pessoal que toca isso aqui”, explicou.

Acervo COM/UEL

O acervo da Coordenadoria de Comunicação da UEL é formado por edições do jornal “UEL Notícias” que remontam aos primeiros anos de constituição da Universidade, entre 1973 e 1974. Também foram doadas as primeiras 28 edições do jornal “O Perobal”, publicadas entre 1977 e 1981.

Batizado em função da espécie nativa que é característica do campus da UEL, o nome retorna à cena em agosto de 2020, com o surgimento do novo portal oficial de notícias da UEL. “Vai ser possível ver e pesquisar os diversos temas que a universidade debateu ao longo de todos estes anos, pensando que a UEL já foi uma fundação em que se pagava para estudar, e depois se transformou em universidade pública. Além de ser um material de pesquisa sobre o legado de todos os reitores, começando por Ascêncio Garcia Lopes até os mais recentes. É um registro histórico, e é interessante ver a evolução, as mudanças na diagramação”, avalia a coordenadora de setor, Beatriz Botelho.

Percurso

Parte do acervo doado, o periódico produzido por jornalistas e docentes do Departamento de Comunicação passou a se chamar “Boletim Notícia” em 1982, permanecendo com este nome até abril de 1987.

Editor do periódico, o jornalista José de Arimathéia Custódio passou a integrar a equipe da então Assessoria de Relações Universitárias (ARU) em janeiro de 1993. À época, lembra, o jornal contava com edição da jornalista Maria Helena Cavazotti Viana (in memorian) e o setor era coordenado pelo professor Ossamu Nonaka. 

Em quase 30 anos de “casa”, Custódio lembra de inúmeros momentos marcantes. Dentre eles, a decisão que colocou um ponto final nos embates jurídicos e garantiu autonomia universitária à instituição. “Vimos a universidade crescendo e se destacando nacionalmente, mesmo com todas as dificuldades, e tudo isso fica registrado. Neste acervo, ficam a memória, as vivências e as experiências. No momento em que este material vai para o NDPH, ele se torna fonte para pesquisadores. É um documento oficial que traz uma realidade dos fatos em linguagem jornalística. Estão lá nomes, datas e informações importantes da memória da UEL”, diz. 

O jornalista Pedro Livoratti lembra que a cobertura institucional na UEL passou por uma importante reformulação em 2007, quando o jornal passou a noticiar projetos acadêmicos, “sobretudo com foco na pesquisa”, diz. “A Agência UEL fazia um papel mais generalista. As informações relacionadas aos eventos e workshops vieram para a Agência UEL e o Jornal ficou bem mais livre, assumindo essa característica que tem até hoje. Ele passa a ser um jornal mais denso, colaborando na divulgação estratégica de ciência”, conta. 

O acervo ainda conta com as edições do jornal Terra Vermelha – editado e publicado entre novembro de 1999 e dezembro de 2003 – e da Revista Eureka, publicada em 1995. 

O periódico foi batizado em função da espécie nativa que é característica do campus da UEL (Foto: José Miguel Arias).

Coberturas jornalísticas 

Denominado entre os jornalistas como “clipping”, o conjunto de reportagens produzidas por veículos de imprensa sobre os fatos e eventos categorizados ao longo dos anos também foi repassado ao NDPH. Neste acervo, estão reportagens produzidas principalmente pelo jornal Folha de Londrina, além de textos de veículos que fazem parte do passado ou que deixaram de publicar edições impressas, casos do Jornal de Londrina (JL) e da Gazeta do Povo, respectivamente.

Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (NDPH) guarda edições impressas do jornal Folha de Londrina (Agência UEL)

“É um material que foi guardado justamente para sabermos o que estava sendo falado a respeito da UEL naquele momento. São materiais sobre a reconstrução do Cine Teatro Ouro Verde, a greve de 2015, acredito que todas as edições do Filo (Festival Internacional de Londrina), do Fiml (Festival Internacional de Música de Londrina) e do Vestibular”, explica a coordenadora Beatriz Botelho.

Após serem digitalizados, estes materiais passarão a compor a hemeroteca digital destes veículos de comunicação, ao lado das coleções já categorizadas no NDPH de veículos como O Estado de São Paulo (em microfilme) e Jornal do Comércio (Londrina), além de revistas como a O Cruzeiro, Isto É, Manchete, Veja e Visão. 

Coleção de documentos

O NDPH também vai receber uma coleção composta por artigos de jornais e revistas, além da bibliografia utilizada pelo docente do Departamento de História da UEL, Cristiano Gustavo Biazzo Simon, em sua tese de doutorado, defendida em 2003 na Universidade de São Paulo (USP). Com o título “O debate sobre a Universidade Pública Brasileira – 1968/88: Autonomia e Avaliação”, Simon aprofunda, no trabalho, a reflexão sobre o binômio autonomia universitária X avaliação da universidade para dialogar com os múltiplos projetos de universidade existentes no período de transição entre a Reforma do Ensino Superior (1968) e a Promulgação da Carta Constitucional (1988). 

De acordo com o professor, a coleção conta com cerca de 200 artigos de revistas e jornais da época que se dedicaram ao debate, além de quase 60 livros. Dentre os documentos estão artigos publicados em jornais, como a Folha de S.Paulo, e periódicos de sindicatos e associações docentes, como o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). 

“Todas as revistas de educação, a revista do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Novos Estudos, e da Andes, das associações de funcionários públicos, de sindicatos, todos estes debates permearam o tecido social à época, porque chegaram ao cidadão comum quando começou a ser mensurada a produção dos professores”, avalia. 

Catálogos de salões de bienais de fotografia, do Foto Clube de Londrina, em posse do NDPH (Agência UEL)
 “O debate sobre a Universidade Pública Brasileira – 1968/88: Autonomia e Avaliação”

Como exemplo “doméstico”, Simon cita a descontinuidade da Fundação Carlos Chagas do processo de elaboração das provas do Vestibular da UEL, há cerca de 20 anos. “Porque ela (a Fundação) tinha um esquema de vestibulares que tinham provas pré-elaboradas que as elites tinham acesso e a possibilidade de pagar esses cursinhos caros. E aí, reivindicamos as provas de acesso e estas provas passaram a ter outra característica. Por exemplo, a nossa prova hoje é um orgulho o que o Vestibular da UEL se tornou, holística, a partir de um texto você tira questões de várias áreas. Isso possibilitou que não entrasse só o pessoal da elite. À medida que ela possibilitou que outros estratos sociais adentrassem, essa elite se ressentiu disso”, avalia. 

Foto Clube de Londrina

Na cerimônia da noite desta terça, o NDPH também recebeu catálogos de salões de bienais de fotografia, do Foto Clube de Londrina. De acordo com Arias Neto, o setor deverá receber outros catálogos da Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto). “O Edson (Holtz, professor aposentado do Curso de História), está trabalhando para receber todo este material aqui e vamos acabar tendo um fundo aberto do fotoclubismo brasileiro. Isso veio da preocupação de diretores do Foto Clube de Londrina com a preservação da memória do fotoclubismo brasileiro”, diz.

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